CRÍTICA DOS MEIOS

* Hermínio Prates

A imagem está desgastada mas vá lá: um marciano que despenque em terras mineiras será capaz de sentir o clima político apenas lendo os nossos jornais? Não, definitivamente não. Quem será capaz de fazê-lo mesmo com a leitura atenta do noticiário e até mesmo dos editoriais? Não há opinião que não seja de encomenda, o embate de idéias não escapa à influência do balcão de anúncios. Óbvio, ninguém quer uma empresa capenga que edite um jornal apenas para externar opções políticas, seja de esquerda ou de direita. Ou de centro, como sofismam os espertalhões. O empreendimento precisa ser viável para subsistir, mas não pode ser venal. Num momento em que se fala tanto em ética, como se essa tenra planta tivesse surgido apenas agora e não na sempre cultuada Grécia, não há como sentir um mínimo de paixão política.

E não era para ser assim, mesmo se sabendo que os jornais mineiros nasceram por obra e graça de grupos políticos desejosos de ter apenas mais uma arma para fazer aliados e massacrar rivais do que servir à sociedade. Quem duvidar que confira como surgiram os jornais entre as nossas montanhas. O Diário de Minas (nasceu oposicionista, mas foi vendido ao PRM) e, em todas as fases, se manteve atrelado aos cofres do governo, como se fosse apenas um apêndice do Minas Gerais. E, bem depois, serviu até para acalentar os sonhos presidenciais do então governador Magalhães Pinto, que dele se desfez logo após o golpe de 64. Triste sina do DM, usado por alguns aventureiros como gazua até ser melancolicamente extinto.

História parecida com o Jornal de Minas, que se banqueteou com as migalhas do palácio, renasceu como O Diário (período de engajamento religioso) e, após retomar o nome de origem, o JM penou nas mãos de uns e de outros até publicar a última edição quando já não era lido e muito menos respeitado por ninguém.

Os Associados? Ora, todos sabem que desde o início os jornais de Chateaubriand só empinaram duas bandeiras: a do lucro e em defesa das estripulias do patrão. Engajamento político? Pois sim!

Não, não estou pretendendo reescrever a história do jornalismo mineiro, apenas ouso afirmar que houve mais discussão literária do que política. Aos donos dos jornais interessava a pregação (e a subserviência) política; aos que faziam o jornal o bom era discutir e publicar textos profundos e versos bem medidos. E a efervescência – literária, apenas literária - ainda aumentou após a fase modernista com o rompimento da camisa de força da métrica. Faltou o debate político com a paixão idêntica à dos literatos, tese que aguarda a sanção dos pesquisadores. Ousadia? Não, apenas constatação. Basta conferir a participação de Drummond, Alphonsus de Guimaraens, Pedro Nava, Cyro dos Anjos, Emílio Moura, Eduardo Frieiro. Idem a geração seguinte, que enriqueceu as letras, mas politicamente se limitou quase ao folclore: Autran Dourado, Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos...

Infelizmente, também em Minas, o poder da redação sempre se curvou ao poder da caneta, da caneta governamental. Sim, há a opinião pública, mas essa já foi desprezada até por José da Silva Lisboa, visconde de Cairu. “Opinião pública? Não conheço essa senhora.”

E Carlota Joaquina – menina depois mulher imposta ao indeciso João VI - foi grande em duas coisas: no ódio ao Brasil e na ânsia de ser coroada rainha da América (área sob influência espanhola); e mesmo ela garganteou que “a vontade da multidão pode ser habilmente dirigida, pois o povo não tem outras convicções do que a do seu soberano”.

Será que foi apenas com esse objetivo que surgiram a Tribuna de Minas (do Adhemar de Barros), Correio do Dia (arma da UDN para impedir a chegada de JK ao Catete) e o Correio de Minas (do PSD, para viabilizar o retorno dele à presidência)?

Pouca coisa sei, mas uma delas é que dá uma preguiça danada ler os jornais mineiros. Hoje não temos a sustentação cultural do início e nem a fogosa militância dos anos 60. A reportagem é um bem comportado exercício de comodismo e mesmice; não há aprofundamento nem coragem. Pior ainda. Durante um papo na sede do Sindicato, Augusto Nunes foi enfático ao apontar o óbvio: a meninada não sabe escrever, tropeça nas concordâncias e as frases trombam com a coerência.

Há futuro? Difícil de acreditar diante do tatibitate e do self service da internet.

* Jornalista

herminioprates@ig.com.br

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