EUA iniciam por Honduras fortalecimento da presença militar na América Central


                                                                                                                            U.S. Army South/Flickr
                                              
Militares norte-americanos e hondurenhos participam de cerimônia em Tegucigalpa. Presença militar dos EUA aumentou após golpe

Para o ano fiscal de 2014, os Estados Unidos preveem uma ligeira diminuição nos fundos destinados para a “luta contra as drogas” no México e na Colômbia, em troca de um aumento para a CARSI (Iniciativa Regional de Segurança para a América Central, por sua sigla em inglês), para a qual o Departamento de Estado solicitou 162 milhões de dólares, ou seja, 26 milhões a mais do que o orçamento de 2012. Apesar de não ser fácil saber exatamente que quantidade de recursos vai chegar a Honduras através de diferentes vias e programas, é lógico pensar que esse país vai gozar de uma atenção privilegiada.

Recentemente, o Congresso Nacional de Honduras aprovou a criação de mil novas praças para soldados do exército e para a formação do corpo de elite Tigres (Tropa de Inteligência e Grupos de Resposta Especial). “Querem fazer crescer o poderio militar à custa da segurança pública”, declarou à imprensa local o vice-presidente do congresso, Marvin Ponce.

Em 2011, o Pentágono incrementou seu gasto militar do país em 71% em relação ao ano anterior. Mesmo levando em conta a grave crise de Estado, política, institucional e social que se abateu sobre Honduras desde o golpe de Estado, as repetidas denúncias de corrupção, violação de direitos humanos e de conluio com o crime organizado dirigidas à Polícia Nacional, e o fracasso do processo de depuração policial, os EUA seguem enviando fundos para continuar com seus programas.

Em declarações a Opera Mundi, a diretora do Programa das Américas do CPI (Centro para a Política Internacional), Laura Carlsen, diz que os EUA “querem ter mais controle sobre as estratégias de segurança interna dos países centro-americanos, sobretudo agora que vários governos progressistas ou de esquerda se instalaram na América Latina”.

“Nesse sentido” – continuou – “os EUA buscam fortalecer sua presença militar para enfrentar o que veem como uma ameaça contra a sua tradicional hegemonia na região”, disse.
Segundo o jornalista e comunicador social hondurenho Félix Molina, já há sinais visíveis que mostram a progressividade de tal intervenção no cenário hondurenho.

“Começou com a assinatura de um intercâmbio de inteligência e de experiências entre o regime de Porfirio Lobo e da Colômbia e depois veio a autorização para criar novas bases militares dos EUA em La Mosquitia e no Caribe. Assim mesmo, estamos assistindo à chegada de altos funcionários do Departamento de Estado e à intervenção direta no processo de avaliação do Ministério Público, de depuração da policia e da criação de várias leis”, assegura o jornalista.

Entre as leis questionadas, Molina citou, entre outras, a Lei Antiterrorista, a Lei de Intervenção de Comunicações Privadas, a Lei de Inteligências Nacional e a Lei de Extradição para Hondurenhos. Em março passado, o subsecretário-adjunto de Estados do Escritório Antinarcóticos dos EUA, William Brownfied, anunciou a aprovação de um financiamento de US$ 16,3 milhões para criar uma força-tarefa policial para combater os crimes mais graves.

"Duplo discurso"

Manter Honduras nas primeiras páginas dos jornais e dos noticiários como o país mais violento do mundo e como um Estado falido seria, então, parte da estratégia norte-americana para justificar uma possível intervenção factual. “Os EUA mantêm um duplo discurso para garantir seus objetivos e prioridades estratégicas.

Estamos vendo um incremento de sua presença e de suas bases militares na região, assim como de seus projetos sociais e de cooperação, que ocultam seus verdadeiros interesses”, explica a ex-diretora de Assuntos Internos da Policia Nacional, Maria Luisa Borjas.

Um protagonismo silencioso e sutil em sua aparência, mas muito eficaz na prática, que de acordo com Molina busca fortalecer institucionalmente o aparato de segurança de Honduras, mas que na realidade “mira fortalecer o Exército, isto é, o aparato que monopoliza a violência no Estado hondurenho, e em garantir seu controle hegemônico.”

Recentemente, 21 senadores norte-americanos enviaram uma carta ao Secretário de Estado, John Kerry, assinalando como um “fracasso decepcionante” o processo de depuração. Assim mesmo, exigiram uma “prestação de contas” dos fundos desembolsados pelos EUA e destinados ao Exército e à polícia hondurenha. “Devemos nos assegurar de que os fundos norte-americanos não estejam permitindo violações desenfreadas dos direitos humanos, incluindo por membros das forças armadas de segurança de Honduras que atuam amparadas pela impunidade”, diz a carta. (Com Opera Mundi)

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