Argélia como novo "berço da humanidade"?

                                                                           
Ferramenta de pedra usada por ancestrais dos seres humanos para separar os ossos da carne de animais

Pesquisadores encontram ferramentas de pedra e ossos de animais abatidos por hominídeos há cerca de 2,4 milhões de anos. Descoberta antecipa em 600 mil anos a presença de ancestrais humanos no norte da África.

   
Os seres humanos podem ter começado a usar ferramentas de pedra para abater animais muito antes – e numa parte diferente do mundo – que se pensava até então. Uma equipe de pesquisadores encontrou na Argélia ferramentas de pedra e ossos de animais decepados datados em até 2,4 milhões de anos.

A descoberta coloca em questão o título de "berço da humanidade" dado à África Oriental, segundo a pesquisa publicada na revista científica Science nesta sexta-feira (30/11).

O estudo relatou a descoberta de cerca de 250 ferramentas primitivas e 296 ossos de animais no sítio arqueológico de Ain Boucherit, em Setif, cerca de 300 quilômetros a leste da capital Argel. A descoberta foi feita por uma equipe de pesquisadores de Espanha, Austrália, França e Argélia.

As ferramentas se assemelham àquelas encontradas até então majoritariamente na África Oriental. As ferramentas de pedras foram encontradas perto de muitos ossos fossilizados com marcas de corte, indicando que o local era usado para abater animais. Os ossos são de animais ancestrais de crocodilos, elefantes e hipopótamos.

"A África Oriental é amplamente considerada como o berço do uso de ferramentas de pedra pelos nossos ancestrais hominídeos – os primeiros exemplos datam de cerca de 2,6 milhões de anos", diz o relatório na revista Science.

"As novas descobertas fazem de Ain Boucherit o local mais antigo do norte da África com evidências in situ do uso de carne por meio de ferramentas de pedra, e sugerem que outros locais semelhantes podem ser encontrados fora do leste africano", prossegue o relatório.

Os ossos pareciam ter sido raspados e cortados por ferramentas chamadas de oldowan, termo usado para se referir às primeiras ferramentas líticas encontradas na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, e usadas pelo ser humano primitivo. Embora a tecnologia possa ter viajado da África Oriental, a equipe de pesquisa considera também a possibilidade de que possa ter surgido separadamente.

As descobertas foram feitas em duas camadas geológicas – uma com 2,4 milhões de anos e a segunda com 1,9 milhão de anos – e sugerem que os ancestrais dos humanos modernos estavam presentes no norte da África pelo menos 600 mil anos antes do que os cientistas pensavam. Até agora, as ferramentas mais antigas descobertas no norte da África tinham 1,8 milhão de anos.

Não foram encontrados restos humanos. Portanto, os cientistas não sabem que espécie de hominídeos viveu no local, ou se um ancestral do homo sapiens (que surgiu centenas de milhares de anos mais tarde) usou essas ferramentas.

"Agora que Ain Boucherit possui a arqueologia de Oldowan, estimada em 2,4 milhões de anos, o norte da África e o Saara podem ser um repositório de mais materiais arqueológicos", diz o relatório. "Com base no potencial de Ain Boucherit e nas bacias sedimentares adjacentes, sugerimos que os fósseis de hominídeos e os artefatos de Oldowan, tão antigos quanto os documentados na África Oriental, também possam ser descobertos no norte africano."

Geralmente minerais vulcânicos são usados para datar locais e descobertas na África Oriental, mas estes não existem na Argélia. Desta forma, os pesquisadores usaram outros métodos, incluindo um que detecta pistas na rocha sobre mudanças conhecidas ao longo do tempo no campo magnético da Terra, para determinar a idade geológica do local.

                                               


 Origem das esculturas africanas

As esculturas Nok estão entre as descobertas arqueológicas mais importantes da África subsaariana. As peças de terracota com mais de dois mil anos são os primeiros testemunhos da escultura no continente. Até o dia 23 de fevereiro, alguns desses exemplares ficarão expostos no museu Liebieghaus em Frankfurt.

(Com a DW)

Comentários