Menina de 10 anos faz poema para os bombeiros de Brumadinho e teme barragem na cidade onde vive

                                                                  
"Tanta lama, tanta destruição, no meio de tanto verde só ficou poluição. Tristeza é o que todos têm sentido, mas com a ajuda dos bombeiros, tudo vem sendo resolvido."


Amanda Rossi (*)

Os versos acima foram escritos pela menina Helena Silva, de 10 anos, em homenagem aos profissionais que há mais de vinte dias trabalham na busca por vítimas do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão. Essa semana, cerca de 200 bombeiros de Minas Gerais e outros quatro Estados ainda seguem atuando nas operações de Brumadinho.

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Helena, que vive em Congonhas (MG), a cerca de duas horas do local onde ocorreu a tragédia, acompanhou tudo pela televisão. "Eu vi várias reportagens sobre os bombeiros que estão ajudando. Eu vi também quando eles voltaram do trabalho cansados, cheios de lama", contou para a BBC News Brasil a aluna da quinta série.

Na semana passada, sua professora pediu um poema como tarefa de casa. Então, "eu quis fazer sobre os bombeiros de Brumadinho", conta. Enquanto a mãe preparava o almoço, Helena se sentou na mesa da cozinha e começou a escrever. Se tinha dificuldade com a rima, pedia ajuda à mãe. Poucas horas depois, o poema estava pronto.

O título é Os heróis de Brumadinho. "Dia e noite eles trabalham procurando vítimas, ajudando famílias que esperam por notícias. Ser bombeiro não deve ser fácil, precisa de força e muito trabalho", continuam os versos de Helena, que adora Português e Geografia e aprendeu a ler aos quatro anos.
      

                                                                
                        Imagem do poema que Helena escreveu para os bombeiros


"Essa tragédia foi muito triste, várias pessoas perderam a vida, algumas famílias estão muito tristes. E o trabalho dos bombeiros é muito importante. Eles são heróis porque estão ajudando várias famílias. Ajudaram pessoas presas na lama, ajudaram animais também", fala Helena.

Na manhã de sexta-feira, a poesia chegou até o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que resolveu retribuir a homenagem e gravou um vídeo para Helena:

"Ei, Helena, tudo bem? Aqui é o Tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiro de Minas Gerais. A gente recebeu o seu poema e ficou muito feliz com sua manifestação de carinho e de apoio. Para mostrar que isso tem sido importante para a gente, tem nos dado força para seguir em frente e fazer o nosso trabalho, a gente resolveu recitar o seu poema,"

Em seguida, cada uma das seis estrofes do poema de Helena foi recitada por um bombeiro diferente - um gesto que emocionou a menina mineira.

O medo da barragem em Congonhas

A família de Helena se mudou para Congonhas em dezembro do ano passado.

Após a tragédia de Brumadinho, a população de Congonhas está apreensiva, já que há na cidade uma enorme barragem, chamada Casa de Pedra. É uma das maiores barragens construídas em área urbana na América Latina, com cinco vezes o volume que irrompeu em Brumadinho.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Minas Gerais, a estrutura é classificada como Classe 6, a mais alta em categoria de risco e de dano potencial associados. Porém, o sistema de construção da Casa de Pedra não é a montante, como em Brumadinho, considerado o mais perigoso.

"Eu estou gostando bastante daqui (de Congonhas). Mas ainda estou com bastante medo da barragem romper, como a de Brumadinho. Estou bastante preocupada", fala Helena.

"Desde o acontecido, a Helena acorda à noite com medo. Uma noite ela veio na minha cama dizendo que sonhou que a barragem de Congonhas tinha estourado", conta a mãe, Ludymilla Silva, de 32 anos.

"Teve uma reportagem que mostrou as pessoas que moram no pé da barragem (de Congonhas). Elas estão com bastante medo, têm filho pequeno. Se estourar, vai pegar aquela parte toda", continua a menina.

"Mas a gente está com bastante esperança que vão conseguir secar barragem rápido e ela não vai se romper", comenta Helena.

"Achei bonitinho os versos e rimas que ela fez. Ela tem uma sensibilidade enorme e ficou emocionada com os bombeiros", diz a mãe, Ludymilla, orgulhosa.

Helena conta que nunca encontrou um bombeiro de verdade. Mas, se visse um, "falaria que são verdadeiros heróis, estão ajudando bastante. Que continuem assim, salvando várias vidas e fazendo muita bondade".

A oportunidade desse encontro deve surgir em breve.

"Helena, muito obrigada! E espero que, quando tudo isso acabar, a gente se encontre no batalhão de Bombeiros para uma visita, vamos te receber com muito carinho e felicidade", disse o tenente Pedro Aihara.

(*) Da BBC News Brasil em São Paulo

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