Professora Anita Leocadia Prestes defende a criação de Memorial da Casa da Morte

                                                                                                                    Aline Rickly / G1
                         Anita Prestes visitou a Casa da Morte, em Petrópolis, RJ, na tarde desta terça-feira


Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário esteve no local na tarde desta terça-feira (11) onde falou para estudantes sobre um dos principais centros clandestinos de torturas durante a ditadura militar.

Por Aline Rickly, G1 — Petrópolis


Aos 82 anos, a historiadora Anita Prestes visitou pela primeira vez a Casa da Morte em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, na tarde desta terça-feira (11).

A visita foi realizada em apoio ao movimento para a criação de um memorial no imóvel, que é conhecido por ter abrigado um dos principais centros clandestinos de torturas no período da ditadura militar.

Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário, Anita falou para alunos da rede pública de ensino sobre a casa, que fica no bairro Caxambu.

"Aqui nesta casa, eles [os militares] tinham o seguinte objetivo: ou a pessoa - que geralmente era comunista ou de esquerda, de uma maneira geral - resolvia, aceitava colaborar com eles, com a polícia e com o Exército para pegar mais gente ou, se não aceitava, era morte certa. A maioria saiu daqui morta e de forma bárbara", disse Anita.

A única sobrevivente da Casa da Morte foi Inês Etienne Romeu. A militante, que denunciou a existência do imóvel e as torturas que sofreu no local, morreu em 2015 em sua casa, na cidade de Niterói.

Amigos de Anita também foram levados para a casa na época, como o militante David Capistrano, que era do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e que a historiadora conhecia desde criança.

"As pessoas sumiam sem deixar rastro. Imaginávamos que tinham sido assassinadas, mas só confirmamos a partir do depoimento do pastor Claudio Guerra", disse referindo-se ao ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que aponta os nomes de militantes políticos que estiveram na casa no livro "Memórias de uma Guerra Suja".

Para Anita, é essencial que os fatos ocorridos nesse período sejam preservados para que não se repitam.

"Que a casa seja transformada em lugar de memória, em que se possa fazer exposições permanentes e para que a população possa visitar e tomar conhecimento dessa página trágica da história do Brasil. Que as pessoas possam saber disso. Que as novas gerações conheçam o que aconteceu porque muita gente ainda não sabe", afirma a historiadora.

Os alunos que participaram do encontro ficaram surpresos, como a empregada doméstica Solange Mello, de 46 anos, que está cursando o 1º ano do ensino médio. "Estou muito feliz em agregar esse conhecimento. Eu não sabia que essa casa existia", disse.

José Carlos Pires, de 60 anos, é pintor e está terminando o Ensino Médio. Ele contou que já conhecia essa parte da história, mas nunca tinha ido até o local. Morador da área rural do Caxambu, ele concorda que o imóvel deve ser preservado: "Para todo mundo lembrar o que foi a ditadura militar e para que o que ocorreu naquela época não aconteça mais", disse.


Após a visita, Anita Prestes participou de um evento no Centro de Defesa e Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH), onde falou sobre a história das lutas populares em Petrópolis.

Campanha de arrecadação
                                                                                                   Aline Rickly / G1
                  Casa da Morte de Petrópolis, RJ, foi tombada em dezembro de 2018

                                                               
Um grupo de instituições se uniu e lançou uma campanha para arrecadar R$ 1,5 milhão e desapropriar e transformar a Casa da Morte em um museu. A campanha do Grupo Pró-Memorial foi lançada pelo CDDH.

A campanha está sendo divulgada nas redes sociais e qualquer valor pode ser doado.

A Casa da Morte foi tombada pela Prefeitura em dezembro de 2018. No início deste ano, ela foi transformada em imóvel de utilidade pública para fins de desapropriação.

(Com G1/Prestes a Ressurgir)

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