AS FARC são libertar todos os reféns e parar sequestros

A guerrilha colombiana das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia-Exécrcito Popular) anunciou que libertará 10 reféns, quatro a mais do que havia se comprometido a deixar em liberdade em dezembro, e afirmou que renuncia ao sequestro de civis, segundo um comunicado divulgado neste domingo (26) em seu site.
"Queremos comunicar nossa decisão de somar à anunciada libertação dos seis prisioneiros de guerra a dos quatro restantes em nosso poder", indicou o comunicado, assinado pelo Secretariado (comando central) das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
O maior e mais antigo grupo guerrilheiro do país, com mais de 47 anos de existência e cerca de 9.000 combatentes, anunciou também que não sequestrará mais civis como forma de financiar economicamente suas atividades. "Muito se falou a respeito dos sequestros de pessoas, homens ou mulheres civis, que com fins financeiros nós das Farc efetuamos para apoiar nossa luta. (...) Anunciamos também a partir desta data o fim da prática deles em nossa atuação revolucionária", ressaltou o documento. "É hora de começar a esclarecer quem e com que propósitos sequestram hoje na Colômbia", acrescentou.
No comunicado, as Farc aceitaram também que o governo brasileiro forneça a logística para a libertação dos dez reféns, como já ocorreu em ocasiões anteriores.
Eis o comunicado completo:
"DECLARAÇÃO PÚBLICA
Sobre Prisioneiros e Retenções
A cada vez que as FARC-EP falamos de paz, de soluções políticas à confrontação, da necessidade de conversar para achar uma saída civilizada aos graves problemas sociais e políticos que originam o conflito armado na Colômbia, levanta-se irado o coro dos amantes da guerra para desqualificar nossos propósitos de reconciliação. De imediato são-nos atribuídas as mais perversas intenções, só para insistir em que o único que cabe conosco é o extermínio. Em geral, os mencionados incendiários nunca vão à guerra, nem permitem que seus filhos vão.
São quase 48 anos na mesma. Cada tentativa ensaiada tem resultado em um subseguinte fortalecimento nosso, em frente ao qual volta a crescer a investida e a se reiniciar o círculo. O fortalecimento militar das FARC de hoje levanta-se em frente dos olhos de quem proclamou o fim do fim e incita-os a proclamarem a necessidade de acrescentar o terror e a violência. Por nossa parte, consideramos que não cabem mais negativas à possibilidade de iniciarmos conversas.
Por isso queremos comunicar nossa decisão de somar à anunciada libertação dos seis prisioneiros de guerra, a dos quatro restantes em nosso poder. Ao agradecer a disposição generosa do governo que preside Dilma Rousseff e que aceitamos sem vacilação, queremos manifestar nossos sentimentos de admiração para com os familiares dos soldados e polícias em nosso poder. Jamais perderam a fé em que os seus recobrariam a liberdade, ainda no meio do desprezo e da indiferença dos diferentes governos e comandos militares e policiais.
Em atenção a eles, queremos solicitar à senhora Marleny Orjuela, essa incansável e valente mulher dirigente de ASFAMIPAZ, que vá a receber na data acordada. A tal efeito, anunciamos ao grupo de mulheres do continente que trabalham ao lado de Colombianas e Colombianos pela Paz, que estamos em disposição de concretizar o que for necessário para agilizar este propósito. A Colômbia inteira e a comunidade internacional serão testemunhas da vontade demonstrada pelo governo de Juan Manuel Santos, que já frustrou um feliz final em novembro passado.
Muito se tem falado a respeito das retenções de pessoas, homens ou mulheres da população civil, que com fins financeiros efetuamos as FARC a objeto de sustentar nossa luta. Com a mesma vontade indicada acima, anunciamos também que a partir da data proscrevemos a prática delas em nossa atuação revolucionária. A parte pertinente da lei 002 expedida por nosso Pleno de Estado Maior do ano 2000 fica portanto derrogada. É hora de que se comece a esclarecer quem e com que propósitos sequestra hoje na Colômbia.
Sérios obstáculos interpõem-se à concretização de uma paz negociada em nosso país. A arrogante decisão governamental de incrementar a despesa militar, o pé de força e as operações, indica o prolongamento indefinido da guerra. Ela trará consigo mais morte e destruição, mais feridas, mais prisioneiros de guerra de ambas partes, mais civis encarcerados injustamente. E a necessidade de recorrer a outras formas de financiamento ou pressão política por parte nossa. É hora de que o regime pense seriamente em uma saída diferente, que comece ao menos por um acordo de regularização da confrontação e de libertação de prisioneiros políticos.
Desejamos finalmente expressar nossa satisfação pelos passos que se vêm dando para a conformação da comissão internacional que verificará as denúncias sobre as condições subumanas de reclusão e o desconhecimento dos direitos humanos e de defesa jurídica, que enfrentam os prisioneiros de guerra, os prisioneiros de consciência e os presos sociais nos cárceres do país. Esperamos que o governo colombiano não tema e não obstrua este legítimo labor humanitário propulsado pela comissão de mulheres do continente.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 26 de fevereiro de 2012."

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