APERTANDO O CINTO

Brasileiro diminui apetite pelo consumo e economia patina
                                                         
O brasileiro apertou o cinto e começou 2013 gastando bem menos do que terminou 2012. Um comportamento novo e que atingiu em cheio a economia local, impactando de maneira decisiva o crescimento do país nos últimos meses de janeiro, fevereiro e março, período tido como decepcionante por empresários, analistas nacionais e internacionais.

Após o apelidado "pibinho" de 2012, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre voltou a tirar o sono do mercado, com avanço de apenas 0,6% frente ao mesmo período do ano anterior. O número ficou abaixo das projeções do governo (que esperava 1%), dos bancos e investidores, que giravam em torno de 0,9%, mas dentro das estimativas pessimistas dos economistas, que não apostavam em nada abaixo de 0,55% ou acima dos 1,20%. 

Como resultado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reagiu com conservadorismo. O órgão intensificou o ritmo de aumento da taxa básica de juros, a Selic, elevando em 0,5 ponto porcentual, o que leva o índice para 8% ao ano – notadamente, um dos mais altos do mundo.

Se a coisa continuar mais ou menos nessa toada até o final do ano, a projeção é de que o Brasil cresça tímidos 2,4%. O resultado seria abaixo ao registado em 2011, quando tivemos um avanço de 2,7%. Mas, certamente, superior ao que conseguimos no ano passado, quando o Brasil acumulou alta de módicos 0,9% - desempenho que abalou sensivelmente a confiança interna e externa na política econômica da presidente Dilma.

E por falar em governo federal, pode-se dizer que o anúncio desse novo desempenho brasileiro colabora para engrossar o caldo da pressão que recai sobre a presidente, que segue com a batata assando em fogo brando, porém contínuo.

Atordoada, a equipe econômica de Dilma já fez todo o esforço possível para tentar acelerar o crescimento e recolocar o Brasil "como um dos membros mais dinâmicos do clube do BRICS”, como escreveu o Financial Times sobre a situação brasileira.

O país anunciou uma série de medidas recentemente, como a redução de impostos no setor elétrico ou o incentivo ao crédito dos bancos públicos para tentar aumentar o gasto dos consumidores, este último, o motor que fez girar as engrenagens da economia na década passada. Mas, até aqui, foi tudo em vão. Eis que os investimentos impulsionados pelos especialistas de Brasília não alavancaram o setor produtivo e, agora, o brasileiro decidiu conter seu apetite pelas compras. Deu no que deu: o consumo das famílias estagnou em 0,1% em comparação ao trimestre anterior, segundo o relatório do governo.

Mas, afinal de contas, porque o brasileiro está gastando menos? A resposta é simples e envolve a soma entre inflação alta e os bancos temerosos com o endividamento, diminuindo sensivelmente suas linhas de financiamento para o público - empresas e consumidores finais.
 A escalada da inflação está literalmente comendo parcela significativa da massa salarial do brasileiro em 2013. Nem é preciso estar muito atento aos preços para perceber que, nos últimos meses, subiu o preço de praticamente tudo no país: alimentos, roupas e produtos industrializados. Mais recentemente, o dólar voltou a subir (fechou na quarta-feira, dia 29, cotado em R$ 2,11, o maior nível desde 4 de dezembro), o que impacta diretamente nos importados, e os sistemas de transporte coletivos de São Paulo e Rio de Janeiro, as duas principais cidades brasileiras, foram reajustados.

Acrescente a isso o nível do endividamento das famílias. Em maio, 64,3% das casas tinham algum tipo de dívida, entre cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNCC). Em abril, essa fatia de famílias endividadas era de 62,9%. Em maio de 2012, de 55,9% – quase 8 pontos percentuais abaixo da atual.

O percentual de quem está com contas em atraso também cresceu (de 21,5% em abril, para 21,6% em maio), saltando de 6,7% para 7,5% o montante dos que assumem não terem condições de pagar seus débitos.

Mas isso tudo, como acontece no dinâmico universo da economia, pode mudar rapidamente. Ajudaria muito se os bilhões de reais anunciados em investimentos em infraestrutura, tão importantes para o Brasil, começassem a fluir com mais eficiência até seu destino, fazendo girar uma agenda positiva – e lucrativa – que interessa ao governo, ao mercado e, principalmente, ao sempre esperançoso brasileiro comum.(Com a Voz da Rússia)

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