Comunicado das FARC na morte de Gabriel García Márquez

                                                                  
                   
                     Colômbia - Diário Liberdade - [Tradução do Diário Liberdade


"Gabriel José de la Concordia García Márquez, o "Gabo", Prêmio Nobel de literatura e escritor insigne da Colômbia, tomou hoje a senda da eternidade aos 87 anos de uma vida prolífica em criatividade, que deixou para o mundo uma obra maravilhosa, que com realismo mágico reflete a presença destas terras de Nossa América, que amou e às quais dedicou seu talento como narrador e cronista das suas desventuras, esperanças e sonhos.

Com profundo respeito, a Delegação de Paz das FARC-EP, em Havana, abraça-se em sentimentos de pesar com seus familiares, parentes, amigos e a pátria toda que se enche de luto pela partida do maior escritor de nossa história. Vão de maneira especial nossas condolências para sua esposa, dona Mercedes Barcha, e seus filhos Rodrigo e Gonzalo.

A partida deste gigante das letras tem congregado em um só feixe de identidade, solidariedade e luto a Colômbia, e isso traz a nossas mentes a certeza de que em cada claro aberto na selva de nossa sobrevivência agreste, seguirá surgindo a perseverança que precisamos para continuar para uma era de reconciliação, com os nossos José Arcadios e Úrsulas que se repetem sem cessar entre coisas de adivinhos, entre esconjuros e presságios, morrendo e revivendo como Melquiades, enquanto ideamos a existência, nos submergindo muitas vezes na peste da insônia, desmemoriados de nosso passado, mas voltando de algum modo também como o cigano da alquimia, desde a morte, consumindo a beberagem milagrosa que devolve as lembranças que recuperam a confiança no amanhã.

Com a despedida deste homem magnífico, reiteramos hoje, que como Aureliano Buendía sonhamos e faremos a paz, um país onde podermos, tranquilos e tranquilas, fabricar peixinhos de ouro sem acabar com o nosso meio ambiente; com o empreendimento de Aureliano Triste, mas sem aqueles que sufocam greves a tiros; relendo nosso devir nos pergaminhos do Gabo, mas agora sim com a experiência de ter suportado os piores furacões da vida, sem que nos possa arrasar o vento, sem que nos possa apagar mais da memória humana, nem na recorrência das tragédias, porque embora estejamos condenados a cem anos de solidão, faremos com nossas lutas e nossa infinita capacidade de amar e perdoar, que exista uma segunda oportunidade sobre a terra.

Com certeza Gabo, conseguiremos, com o nosso povo, que Macondo não seja já um pavoroso redemoinho de pó e escombros. E que esse delicado vento de luz que é a paz, embale o nosso presente, enquanto tomas o caminho de Remédios a Bela. Com certeza Gabo, repetiremos em teu nome, com compromisso inquebrantável, que "ainda não é demasiado tarde para construir uma utopia que nos permita compartilhar a terra".
                                                                    

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