Índio, da nova Intersindical: “Temos é de superar o capitalismo e a exploração de classe”


Central foi fundada para responder a necessidades que outras sindicais brasileiras não respondem
                                                           
                      
             Índio durante o congresso de fundação da Intersindical. Foto: Nelson Ezídio

No último dia 30 de março foi fundada oficialmente, na cidade de São Paulo, a mais nova central sindical brasileira, a Intersindical – Central da Classe Trabalhadora.

O congresso de fundação da central, que ocorreu entre os dias 28 e 30 de março, contou com a participação de centenas de trabalhadoras/os e diversas lideranças do movimento sindical e social brasileiro. Fizeram intervenções no evento representantes da Pastoral Operária, da Auditória Cidadã da Dívida, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, do Movimento Terra Livre, da Consulta Popular, do Polo Comunista Luis Carlos Prestes, dos partidos políticos PCB/PSOL e da fração pública da central governista CUT, a “A CUT pode mais”.

Em entrevista ao Diário Liberdade, o Secretário Geral da Intersindical, Edson Carneiro “Índio”, eleito no congresso, nos contou um pouco mais sobre o processo da fundação da central e os planos de luta da Intersindical para os dois próximos anos.

Além de Secretário Geral e membro da nova direção da Intersindical, Índio é professor, bancário e militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Diário Liberdade (DL): O que diferencia a Intersindical das outras centrais?

Edson Carneiro “Índio”: Independência política, democracia, classismo, entre outros, são os pontos que nos diferenciam. Apesar da existência das várias centrais sindicais hoje no Brasil, em nossa opinião nenhuma delas consegue responder a essas necessidades. Por isso fundamos a INTERSINDICAL - Central da Classe Trabalhadora.

DL: Atualmente, no Brasil tem se praticado quase que exclusivamente um sindicalismo econômico, tendo abandonado o sindicalismo político. A Intersindical defende enfrentar este quadro?

Índio: Para nós a luta sindical deve ter um duplo caráter. Defender melhores condições de vida e de trabalho, na luta por emprego, salário e direitos. Mas nossa tarefa é articular a luta econômica a uma luta política pela transformação social. Para a INTERSINDICAL, não basta obter conquistas imediatas, que podem ser retiradas a qualquer tempo. Temos é de superar o capitalismo e a exploração de classe. Por isso, devemos assumir com dedicação as reivindicações imediatas sem deixar de, continuamente, combiná-las ao objetivo estratégico da construção de uma sociedade socialista.

DL: Quais são as principais metas que esta primeira executiva, tendo o senhor como secretário geral, pretende executar?

Índio: São muitas tarefas, mas o principal é avançar na organização e na capacidade de fortalecer as lutas sociais. Nosso próximo congresso será daqui dois anos. Este ano, teremos Copa do Mundo, eleições gerais e muitas lutas. Então teremos de combinar as tarefas para a consolidação da nossa central sem cair na autoconstrução que não ajuda no fortalecimento das lutas sociais. Os desafios são enormes, mas nossa disposição não é menor.

DL: A Intersindical será uma central baseada na centralidade do trabalho ou irá ao encontro de outras lutas populares?

Índio: A Intersindical não tem dúvidas da centralidade do trabalho na luta contra o capital. Por isso, nossa central é composta apenas pelos trabalhadores e trabalhadoras. Por isso nossa central não aglutina setores policlassistas, como é o caso do movimento estudantil, que valorizamos e respeitamos, porém deve ter sua própria organização. Mas além do movimento sindical, a Intersindical é composta por movimentos de trabalhadores que lutam por terra, moradia, direitos sociais etc.

Além disso, é preciso ter política de organização para os setores que estão no trabalho informal, precarizado, sem representação sindical e política. Essa não é tarefa fácil, mas é uma exigência da realidade imposta pela reestruturação produtiva e pelas novas formas de organização, gestão e contratação da força de trabalho no Brasil. O garoto que vende chiclete no trem, os “mal” chamados de estagiários, o pessoal do telemarketing ou aqueles que emitem nota fiscal de serviços quando deveriam ter um contrato formal de trabalho, são “peças” da engrenagem que garante lucros para os capitalistas. Eles também precisam de organização sindical.

DL: Sua direção hoje é composta apenas por sindicalistas ou abre espaço para lideranças de outros movimentos da sociedade civil, que diretamente não tem relação com o mundo do trabalho?

Índio: Temos, sim, na direção companheiros que militam nos movimentos populares, na luta por moradia, por terra. Um dos desafios do próximo período é aumentar a participação destes setores na central.
                                                          
                  Assembleia de fundação da Intersindical. Foto: Nelson Ezídio

DL: Por que vocês optaram por fundar uma nova central e não ingressar na CSP-Conlutas, única central, entre as maiores, independente do governo federal?

Índio: Desde 2006, quando saímos da CUT, buscamos dar nossa contribuição para construir uma central a mais unitária possível. Foi assim que, naquele mesmo ano, criamos a Intersindical não como uma central, mas como instrumento de luta para aglutinar os setores que buscavam uma central combativa, com independência política e democracia. Em 2008, após amplo debate entre os setores que participavam da Intersindical, houve uma cisão, pois alguns companheiros se negavam a participar de uma central com a Conlutas. Nós, ao contrário, aceitamos o desafio e entre 2008 até o final de 2011, demos a batalha para construir uma central mais ampla, mais unitária, mais plural.

Foi por acreditar e defender a unidade que participamos, em junho de 2010, do chamado Conclat, em Santos. Mas o desfecho daquele congresso evidenciou que o setor majoritário do Conlutas nunca quis unidade real. Unidade, para eles, só serve se for sob o hegemonismo sectário do seu partido [PSTU]. E para nós, particularmente num momento de fragmentação profunda como esse que vivemos, unidade real pressupõe democracia, construção coletiva e fundamentalmente, independência e autonomia também dos partidos políticos.

DL: Qual a diferença principal da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora com a CSP-Conlutas?

Índio: São várias as diferenças. Democracia é uma delas. Compartilhamento das tarefas é outra. Também não somos correia de transmissão de nenhum partido político. Construímos nossa direção no diálogo, sem ultimatos, valorizando a participação de todos os setores. Tem, também, a diferença no caráter da CSP-Conlutas, que admite a participação para além dos setores da classe trabalhadora. Isso tem importância para garantir que praticamente todos os militantes do partido que dirige a Conlutas sejam delegados nos congressos e eventos daquela central. Além disso, eles fazem questão de colocar na central movimento estudantil e movimentos contra opressões para que os sindicatos sejam plataforma (material, política, financeira) para as políticas do PSTU no movimento. Foi por isso que aquele partido fundou, não apenas uma central. Fundou, também, uma entidade estudantil, um movimento de mulheres, um movimento antirracista, um movimento LGBT e até agiu para dividir aliados para criar seu próprio movimento de moradia. Assim, dividem as frentes de luta apenas pela autoconstrução partidária, infelizmente.

DL: Qual a opinião de vocês sobre o imposto sindical?

Índio: Nossa opinião é que o imposto sindical ajuda a sustentar um sindicalismo pelego, distante dos trabalhadores, dependente do Estado. Foi para embolsar o dinheiro do imposto sindical que surgiram milhares de sindicatos no último período. Na enorme maioria das vezes, os sindicatos que se utilizam do imposto não desenvolvem política de sindicalização, nem querem a participação dos trabalhadores. Por isso, o imposto sindical deve acabar. As entidades devem ser sustentadas pelas contribuições decididas pelos próprios trabalhadores, democraticamente. É por isso que a Intersindical não fará uso desse dinheiro.

DL: Quais as principais categorias da classe trabalhadora que estão atualmente organizadas na Intersindical?

Índio: Apesar de ainda minoritária, nossa central aglutina trabalhadores de distintas categorias e ramos, das mais diversas regiões do país. Do setor público, privado, da cidade e do campo. Professores, químicos, bancários, servidores públicos das diversas instâncias (municipais, estaduais, federais, autarquias), trabalhadores rurais.

DL: No ato de fundação os dirigentes afirmaram que a central deva ser independente dos patrões, governo e partidos políticos. Mas e o PSOL?

Índio: O fato de ter militantes de um partido em um sindicato, não significa, necessariamente, transformá-lo em correia de transmissão do partido. E o PSOL respeita isso. Nós não atuamos na central com a política definida nos fóruns do partido. O PSOL não tem um comitê central nem outro organismo que determina o que eu vou fazer na Intersindical.

Basta ver que existem militantes do PSOL na Intersindical, na CSP-Conlutas e em outras centrais. Será que isso acontece com a militância do PSTU? Não.

O PSOL e outras organizações partidárias que defendem os interesses dos trabalhadores são nossas aliadas na luta social. Mas uma coisa é ter partidos aliados. Outra bem diferente é a central – ou os sindicatos - ser dependente do partido.

DL: No ato de fundação, vocês também negaram apoio a alguma candidatura de imediato. O objetivo é apresentar uma plataforma de reivindicações paras os candidatos. Caso o candidato comprometa com as propostas terá o apoio da central?

Índio: Vamos apresentar para as diversas candidaturas e para o debate na sociedade uma plataforma com as medidas que julgamos necessárias para mudar a realidade brasileira. Mas a INTERSINDICAL, enquanto entidade, não apoiará nenhuma candidatura. (Com o Diário Liberdade)


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