Oito perguntas e respostas para entender as eleições no Chile


                                                                   

Candidatos que já apresentaram jornal, racha na esquerda, terceira tentativa de Piñera: o que esta eleição tem de diferente das outras?

O ex-presidente Sebastián Piñera e o senador governista Alejandro Guillier irão disputar o segundo turno das eleições presidenciais chilenas que ocorrem neste domingo (17/12). Embora os candidatos mais bem posicionados no primeiro turno sejam figuras já esperadas – uma vez que pertencem aos partidos que têm dominado as eleições durante as últimas duas décadas –, algumas mudanças de cenário aconteceram neste processo eleitoral.

As eleições presidenciais deste ano foram marcadas pela ruptura de uma aliança histórica, por mudanças na legislação eleitoral e pelo surgimento de uma nova frente de esquerda.

Opera Mundi preparou 8 perguntas e respostas para ajudar a entender o que vem ocorrendo nas eleições chilenas. Veja:

Quem é Sebastián Piñera?

Miguel Juan Sebastián Piñera é economista, empresário e político com uma já extensa carreira. Foi senador entre 1990 e 1998 pelo partido Renovación Nacional, de centro-direita.

Em 2005, foi candidato à presidência pelo mesmo partido, tendo chegado ao segundo turno em uma disputa contra a socialista Michelle Bachelet, que venceu a eleição. Em 2010, Piñera se candidatou para uma outra tentativa, tendo novamente chegado ao segundo turno, desta vez contra o ex-presidente Eduardo Frei, candidato pela coligação de centro-esquerda Concertación.

Piñera venceu a eleição com 51,8% dos votos, contra 48,1% obtidos por Frei, colocando fim a um período de hegemonia política do Concertación, que desde 1990 – época em que o país conquistou sua abertura democrática – venceu todas as eleições presidenciais.

Agora Piñera busca sua reeleição, desta vez pela coligação Chile Vamos. O último levantamento do Cadem mostrava que Piñera era amplo favorito para vencer o primeiro turno, tendo 44% das intenções de voto. No entanto, o resultado que o levou para o segundo mostrou um número menor: Piñera foi o melhor colocado, mas com 36,64% dos votos.

                                                                      Patricio Alarcón/Flickr CC
                                 Segundo turno será entre Sebastián Piñera e Alejandro Guillier

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Quem é Alejandro Guillier?

O sociólogo e jornalista Alejandro Guillier, embora tenha se lançado na política há pouco tempo – sua primeira candidatura aconteceu em 2013 –, já é um velho conhecido dos chilenos. Guillier possui uma extensa carreira a frente de diversos meios de comunicação do país.

Começou na TV em 1991, tendo passado pela Televisão Nacional do Chile (TNV) e Chilevisión. Mais recentemente, em 2011, assumiu a condução do jornal Hora 20, até decidir iniciar sua carreira política.

Guillier abandonou o jornalismo para se candidatar ao Senado do Chile nas eleições parlamentares de 2013, com apoio do Partido Radical Social-democrata (PRSD), pela II Circunscrição de Antofagasta, região que inclui as comunas de Calama, María Elene, Ollagüe, San Pedro de Atacama, Tocopilla, Antofagasta, Mejillones, Serra Gorda e Talta.

Ele venceu as eleições com uma ampla vantagem em relação aos demais candidatos (obteve 37,06% dos votos, contra 23,55% do segundo colocado, Manuel Vermelhas Molina). Guillier assumiu o cargo no Senado em março de 2014.

Como Guillier chegou ao segundo turno?

Após 20 anos no poder, o Concertación começou a apresentar sinais de desgaste, devido ao crescimento de disputas no interior da coligação. O enfraquecimento acabou tendo peso nas eleições de 2010, quando a maioria do eleitorado escolheu Sebastián Piñera como o novo presidente.

Após Piñera interromper a sequência de vitórias do Concertación, novos partidos se juntaram à coalizão e, em março de 2013, o Concertación foi rebatizado de “Nueva Mayoría”. Passaram a fazer parte da aliança o Partido Comunista, Esquerda Cidadã e Movimento Amplo Social.

Um fato importante para a consolidação de Guillier como candidato foi a ruptura de uma aliança histórica: em maio deste ano, a Democracia Cristã (DC) decidiu deixar a coligação para lançar individualmente a candidatura de Carolina Goic.

A coligação de centro-esquerda, sem a presença da DC, se reuniu em torno da candidatura de Alejandro Guillier, que desde 2016 vinha crescendo dentro do Nueva Mayoría. Além disso, o Nueva Mayoria foi novamente rebatizada, se tornando agora o La Fuerza de la Mayoria. A atual presidente do país, Michelle Bachelet, também apoiou a candidatura de Guillier.

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais mostrou uma disputa pelo segundo lugar mais apertada do que o previsto: Guillier foi para o segundo turno com 22% dos votos, contra 20% da terceira colocada, a candidata pela Frente Ampla Beatriz Sánchez.

Qual é a nova força política chilena?

Um dos acontecimentos que mais marcou a eleição presidencial deste ano foi o surgimento de uma terceira força política no Chile: a Frente Ampla. A coligação, formada por 13 partidos políticos, se inspira em sua versão uruguaia e afirma querer ser uma alternativa de esquerda aos atores tradicionais da política no país.

A coalizão começou com a Revolução Democrática (RD), fundada pelo deputado Giorgio Jackson, e com a Esquerda Autônoma, do também deputado Gabriel Boric. Os dois foram líderes do movimento estudantil que tomou as ruas do Chile durante o governo Piñera.

A coligação lançou neste ano a candidatura da jornalista Beatriz Sánchez, que obteve um resultado expressivo no primeiro turno das eleições presidenciais. Sánchez alcançou um resultado muito maior do que o previsto pelas pesquisas (que apontavam apenas 8% das intenções), tendo recebido 20,27% dos votos, ficando atrás de Guillier por apenas 2 pontos percentuais.

Como ficaram os votos da ultradireita no Chile?

Outra surpresa das eleições presidenciais foi a ascensão ultraconservadora. O advogado e deputado José Antonio Kast, conhecido por defender o legado do ditador chileno Augusto Pinochet, recebeu 523 mil votos, o que representa 7,93% do total. O candidato ficou na quarta colocação.

Como ficou a correlação de forças para o segundo turno?

Uma pesquisa de intenção de votos para o segundo turno aponta empate técnico entre Piñera e Guillier.

O saldo do primeiro turno levanta questões sobre como se desenrolará o resultado do segundo. É possível que boa parte dos eleitores que votaram em Sánchez direcionem seus votos, agora, para Guillier, já que circulam em espectros políticos semelhantes.

No começo do mês, Sánchez afirmou que iria apoiar Guillier de maneira “pessoal". No entanto, a Frente Ampla em si não declarou apoio aberto ao candidato. A Democracia Cristã, partido que lançou a Candidatura de Carolina Goic, expressou apoio ao governista.

Chilenos que vivem no exterior podem votar?

Uma lei aprovada em agosto de 2016 permite que chilenos que vivem no exterior possam pela primeira vez expressar seu voto em seu país de residência. Isso inclui, claro, os chilenos que moram no Brasil e vale para o segundo turno das eleições presidenciais.

Em todo o mundo, 39 mil cidadãos transferiram seu domicílio eleitoral e puderam votar em 62 países já no primeiro turno das eleições presidenciais, ocorridas em novembro deste ano. No Brasil, 1.597 chilenos estão aptos a votar.

O que mudou nas regras eleitorais?

Algumas mudanças no processo eleitoral chileno foram inseridas no atual governo de Michelle Bachelet. Em 2014, foi aprovado um acordo com parlamentares independentes que colocou fim ao processo binominal, vigente desde 1990 e uma herança da ditadura de Pinochet (1973-1990).

O sistema eleitoral binominal estabelece a eleição de dois cargos parlamentares por distrito ou circunscrição. Este sistema foi substituído pelo processo proporcional, que contempla a integração de mais distritos e circunscrições e dá a oportunidades a que partidos minoritários terem mais chances de participação política.

A medida estabeleceu o aumento no número de deputados de 120 para 155 e o número de senadores aumentou de 38 para 50. Além disso, fixou um esquema de cotas para que ao menos 40% dos postulantes ao Congresso fossem mulheres.

(Com Opera Mundi)

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