Contribuição ao debate sobre o futuro da Casa do Jornalista

Eduardo Campos quer viabilizar nova Casa do Jornalista
Uma entidade com cabeça, corpo e membros, e não apenas um braço

Depois de muitos anos desativada ou negligenciada, a Casa do Jornalista de Minas volta a ocupar lugar de destaque na pauta da categoria, graças ao debate introduzido por sua diretoria, visando à rediscussão de seu papel e a construção de uma nova relação com a direção do Sindicato.

No centro do debate situa-se a manutenção da total subordinação da entidade ao Sindicato ou a afirmação de uma autonomia que permita que se transforme em uma organização dinâmica, moderna, sintonizada com a realidade contemporânea dos jornalistas mineiros e da sociedade civil de nosso Estado, especialmente de sua capital.

Criada em 1965, fruto de um acordo entre a então direção do Sindicato, o governador Magalhães Pinto e a Assembleia Legislativa, a Casa, enquanto espaço físico, tornou-se, a partir da década de 70, referência para os movimentos sociais e as lutas democráticas de Belo Horizonte. Enquanto entidade, contudo, limitou-se, via de regra, a desenvolver ações pontuais – ainda que importantes - voltadas para a categoria.

Seus dirigentes atuais propuseram e viabilizaram algumas mudanças em seu estatuto, de forma a que a Casa viesse a cumprir papel mais amplo. Assim, seus objetivos permanentes passaram a incorporar “a integração da categoria e de seus laços com a sociedade civil mineira”.

Tais mudanças, contudo, foram bastante limitadas, pela inexistência de consenso com a direção do SJPMG, que encara a entidade como mero “braço de apoio” ao Sindicato (Pauta nº 171, pág. 2).

Reduzir o papel da Casa a um “braço de apoio” significa impedi-la de cumprir, na plenitude e com eficácia, as funções expressas em seu estatuto, comprometendo, até mesmo, o potencial que ela tem no sentido de fortalecer o próprio Sindicato.

A diretoria do Sindicato demonstra, dessa forma, encarar a Casa como mero instrumento a serviço da reprodução das concepções políticas e ideológicas das eventuais – e muitas vezes precárias – maiorias que se formam para dirigir nossa entidade corporativa. Afinal, um braço não fala, não anda e muito menos pensa. Executa, apenas, os comandos que recebe do cérebro.

Constitui grave erro entender o Sindicato como cérebro e a Casa como braço. Afinal, são duas entidades que não podem se confundir, dada a diferença de sua natureza e do papel que cada uma tem a cumprir. Ao Sindicato cabe, antes de mais nada, defender os interesses corporativos da categoria, ainda que inserindo-os em contexto social mais amplo. À Casa, organização de cunho essencialmente cultural, compete, precipuamente, como sustenta seu estatuto, contribuir para a integração da categoria e estreitar seus laços com a sociedade.

A autonomia da Casa, qualificada como “descabida” pela diretoria do SJPMG, é condição essencial para que ela cumpra tais objetivos e construa sua identidade. O corolário desse processo será, inexoravelmente, o fortalecimento do Sindicato.

A autonomia que defendemos significa não apenas assegurar à Casa sua existência e funcionamento pleno, mas também afirmar seu caráter democrático e plural.

A Casa do Jornalista não pode ser uma simples “correia de transmissão” do pensamento circunstancialmente dominante na direção de nossa entidade sindical, que, por sua própria natureza, tende a ser mais homogênea e ideologicamente mais coesa.

A pluralidade é condição essencial para que a Casa seja uma entidade viva, dinâmica e representativa. Ela não deve ser vista como instrumento de difusão de uma ou outra concepção ideológica, mas como espaço de reflexão das diferentes visões de mundo presentes na categoria e na sociedade.

Esse é o caminho mais adequado e eficaz apara que a Casa cumpra seu objetivo de contribuir “para a construção da paz, da liberdade, da democracia, da justiça social e a promoção da liberdade de manifestação do pensamento e da comunicação, bem como de criação e de outras formas de expressão cultural” (art. 2º de seu estatuto). Deve, ao mesmo tempo, dar atenção à sua dimensão de facilitadora da formação e da reciclagem profissional dos jornalistas.

A Casa do Jornalista, enfim, deve ser vista não como um braço, mas como uma pessoa, do ponto de vista não apenas jurídico, mas também político. Como pessoa, deve ter cabeça, corpo e membros. Mais que isso: trabalhando lado a lado com o Sindicato, a Casa deve construir sua própria identidade, característica inerente a todos aqueles que, sujeitos de direitos e obrigações, possuem personalidade.

Eduardo Nunes Campos – Presidente da Casa do Jornalista de Minas

Maio de 2011

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