Quilombo das Guerreiras luta contra desocupação de imóvel para construção de torres

                                                                     
                                                                                                                                                           Reprodução da internet
O empresário estadunidense Donald Trump Jr. terá que esperar pelo menos 120 dias para pensar em iniciar o projeto das Trump Towers Rio de Janeiro. É que as cerca de 100 famílias, entre elas as do movimento batizado de "Quilombo das Guerreiras”, que, há sete anos, ocupa um prédio da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (CDURP), do governo federal, onde ficará parte do empreendimento milionário, no Centro da cidade, conseguiram na Justiça o indeferimento da ordem de reintegração de posse. 

Em sua decisão, a juíza Maria Lúcia Obino Niederauer, diante dos documentos apresentados pela defesa, teria ficado impressionada com o nível de organização do movimento, e considerou que não seria possível decidir pela reintegração de posse sem antes avaliar outras possibilidades para garantir moradia às famílias.

De acordo com comunicado difundido pelo blog Pela Moradia (pelamoradia.wordpress.com), a ocupação se mantém através do sistema de autogestão. Nela não existem líderes, todas as famílias são responsáveis por definir através de reuniões periódicas seus próprios rumos políticos. São elas também que realizam todas as tarefas de limpeza, manutenção e segurança do prédio – "algo que a companhia "dona” do imóvel foi incapaz de fazer nas últimas décadas”, afirma o o movimento em comunicado.

Além disso, realizam atividades como reforço escolar para crianças e adolescentes, estudo para concursos, educação de jovens e adultos/alfabetização, recreação infantil, capoeira, oficinas de DST-Aids, horta urbana agroecológica, que foi destruída pelas obras do projeto "Porto Maravilha”, passeios, exibição de filmes, colônias de férias, oficinas de produção audiovisual, dentre outras. Tudo isso acontece no espaço mantido pelas famílias, que inclui biblioteca, sala de reuniões, sala de festas, cozinha coletiva e espaço destinado a atividades de produção e geração de renda. A ocupação é dividida em duas partes: o prédio da frente, de cinco andares, e um galpão nos fundos, dividido em pequenas casas.

Entrevistada pela Agência Brasil, a dona de casa Joana Cardoso Batista, de 35 anos, mora com o marido há dois meses no galpão. Ela morava no Caju e foi para o Quilombo das Guerreiras por falta de opção. "Eu estava pagando aluguel, R$ 300, mas meu marido ficou desempregado, aí minha cunhada falou que tinha esse galpão, que o pessoal estava vindo, então a gente veio. Aqui está dando mosquito da dengue, tem esse lixo, de noite tem muito rato. A gente está aqui porque precisa”.

As famílias contam com o apoio de uma equipe de advogadas, composta pelo Centro de Assessoria Popular Mariana Criola e pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro. Juntamente com toda a documentação, elas também argumentaram à Justiça o "desprezo” da Companhia Docas do Rio de Janeiro com o imóvel, que teria ficado abandonado por cerca de 20 anos antes das famílias ocuparem. "Está claro, portanto, que o atual interesse de Docas no imóvel é movido exclusivamente pelo interesse financeiro, mantido na base da especulação com terrenos públicos”, observa o comunicado.

O movimento convoca os moradores e moradoras e demais apoiadores e apoiadoras a ficarem atentos aos passos que serão dados nos próximos meses, "pois nada garante que uma alternativa viável, digna e coletiva às famílias seja conquistadaantesde uma eventual reintegração de posse”.

No último dia 10 deste mês, a presidenta Dilma Rousseff autorizou que a Prefeitura do Rio desapropriasse 14 imóveis da União na Zona Portuária. Segundo o decreto presidencial, as desapropriações servirão para a "implantação do projeto de revitalização e urbanização da zona portuária" e têm um prazo para serem feitas: dois anos e meio, prorrogáveis por mais dois anos e meio. (Com a Adital)

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