A “esquerda” que diz sim aos patrões!

                                                                   
     

Luis Fernandes (*)

No último dia 7-05, a Câmara dos Deputados cometeu mais um ataque aos trabalhadores brasileiros, aprovando a MP 665, que restringe o acesso ao seguro desemprego, abono salarial e seguro-defeso. Segundo o DIEESE, mais de 4,8 milhões de trabalhadores deverão ser afetados imediatamente por essa medida, impacto que tende a aumentar caso a MP 664 e o PL 4.330, que generaliza a terceirização também sejam aprovados.

Tais medidas fazem parte de uma agenda econômica pró grande capital para ajustar a economia nacional diante dos efeitos da crise do capitalismo. O príncipe do planalto, o “chicago boy” Joaquim Levy, é o grande representante desta política e consegue unificar até o aparente antagonismo entre o governo do PT e a oposição oportunista de direita. Governo e congresso querem fazer com que os trabalhadores paguem a conta desta crise, que é dos ricos, enquanto os bancos continuam batendo recordes históricos de lucro.

O último teatro de máscaras nos debates e votação da MP 665 foi revelador. As bancadas do “Partido dos Trabalhadores” (PT) e a do “Partido Comunista do Brasil” (PCdoB) votaram, em peso, a favor de mais um ataque à classe trabalhadora, que dizem representar. Mas estas organizações já não fizeram isso antes? Sim, mas agora a “cara de pau” é maior. 

O PT, no dia anterior, através do ex-presidente Lula, em seu programa em rede nacional, discursou aos trabalhadores afirmando que defenderia os seus direitos contra os ajustes. Dilma, com o intuito de angariar alguns votos no segundo turno das eleições, chegando a declarar que os direitos trabalhistas continuariam intactos no seu governo.

Diversos parlamentares vinculados a correntes do PT com origem sindical na CUT adotaram a mesma postura de votar favoravelmente à MP. Pura demagogia! O reboquismo e a conciliação de classe do PCdoB são flagrantes. Em resolução da última reunião do Comitê Central deste partido publicada no dia 29 de março, o mesmo declarara que, dentro de sua proposição em defesa de uma Frente Ampla pela democracia, daria um voto de confiança ao governo sobre os ajustes, mesmo alegando discordar dos limites ao seguro desemprego. 

Atitudes assim expressam rendições políticas extremas, quando vindas de partidos de origem popular, como o PT e PCdoB. Estas organizações foram arrastadas pela correnteza de lama dos acordos de gabinete e ultrapassaram em muito o possível ponto de retorno à luta. Movimentações como essas confundem, deseducam, desmobilizam e revoltam a classe trabalhadora.

A prática é o critério da verdade. A degenerada disputa institucional entre governistas X oposição oportunista de direita só serve para preservar a atual agenda conservadora e antipopular que se instalou no país. A classe trabalhadora não pode ser jogada para escanteio neste cenário. É urgente a sua intervenção autônoma em defesa dos seus direitos e conquistas. 

Para o PCB, não há dúvida: é hora de redobrarmos nossos esforços para construirmos unitariamente com os que lutam uma representativa greve geral contra os ajustes e a cassação de direitos dos trabalhadores.

(*)Luis Fernandes é professor e membro do Comitê Central do PCB

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