"Olga" é ficção, mas ajudou a despertar interesse de milhões por realidade, diz professor da Uerj

                                                                       
Filme foi exibido na UFF/Rio das Ostras durante atividade de formação de professores, organizada pelo Sepe, Aduff e movimento estudantil, para celebrar o Centenário da Revolução Russa 


Anita Prestes (foto), Winnie Freitas e Marcos Cesar no debate após a exibição do filme "Olga", atividade do I Seminário de Formação Política do Sepe Rio das Ostras, realizado no campus da UFF deste município, no dia 23/08/2017.

Estudantes e professores da rede municipal de Rio das Ostras estiveram no campus da UFF naquela cidade para participar, conjuntamente com a comunidade universitária, do seminário de formação do Sepe - Sindicato dos Profissionais de Educação, que, com o apoio da Aduff e do movimento estudantil, tinha com objetivo discutir o legado da Revolução Russa no ano em que se comemora o centenário do levante dos trabalhadores soviéticos.

A atividade inicial dessa quarta-feira (23) contou com a exibição do filme “Olga”, dirigido por Jayme Monjardim e lançado em 2004, que foi inspirado na biografia escrita por Fernando Morais sobre a alemã, judia e comunista, companheira de Luís Carlos Prestes. 

A produção enfatiza a relação amorosa entre o casal, tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e a força dos regimes totalitários na Europa, a exemplo do nazismo na Alemanha, pelo o qual Olga foi assassinada.

Após, houve um momento de debates, contando com as considerações do professor Marcos César de Oliveira Pinheiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da rede municipal de Rio das Ostras; da professora da Winny Freitas – dirigente do Sepe, professora da cidade e ainda estudante em Serviço Social da UFF em Rio das Ostras; e da estudante secundarista Paula. 

As duas últimas destacaram a necessidade de mobilização dos estudantes e, sobretudo das mulheres, nesse contexto de retirada de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários.

Já Marcos Cesar, discorrendo especificamente sobre o filme, afirmou que é preciso que os espectadores se atentem que se trata de uma obra ficcional, apesar de estar baseada em história real. 

“A película é baseada na visão da roteirista e do diretor, que destacam a história de amor de Benário e Prestes. Eles não estavam preocupados em falar dos acontecimentos. Entretanto, o filme despertou curiosidade do grande público em conhecer a história de Olga”, problematizou o docente.

Segundo Marcos – apesar da escolha feita pelo diretor e pela roteirista, Rita Buzzar, em contar uma história de amor – o filme permite que se perceba a força que o fascismo e o nazismo tiveram na Europa do século 20. 

Para o professor, por meio daquela narrativa, garante que os espectadores possam estabelecer uma ponte para compreender a intolerância contra minorias em todo o mundo. “Devemos continuar lutando. É preciso assumir posição e não renunciar aos nossos ideais, tal como Olga; temos ciência da justeza da nossa causa”, concluiu.  

Presença ilustre: “Sou filha da Solidariedade Internacional”, disse Anita Prestes

Houve ainda a ilustre participação da pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Anita Leocádia Prestes – filha do casal protagonista do filme, nascida em campo de concentração durante o Holocausto e separada da mãe pouco depois de completar um ano. “Sou filha da Solidariedade Internacional”, contou a docente ao referir-se a campanha feita pela avó Leocádia para obter a sua guarda e impedir que fosse parar em um orfanato alemão.

Anita esteve na UFF em Rio das Ostras para proferir conferência sobre a Revolução Russa – o que aconteceria no turno da noite - e promover o lançamento do livro “Olga Benário: uma comunista nos arquivos da Gestapo”, publicado pela Boitempo Editorial esse ano.

Mas, diante de um auditório lotado, com muitos sentados no chão, Anita Prestes antecipou-se e dialogou com os presentes por pouco mais de uma hora.

Para ela, o filme emociona, é bem feito. Porém, também destacou que durante o lançamento da película, ainda em 2004, o diretor Jayme Monjardim havia dito publicamente que não estava interessado em abordar a conjuntura política da primeira metade do século 20 e apenas a história de amor entre Prestes e Benário.

Anita Prestes contou que cresceu ouvindo seus familiares explicarem-na sobre a importância de seus pais terem lutado por um mundo em que houvesse liberdade e igualdade social para todos. “Havia um retrato deles na parede e eu me despedia todas as noites”, rememorou.

Anos depois – durante a convivência com o pai, que esteve incomunicável na prisão por nove anos – Anita ouvia Prestes dizer que se a mãe dela havia sido forte o suficiente para resistir a toda aquela violência, sem capitular diante do inimigo ou ainda delatar seus companheiros de luta, era porque acreditava na justeza da causa pela qual militavam.


“Hoje, a delação está na moda e sendo incentivada”, alfinetou a docente da UFRJ, para quem é importante combater os discursos e práticas conservadoras que se afinam com doutrinas nazistas e fascistas ainda em voga na sociedade. “Há grupos de caráter ‘fascistoides’ levantando a cabeça. Vou citar Antônio Gramsci para dizer que ‘odeio os indiferentes’. É necessário tomar posição, ainda que possamos incorrer em erros e, mais adiante, tenhamos que revê-la”, considerou. 

(Com Prestes a Ressurgir)

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