OSCAR E O CONCURSO VENCIDO POR LÚCIO COSTA

                                                                                 Arquivo de Silvetre Gorgulho

É muito difícil dizer quem foi o número 1 na construção de Brasília. 

JK cumpriu sua promessa e foi o cabeça do projeto. 

Lucio Costa foi o inventor genial, com méritos e glórias. 
Israel Pinheiro o "trator" que pegou o touro a unha.

E Oscar Niemeyer foi o alicerce. A força e a sinergia desde o primeiro momento. Alicerce com justiça e mérito. 

Vou explicar porquê:

1 - Primeiro porque recusou aceitar o convite de JK para ele próprio fazer o projeto do Plano Piloto. Foi o próprio Oscar que exigiu a convocação de um concurso nacional.

2 - Segundo, pela defesa contundente que Oscar fez do projeto de Lucio Costa. A proposta de Lucio corria risco. Eram 26 projetos apresentados no concurso, foram selecionados dez. 

O Plano Piloto de Lucio corria risco “porque era uma ideia e não um projeto” no voto CONTRA do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, representante do IAB-Instituto de Arquitetos do Brasil. O presidente da entidade, Ary Garcia Roza, dava total apoio a seu delegado. Houve um certo impasse, até mesmo porque o presidente da Comissão do Concurso, Israel Pinheiro, nem tinha direito a voto.

3 - Baseado nas informações do urbanista e consultor inglês William Holford e nas suas próprias convicções, Oscar Niemeyer defendeu o projeto de Lucio Costa “porque os outros não tinham inventividade”. 

Segundo o inglês Holford, considerado o maior urbanista da época, “uma ideia que não se possa transmitir, não tem nenhum valor. Mas uma ideia que seja capaz de provocar uma cadeia de ideias subsequentes é a coisa mais valiosa da civilização”. 

E William Holford entusiasmou Oscar ao dizer que “o Plano de Lucio Costa é a melhor ideia para uma cidade-capital unificada, e uma das contribuições mais interessantes e mais significativas feitas em nosso século à teoria do urbanismo moderno (...). 

É uma obra prima de concepção criativa, podendo ser desenvolvida passo a passo, à medida que o programa de infraestrutura e o social sejam expandidos. É simples, prático e fácil de entender. Dois terços da população viverão em quadras ou unidades urbanas envoltas por faixas arborizadas”.

A posição firme de Holford foi a deixa para que a comissão aprovasse um relatório único e o coordenador do Concurso, Oscar Niemeyer, batesse o martelo e fechasse em torno do projeto de Lucio Costa. 

O representante do IAB, Paulo Antunes Ribeiro, desligou-se da Comissão. Seu voto foi dado em separado, mas suas entrevistas e a posição do IAB serviram de combustível para os opositores de Brasília. Tanto da imprensa como dos políticos.

Conhecer um pouco mais esta história e esses detalhes têm importância passada e futura. Além de mostrar o desprendimento de Niemeyer em recusar ele próprio fazer o projeto, de mostrar seu apoio a um concurso nacional, há que se valorizar sua condução para a escolha do projeto Lucio Costa.

(Memórias de Silvestre Gorgulho)

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