Socialismo no Século XXI




Socialismo não é um ideal ético ao qual tendemos para melhorar a ordem vigente. O socialismo é uma proposta de um novo modo de produção, de uma nova forma de sociabilidade, e nesse sentido eu acho que o socialismo é, mesmo no século 21, uma proposta de superar o capitalismo. Novidades surgiram, por exemplo: quem leu o Manifesto Comunista, como eu, vê que Marx e Engels acertaram em cheio na caracterização do capitalismo.


A ideia da globalização capitalista está lá no Manifesto Comunista, o capitalismo cria um mercado mundial, expande e vive através de crises. Essa ideia de que a crise é constitutiva do capitalismo está lá em Marx. Mas há um ponto que nós precisamos rever em Marx, e rever certas afirmações, que é o seguinte: Quem é o sujeito revolucionário? Nós imaginamos construir uma nova ordem social. Naturalmente, para ser construída, tem que ter um sujeito. Para Marx, era a classe operária industrial fabril, e ele supunha, inclusive, que ela se tornaria maioria da sociedade. Acho que isso não aconteceu.


O assalariamento se generalizou, hoje praticamente todas as profissões são submetidas à lei do assalariamento, mas não se configurou a criação de uma classe operária majoritária. Pelo contrário, a classe operária tem até diminuído. Então, eu diria que este é um grande desafio dos socialistas hoje. Hoje em dia tem aquele sujeito que trabalha no seu gabinete em casa gerando mais-valia para alguma empresa, tem o operário que continua na linha de montagem..


Será que este cara que trabalha no computador em casa se sente solidário com o operário que trabalha na linha de montagem? Você vê que é um grande desafio. Como congregar todos estes segmentos do mundo do trabalho permitindo que eles construam uma consciência mais ou menos unificada de classe e, portanto, se ponham como uma alternativa real à ordem do capital? (Trecho da entrevista do marxista brasileiro Carlos Nelson Coutinho (foto Google), ex-PCB, ex-PT e atualmente fliado ao PSOl, a Caros Amigos. (Colaboração de Frei Gilvander, membro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, CONEDH. O trecho foi escolhido por este blogueiro)


Sobre o socialismo, a posição do PCB foi claramente colocada na resolução política de seu XIV Congresso, realizado em novembro no Rio de Janeiro (foto J.C.A.). Vejamos um trecho:
"Apesar de ainda faltarem condições subjetivas – sobretudo no que se refere à
organização popular e à contra-hegemonia ao capitalismo – entendemos que a
sociedade brasileira está objetivamente madura para a construção de um projeto
socialista: trata-se de um país em que o capitalismo se tornou um sistema
completo, monopolista, capaz de produzir todos os bens e serviços para a
população. Uma sociedade em que a estrutura de classes está bem definida: a
burguesia detém a hegemonia econômica e política, o controle dos meios de
comunicação e o aparato estatal, enquanto as relações assalariadas já são
majoritárias e determinantes no sistema econômico. Formou-se, assim, um
proletariado que se constitui na principal força para as transformações sociais no
País.
Do ponto de vista político e institucional, o Brasil possui superestruturas
tipicamente burguesas, em pleno funcionamento: existe um ordenamento jurídico
estabelecido, reconhecido e legitimado, com instituições igualmente consolidadas
nos diferentes campos do Estado, ou seja, no Executivo, no Legislativo e no
Judiciário. Formou-se também uma sociedade civil burguesa, enraizada e
legitimada, que consolidou a hegemonia liberal burguesa, mediante um processo
que se completa com poderosa hegemonia na informação, na organização do
ensino, da cultura, elementos que aprimoram e fortalecem a dominação ideológica
do capital no país.
Portanto, sob todos os aspectos, o ciclo burguês já está consolidado no Brasil.
Estamos diante de uma formação social capitalista desenvolvida, terreno propício
para a luta de classes aberta entre a burguesia e o proletariado. De um lado, está o
bloco conservador burguês, formado pela aliança entre a burguesia monopolista
associada ao capital estrangeiro e aliada ao imperialismo, a burguesia agrária com
o monopólio da terra, a oligarquia financeira, com o monopólio das finanças, além
de outras frações burguesas que permeiam o universo da dominação do capital.
Esta hegemonia do bloco conservador adquiriu maior legitimidade para
implantar as políticas de governabilidade e governança necessárias à consolidação
dos interesses do grande capital monopolista, com a captura de um setor político,
representante da pequena burguesia e com ascendência sobre importante parte dos
trabalhadores, uma vez que se tornava essencial neutralizar a resistência destes e
das camadas populares, através da cooptação de parte de suas instituições e
organizações.
Do outro lado, está o bloco proletário, hoje submetido à hegemonia passiva
conservadora. Ainda que resistindo, encontra-se roubado de sua autonomia e
independência política, acabando por servir de base de massa que sustenta e
legitima uma política que não corresponde a seus reais interesses históricos.
Constituído especialmente pela classe operária, principal instrumento da luta pelas
transformações no país, pelo conjunto do proletariado da cidade e do campo, pelos
movimentos populares e culturais anticapitalistas e antiimperialistas, por setores da equena burguesia, da juventude, da intelectualidade e todos que queiram formar
nas fileiras do bloco revolucionário do proletariado, em busca da construção de um
processo para derrotar a burguesia e seus aliados e construir a sociedade socialista"





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