A teia de aranha imperial


A casa editorial Ciências sociais colocou nas mãos dos leitores a edição cubana de um livro apaixonante, A teia de aranha imperial. Enciclopédia de ingerência e subversão, de autoria da norte-americana-venezuelana Eva Golinger e seu colega, o sociólogo francês Roman Migus , a obra foi lançada na 20a. Feira Internaciohnal do Livro em Havana, a capital cubana.
Ambos se lançam a fundo no estudo das águas escuras do capitalismo neoliberal para retirar suas estruturas, estratégias de domínio e expansão enlaçadas em um quadro sinistro.O livro teve uma prévia em 2009, nas mãos de Golinger, que viajou para Cuba com um reduzido número de exemplares e a promessa de uma impressão na ilha.A oportunidade chegou com a cessão dos direitos de publicação do selo venezuelano Monte Avila a seu colega sociólogo, traduzido em dois mil exemplares à venda.
O texto ilustra, com pulso certeiro, os rumos de um sistema em que o político e o econômico, sustentados no estímulo arrasante das multinacionais, tornam-se o espelho.Concebido como uma enciclopédia de amplo registro, A teia de aranha imperial consumiu a seus autores seis anos de profunda investigação e é o primeiro passo de um projeto que prevê atualizações periódicas.A partir da rede de ingerências e subversões de grande magnitude de que tem sido objeto Venezuela por parte dos Estados Unidos e seus aliados, Golinger e Migus demonstram como ambos componentes funcionam em uma interação permanente e "definem as orientações políticas e econômicas que impõem depois ao resto da humanidade".Ao serviço desse objetivo, o capitalismo põe em marcha as engrenagens de um tear metafórico, no que confluem, cobiçados nas sombras, os diferentes setores do poder econômico, político, militar e também o das comunicações -usualmente considerados independentes-, para elaborar visões e ações comuns.O lugar de encontro são as fundações, os "think tank" ou centros de estudo, os institutos com respaldo financeiro das multinacionais, por cujos conselhos de administração transitam os políticos, em um ir e vir constante destes para as administrações públicas.
No volume afloram as agressões perpetradas contra Venezuela, desde a chegada ao poder do presidente Hugo Chávez e o início de uma Revolução Bolivariana de profunda raiz e projeção sociais.Assim emerge o papel desempenhado, nessa manobra desestabilizadora, por empresas, agências governamentais, organizações não governamentais, personagens, instituições e um sem número de elos dessa grande rede de braços múltiplos.
A conexão é às vezes estreita, e às vezes longínqua, mas seus fios movem-se em consequência da teia de aranha. Uma de suas variantes, segundo ressalta Golinger, é a chamada guerra assimétrica ou de quarta geração, a subversão, a contra insurgência, dirigida à população, "o que estamos vivendo hoje na América Latina".
Um dos motores na intensificação dessa estratégia é, por exemplo, a United States Agency for Internacional Development (USAID), que desponta entre uma meada de agências de serviços clandestinos disfarçadas de entidades públicas.
A Venezuela tem sido um claro expoente da aplicação dessa rede sinistra de subversão e ingerência, financiada por Estados Unidos, da qual fluem sabotagens midiáticas, golpes de Estado, tentativas de magnicídio, guerras midiáticas, operações psicológicas, sabotagens econômicos, espionagem, infiltrações, entre outras.
Alvo permanente de Washington, a nação sul-americana não o é somente pela profundidade de sua viragem histórica mas por sua condição de grande exportadora e produtora de petróleo, dona de uma das maiores reservas do chamado ouro negro no mundo. Por idênticas razões, está permanentemente na mira das multinacionais.
Apoiados em uma documentação profusa, no dado preciso respaldado por uma bibliografia abundante e bem repassada -que abarca documentários, sites, centros de estudo, artigos, livros, ensaios- Golinger e Migus lançam luz sobre as relações encobertas colocadas em jogo, muitas vezes sob aparentes fins nobres.
A Enciclopédia vai desmontando esses suportes, em um percurso da A a Z, com uma linguagem dinâmica, que abre passo à informação precisa, e a singeleza como aliada de uma investigação exaustiva, com nexos referencias que lhe acrescentam um estímulo extra.Por suas páginas desfilam, identificadas com seu lema, suas ações e seu passado, empresas, agências governamentais, organizações não governamentais, meios de comunicação, personagens como Rockefeller, Elliot Abrams, Henry Kissinger ou Orlando Bosch, companhias de telecomunicações, termos como guerra eletrônica.
Diante do leitor emerge o funcionamento da organização real do capitalismo, do seu lado mais desconhecido, "todas as instituições que participam na grande guerra do capital contra a humanidade, sem as quais o capitalismo não poderia existir".
Texto de inevitável referência, A teia de aranha imperial serve também para olhar para atrás e comprovar como os mecanismos de subversão e ingerência sempre se puseram em marcha, só que em forma menos refinada, ainda que igualmente brutal, como ocorreu em Cuba, no Chile e Brasil dos anos 60 do século XX, e em tantas outras regiões da América Latina.Foi na época em que sentaram, em seu trono de sangue, as ditaduras militares, os gorilas.
Acostumado a considerar este lado do mundo como um pátio imenso e solitário, o triunfo da Revolução cubana e sua solidez, demonstrou aos Estados Unidos, a somente 90 milhas, que a realidade podia ser muito diferente, como o prova a insurgência social desembocada nos processos recentes de Venezuela, Bolívia e Equador.Contra esses processos em marcha, tornando-se um duro golpe a seus desejos frustrados, o capitalismo em sua fase neoliberal tem forjado um entramado bem mais sofisticado, encoberto, ramificado na sombra, de uma perfídia maior, azeitado e mascarado sob outra roupagem.Uma roupagem de extensões sem fim, que envolve a um sem fim de pessoas, enquanto outras ficam presas na teia de aranha dessa rede sinistra. Como afirma Gabriel García Márquez, América Latina não pode apagar as luzes para dormir.(Com a Prensa Latina) Imagem:Divulgação

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