Este ano a inauguração do Memorial Luiz Carlos Prestes


                        
                                                                
Está prevista, para o ano de 2013 na cidade de Porto Alegre, a inauguração de um Memorial em homenagem ao revolucionário e comunista Luiz Carlos Prestes, o cavaleiro que dedicou a sua vida à luta pela transformação social, trazendo consigo a esperança de milhares de trabalhadores brasileiros que sonhavam com um mundo sem exploração, injustiça e desigualdade social. 

Prestes, que sempre postulou a necessidade histórica de se fazer uma revolução prática, nunca deixou de afirmar que a mesma também deveria ser teórica. Por isso, o espaço que hoje se encontra em construção, deverá ser mais do que um espaço de homenagem e recordação, deverá ser um espaço de formação.

Nesse sentido, os lutadores sociais, junto com a população brasileira, poderão sentir-se contemplados com mais essa grandiosa obra do arquiteto Oscar Niemeyer, que num ato de amizade e camaradagem, projetou este espaço para que todos pudessem tomar conhecimento do que foi a vida e obra deste grande lutador da causa humana, deste brasileiro que fora temperado no calor da luta social.

E para falar um pouco sobre a realização deste projeto, o VO buscou conversar com um dos homens que militou ao lado de Prestes e que hoje continua na luta trazendo consigo o legado revolucionário de seu eterno camarada, que faleceu ano de 1990.

O camarada Luiz Carlos Pinheiro Machado, militante da CCLCP, professor aposentado do curso de agronomia (UFRGS/UFSC), que atualmente está trabalhando num livro que se chama "A dialética da agroecologia", nos recebeu para falar sobre a construção do Memorial. Eis a entrevista:

Voz Operária (VO): Como é que surgiu do Memorial, de onde partiu a iniciativa do projeto?

Luiz Carlos Pinheiro Machado (LCPM): O projeto do Memorial Luiz Carlos Prestes é produto de uma iniciativa do então vereador Vieira da Cunha, que no dia 29 de junho de 1990, portanto, há treze anos, aprovou uma lei que tomou o nome de um Projeto de Lei Complementar, no qual o executivo municipal fica autorizado a edificar equipamento público de caráter cultural denominado Memorial Luiz Carlos Prestes e cria um fundo especial de natureza contábil próprio.

Bem, desde que foi aprovada a Lei e que tinha que se conceder um terreno, as possibilidades de construção do Memorial eram muito remotas, porque nós não tínhamos recursos para fazê-lo e a prefeitura se omitia na época. Até que recebemos um terreno na orla do Rio Guaíba de fronte ao Anfiteatro Pôr-do-Sol, que é um terreno de altíssima valorização numa zona muito nobre de Porto Alegre, um terreno que tem 150 x 75 metros, portanto, um terreno muito grande. Mas sem recursos para construir o prédio.

Nesse meio tempo a Federação Gaúcha de Futebol, estava interessada em construir a sua sede e estava trabalhando para construí-la num município vizinho, chamado Eldorado do Sul. Um município que fica a 30 km de Porto Alegre, tem que atravessar a ponte do Rio Guaíba, enfim, seria uma localização absolutamente imprópria para esse objetivo. A partir daí houve uma articulação em que se a Federação custeasse a construção do nosso prédio, o prédio do Memorial, o Memorial cederia metade do terreno para a Federação. Isso foi feito! 

Então, a Federação ficou com a metade sul e nós ficamos com a metade norte, que é a metade mais nobre, digamos, dentro do terreno. Daí, a partir de um contrato entre a Federação e nós, a Federação assumiu o compromisso de construir o prédio, o projeto de acordo com as especificações do arquiteto Oscar Niemeyer e com uma cláusula que o Memorial teria que ficar concluído antes da Federação, ou seja, que não podia postergar a construção do Memorial a favor da Federação. O prioritário é o Memorial!

As coisas vinham acontecendo razoavelmente bem, até que, eu acho que em outubro/novembro houve uma desavença na direção da Federação, daí a construção da obra se complicou e hoje, a previsão era 31 de dezembro, nós estamos em fevereiro e a obra está parada com a parte de estrutura de concreto razoavelmente adiantada, e faltando o resto da obra. Não há previsão de conclusão, eles têm um cronograma lá para maio, mas eu não sei se isso vai ocorrer, ou seja, a Federação está inadimplente em relação a este prazo.

VO: O que se pretende com o Memorial, qual será a sua função e importância?

LCPM: Bom, o Memorial em primeiro lugar é um marco, um registro permanente da vida e da obra de Luiz Carlos Prestes. Interessante que no documento do projeto tem uma caracterização do próprio Prestes, que o caracteriza como patriota, revolucionário, comunista e senador da república. Então, o Memorial na verdade vai ser a reprodução da vida dele, vamos utilizar todos os materiais disponíveis para poder recompor a vida dele através de um documentário.

Naturalmente que a filha dele, a professora Anita Leocádia Prestes, vai colaborar muito nesse trabalho de recomposição da vida dele. E uma vez, digamos, concluído o Memorial e feito todos os detalhes atinentes ao projeto, nós pretendemos usar o Memorial! Ele será gerido por uma associação que se chama Associação Memorial Luiz Carlos Prestes, que irá administrar o Memorial através da obtenção de recursos para a sua manutenção e realização de eventos, e vai também oferecer uma série de serviços relacionados com a vida do Prestes.

Então, a finalidade é manter viva a memória de um revolucionário comunista patriota e, de eventualmente, usar o Memorial para eventos culturais que sejam compatíveis desde logo com os objetivos do Memorial, ou seja, nós não vamos ceder o Memorial, sob nenhum título, sob nenhum pretexto, para os reacionários, para os anticomunistas fazerem atos lá. Isso não vai acontecer! O que vai acontecer lá não precisa ser a favor, mas não pode ser contra! Por exemplo, um evento cultural de um determinado escritor para fazer o lançamento de um livro, que seja um romance, que não tenha nada de anticomunista, não tem problema! Pode ser cedido, dentro das condições que a própria associação vai estabelecer.

VO: Quais são os projetos possíveis a ser realizado em nome do Memorial?

LCPM: São, principalmente, projetos de caráter político-cultural. Por exemplo, uma palestra de um grande escritor sobre a vida do Prestes. Isso é o tipo de atividade que se ajusta perfeitamente dentro das atividades e os objetivos do Memorial. Uma apresentação, por exemplo, de um grupo de artistas com um tipo de música compatível com o auditório, que é um auditório pequeno. Então, nesse caso, seria uma seleta assistência no sentido de número.

Enfim, todos esses tipos de eventos podem fazer parte das atividades do Memorial, sempre para promover e homenagear a trajetória histórica do Prestes, a começar com a Coluna e terminar com o final da vida dele.

VO: Como anda a sua construção e quais são as previsões para a sua conclusão?

LCPM: A conclusão, nessa altura dos acontecimentos, com esse problema que deu com a Federação, que teve outro problema não só administrativo e interno deles, mas um órgão de fiscalização verificou que o prédio da Federação não tinha os tapumes protetores lateralmente, então embargou a obra, que ficou parada por causa disso. Eles estão trabalhando para construir esses tapumes e dar continuidade à obra. Então, com isso tudo, eu acredito que com muita boa vontade na metade do ano poderá ser inaugurado o Memorial.

VO: Para concluir, fale um pouco do legado de Luiz Carlos Prestes, da sua herança para o Memorial que leva o seu nome?

LCPM: Bom, isso é uma obviedade! Claro que o Memorial leva o nome do Prestes porque ele foi uma figura extraordinária na história do Brasil. E foi uma figura extraordinária por quê? Em primeiro lugar, uma característica do Prestes, pessoal do Prestes, foi a sua coerência e a sua dignidade pessoal. Essas são duas características que estão presentes no Prestes, quando ele era ainda tenente e trabalhava num quartel em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul. Ele que viu a sujeira, as bandalheiras que havia nas construções que eram contratadas pelo quartel, e que se insurgiu contra isso.

O que já quer dizer que essa primeira manifestação pública dele, digamos, foi produto da sua dignidade pessoal e da sua coerência. Ele não calou diante de atos que eram indignos para a administração pública. A partir daí ele se reuniu com vários outros líderes da política brasileira e iniciou a coluna, que foi um evento, uma epopeia, que até hoje não tem nenhum movimento no Brasil que se iguale ao movimento da Coluna, que percorreu 22.000 km, que andou pela Bolívia, etc.

Naturalmente que o Memorial vai reproduzir essa epopeia, da maneira que pudermos materializar isso aí. Posteriormente, já em 1929/30, ele se alia com aquele grupo de que fazia parte o Getúlio e que estava se revoltando, digamos, contra o establishment que era dirigido, principalmente, pelo mineiro Artur Bernardes, que era um governo corrupto, extremamente violento e reacionário. E nesse momento ele foi convidado a ser candidato a presidente da república, e rejeitou. Disse que o problema dele não era ser presidente da república, na forma como aquele grupo queria e, sim, ele queria reformas básicas e sociais no Brasil, principalmente, contra o latifúndio e contra o capital estrangeiro, que eram as duas bandeiras mais predominante no início da atividade política dele, no que se tornou depois da coluna. Daí ele rejeitou e rompeu com essa gente. Depois tem a sua ida a Moscou, quando ele se torna comunista e entra para o partido, daí vem toda a sua história dentro do partido.(Com o jornal Voz Operária)


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