Em meio a abertura política, brasileiros tentam sucesso no futebol de Mianmar. Veja matéria da BBC

                                               

Junior (esq) e Tercio são atletas do Kanbawza Football Club (Foto: Solly Boussidan)

Mianmar é uma estrela em ascensão na Ásia ─ em pouco menos de um ano, o país do sudeste asiático deixou de ser um dos regimes ditatoriais mais fechados do planeta para se tornar um dos principais focos de investimento e políticas regionais. A abertura sem precedentes pela qual a antiga Birmânia passa vem permitindo à população maior contato com o exterior.
O Brasil ocupa lugar de destaque no imaginário birmanês principalmente por conta do futebol ─ verdadeira paixão entre os locais ─ e já há técnicos e jogadores brasileiros treinando e jogando em times locais.

O país sediará em dezembro os Jogos da Asean (o equivalente dos Jogos Panamericanos no sudeste asiático) e o futebol promete ser um dos destaques da competição.
"Não é como pensam no Brasil, que não há futebol por aqui. Há sim e há bons jogadores. O que falta para eles é experiência e ser menos afoitos. Muitos deles começaram a treinar já mais velhos; não passaram por categorias de bases. Nosso trabalho aqui, fora jogar, é também dar o exemplo em campo", diz Tercio Nunes, de 34 anos, jogador mineiro há três anos radicado no país, onde joga pelo Kanbawza Football Club (KBZ).

Mesmo em pequenos vilarejos do interior do país, qualquer menção sobre o Brasil, provoca sorrisos invariavelmente acompanhados dos nomes de grandes jogadores brasileiros do passado e da atualidade.

Apesar da reação ser comum em quase todo o mundo, em Mianmar a admiração ao futebol brasileiro é mais surpreendente pela dificuldade que a paopulação tinha em obter informações vindas de fora.
Até há cerca de um ano, todo fluxo de informação que entrava ou saía de Mianmar era estritamente controlado e monitorado pelo governo. Ter uma antena parabólica em casa podia significar prisão.
A truculência do regime levou praticamente todos os países desenvolvidos a impor sanções contra Mianmar ─ a rede bancária local era isolada e cartões de crédito não funcionavam no país nem para saques de dinheiro.
Carros que mais pareciam ter saído do ferro-velho entupiam as ruas de cidades como Yangun, o principal centro comercial da nação, e a rede de telecomunicações era ultrapassada, com uma linha de telefone celular chegando a custar US$ 3 mil (R$ 7 mil).

Em 2010, o governo anunciou uma série de reformas e aberturas políticas, recebidas com ceticismo no exterior. Surpreendentemente, no entanto, a transição ocorreu melhor e numa escala maior do que se previa ─ com eleições gerais, perdão de prisioneiros políticos, uma ligeira abertura da mídia e a concessão de maiores liberdades sociais.
Um dos principais acenos internacionais foi a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, em novembro de 2012, a primeira de um presidente americano. Desde então, as relações comerciais de Mianmar com o mundo praticamente se normalizaram, carros novos substituíram a antiga frota e o sistema bancário foi interligado à rede internacional em fevereiro de 2013.
"É surpreendente ver como as coisas mudaram em tão pouco tempo. Quando cheguei aqui os táxis tinham buracos no chão da lataria, a internet praticamente não funcionava e era impossível receber qualquer tratamento hospitalar ─ cheguei a tomar injeção por conta de uma alergia numa banquinha no meio da rua", conta o jogador de futebol brasileiro Edesio Oliveira Junior, de 31 anos.
Junior chegou em Mianmar em 2010 ─ junto com o anúncio das reformas no país. Baseado em Yagun, o atleta também joga pelo KBZ, um dos principais times da liga nacional.
"É surpreendente ver como as coisas mudaram em tão pouco tempo. Quando cheguei aqui os táxis tinham buracos no chão da lataria, a Internet praticamente não funcionava e era impossível receber qualquer tratamento hospitalar."

"No começo, o clima era bem mais sério, não se falava de política, não se via menção à (líder da oposição civil) Aung San Suu Kyi. Hoje você encontra chaveirinho com a foto dela em cada esquina", explica Junior.
Companheiros de equipe, tanto Junior quanto Tercio Nunes se dizem felizes pela oportunidade de jogar em Mianmar e não poupam elogios aos torcedores e aos cartolas birmaneses.
"O mercado para jogadores de futebol no Brasil é bem mais competitivo e se você não está em um grande time é comum atrasarem seu pagamento, quebrarem contrato. Você acaba dependendo dos seus pais e da sua esposa para se sustentar. Aqui, pelo contrário, o pagamento sai adiantado, todos se preocupam se estou bem", explica Junior.
Tercio diz que para jogadores veteranos, como ele, o Brasil já não dá muitas chances de prosseguir na carreira.
"Quero jogar até o momento que eu sinta que sou produtivo em campo e tenho o que ensinar aos jogadores mais novos. Não quero simplesmente parar por falta de oportunidade", diz.

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