Ministério público brasileiro quer repatriar fósseis de pterossauro contrabandeados na Itália

                                                           

O Ministério Público Federal no Ceará enviou pedido de cooperação jurídica internacional ao Ministério da Justiça na Itália para iniciar o processo de repatriação de fósseis extraídos da Chapada Nacional do Araripe, no Cariri cearense, e exportados ilegalmente. O material paleontológico, extraído em 1983, foi contrabandeado para o país europeu e encontra-se no "Centro Studi e Richerche Ligabue", em Veneza. O pedido do MPF ao governo italiano será intermediado pelo Ministério da Justiça no Brasil.

De acordo com o procurador da República Celso Costa Lima Verde Leal, autor do pedido, o MPF tentará recuperar os fósseis contrabandeados por meio de pedido de busca e apreensão enviado à Itália. Tratam-se de duas cabeças de pterossauro, descritas no museu italiano como "único exemplar do Cearadactylo Ligabuei Dalla Vechia 1993".

Durante investigações sobre o caso, a unidade do MPF em Juazeiro do Norte apurou que não houve autorização de viagem ou estudos dos fósseis por parte do Departamento Nacional de Produção Mineral, o que atesta que as espécies do material paleontológico foram retiradas de forma irregular do território brasileiro. O fato também é confirmado por parecer da Coordenadoria Geral do Geopark Araripe, vinculado à Universidade Regional do Cariri (Urca), administrada pelo Estado do Ceará.

Os fósseis são provenientes da Chapada do Araripe e foram coletado na expedição Leonardi-Lingabue, em 1983. Esse material é referido como oriundo do Membro Romualdo - Formação Santana, Bacia do Araripe, no Ceará. O fóssil estava em uma concreção calcária que ocorre em grande quantidade nos folhelhos cinza dessa unidade estratigráfica.

Pterossauro de 8,5 metros

Da Chapada do Araripe, na divisa entre os estados de Ceará e de Pernambuco, também saiu o fóssil do maior réptil voador pré-histórico da América do Sul, que esperou dez anos para ser apresentado ao público. Exibido em março deste ano, os fósseis de um pterossauro – um dos exemplares mais completos já encontrados no mundo – ficaram engavetado no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) até que pesquisadores tivessem recursos para montá-lo.

Os fósseis só foram desincrustados de uma grande pedra de calcário doada anonimamente ao Museu Nacional, estudados e remontados nos últimos dois anos por meio de um financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O trabalho, que inclui uma réplica em tamanho real do réptil, custou R$ 100 mil.

Segundo o coordenador da pesquisa, Alexander Kellner, as peças do pterossauro Tropeognathis cf. Mesembrinus no museu chamavam a atenção pelo tamanho e representavam 60% do corpo do dinossauro. Ao analisar os fósseis, ele constatou que o animal media 8,5 metros de uma asa até a outra, pesava cerca de 70 quilos e tinha quase todo o esqueleto e crânio preservados.

"Eu sabia que o bicho era grande. Achávamos até que era uma espécie nova, só no final da pesquisa descobrimos que não era”, disse o paleontólogo. Para efeito de comparação, ele cita que o albatroz, a maior ave da atualidade, tem 3 metros de envergadura e pesa 20 quilos - um efeito da adaptação evolutiva.

Em 2011, a descoberta recente de um pterossauro na Chapada de Araripe confirmou que os fósseis doados ao museu pertenciam a espécie Tropeognathis cf. Mesembrinus. As escavações, feitas pelas equipes do Museu Nacional, da Universidade do Cariri e do Departamento Nacional de Produção Mineral, indicam que pterossauros maiores habitaram a mesma região.

"Durante escavações, encontramos fósseis de um exemplar da mesma espécie, de um animal de 5,5 metros. Como esses ossos estavam em formação, constatamos que os animais eram da mesma espécie, mas o de lá, mais jovem”, disse.

Na parte cearense da chapada, fósseis de pteressauros, de pássaros e de peixes variados foram encontrados por paleontólogos e por moradores. Os estudiosos acreditam que, há 110 milhões de anos, a região era um lago e, pelas condições naturais, de deposito de calcário, favoreceu a preservação dos ossos dos animais em nódulos.

"Sabemos porque os fósseis dessa região estão bem preservados, mas por que a Bacia do Araripe é um dos mais importantes depósitos desses fósseis no mundo, isso requer mais pesquisa”, disse o paleontólogo.

Na mesma situação em que estava o maior réptil voador pré-histórico do hemisfério sul, engavetado no Museu Nacional, estão milhares de fósseis doados ou encontrado pelos pesquisadores. Além da falta de recursos, os pesquisadores do órgão dizem que é necessário interesse científico profissional e a curiosidade do público.

Com informações da Ascom do MPF/CE /Agência Brasil/Adital

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