Os "galegos" Fidel e Raúl Castro (José Carlos Alexandre News é também história)


                                                   

Galiza Confidencial 

 Lois Peres Leira

 A revolução cubana emocionou muitos emigrantes galegos, tanto em Cuba, como noutros países americanos. Muitos deles deram o seu apoio aos líderes desta revolução.


Ángel María Bautista Castro Argiz nasceu a 8 de dezembro de 1875 em São Pedro de Láncara, uma pequena freguesia da província de Lugo. Foram os seus pais Manuel de Castro Nuñez e Antonia Argiz. Ángel Castro cresceu numa aldeia da montanha luguesa onde o rio Neira banha os seus verdes vales.

A família Castro vivia na mais absoluta pobreza. Quando Ángel atinge a idade do serviço militar é enviado à guerra de Cuba. Os filhos dos camponeses pobres não se livravam daquelas tremendas guerras, ao serviço de uma monarquia decadente e desfasada pelo tempo. Anos depois o seu filho Fidel lembrara aquela etapa: "Era uma casiña pequenina -seria de 10 ou 12 metros de comprido por 6 ou 8 de largura-, uma casa de lajes de pedra, que é um material abundante no lugar, usado pelos camponeses para construir as suas rústicas habitações. Essa era a casa em que morava a família, estava todo ali numa só peça: dormitório e cozinha. Suponho que também os animais. Terras não tinha praticamente nenhuma, nem um naco, nem um metro quadrado...". "Meu pai -assinala Fidel- era filho de um camponês muito pobre mesmo lá na Galiza.

Quando a última guerra da independência de Cuba, iniciada em 1895, foi enviado como soldado do exército espanhol para cá lutar. Cá esteve meu pai, muito novo, recrutado pelo serviço militar como soldado do exercito espanhol. Depois da guerra foi levado de regresso à Galiza. Parece que gostou de Cuba e uma vez, entre os tantos emigrantes, saiu também para Cuba nos primeiros anos deste século e, sem um cêntimo e sem nenhuma relação, começou a trabalhar. Era uma época em que houve importantes investimentos. Os norte-americanos apoderar-se-ão das melhores terras de Cuba, começarão a destruir florestas, construir centrais açucareiras, semear cana, investimentos grandes para aquela época, e o meu pai trabalhou numa dessas centrais açucareiras".

A vida no interior da ilha era muito dura, o clima e as doenças tropicais dificultavam a adaptação dos nossos emigrantes. É assim como a maioria dos galegos se instalam fundamentalmente nas cidades, realizando actividades vinculadas ao comércio, enquanto a imigração canária, mais habituada ao clima da ilha, se estabelece no campo.

"Meu pai -Fidel continua narrando- regressa a Cuba e começa a trabalhar. Depois parece que organizou um grupo de trabalhadores, começou a ser o chefe de um grupo de trabalhadores, e já fazia as contratações à empresa ianque com um grupo de homens a ele subordinados. Começa a organizar uma espécie de pequena empresa, que -segundo creio lembrar- cortava florestas para semear cana, ou produzir lenha para as centrais. Assim, possivelmente, começou a obter já alguma mais-valia, como organizador daquela empresa com um grupo de trabalhadores. Quer dizer, que, indiscutivelmente, era um homem muito ativo, virava-se logo, era empreendedor e tinha uma capacidade natural de organização". "Em Cuba -prossegue Fidel- ele tinha comprado aquelas terras, uns 800 hectars, que eram propriedade particular dele, e dispunha, ainda, das que lhe arrendaram uns antigos veteranos da guerra da independência".

Ángel Castro casa pela primeira vez com uma moça cubana de sobrenome Argota, com a qual tem dois filhos Lidia e Pedro Emilio. O casal vivia nas terras recém compradas por Ángel. O sítio chamava-se "Manacas" e localizava-se no bairro de Birán, Mayarí. Anos depois de desencontros matrimoniais o casal separa-se. Ángel conhece Lina Ruz González, com quem casa e nascem os seus dois primeiros filhos Angela e Ramón. Depois virá o seu terceiro filho, Fidel que nasce o 13 de agosto de 1927. Por aqueles anos em Cuba governava a ditadura de Machado e os EUA consolidavam a dependência económica desta ilha caribenha. Entretanto, a família Castro crescia ano após ano. Chegaram Raúl, Juanita, Enma e Agustina.

Dom Angel e dona Lina foram consolidando uma numerosa família, tentando que os seus filhos tiveram a melhor educação. Fidel cursou estudos em Santiago de Cuba, onde foi aluno do jesuíta Rubinos Ramos -o último presidente da Associação Iniciadora e Protetora da Real Academia Galega. Posteriormente seus pais enviaram-no a Havana, onde conclui o secundário e começa os estudos de advocacia. Na universidade começou a sua militância estudantil, participando da Assembleia Constituinte Estudantil realizada a 16 de julho de 1947. Por aqueles anos, estava vinculado à tendência que liderava Humberto Ruíz Leiro. Naquele ato, Fidel denunciou os falsos lideres. Por aqueles tempos, começa a namorar com Mirtha Díaz Balart, casando a 12 de outubro de 1948. Aos onze meses nasceu o seu primeiro filho Fidelito.

Fidel finda os estudos de advogado, começando a trabalhar com dois colegas de profissão. O jovem advogado simpatizava com o Partido Ortodoxo, liderado por Eduardo Chivas. Enquanto Cuba vivia num ambiente de atoardas sobre possíveis tentativas golpistas, Batista a 10 de março de 1952 assume o governo através de um "quartelaço". Assim começava uma das mas sangrentas ditaduras latino-americanas.

Com a consolidação da ditadura, Fidel começa a organizar uma força político-militar inspirada no pensamento martiano, que irá ser capaz de derrotar o novo ditador. É assim como a 26 de julho de 1953 junta um pequeno grupo de revolucionários e tenta tomar o quartel de Moncada. Entre os insurgentes, além de Fidel, estava o seu irmão Raúl, Abel Santamaría, os irmãos Trigo (também galegos nascidos em Lugo), José Luis Tasende, Renato Guitart, Pedro Miret, Jesus Montané, Elpidio Sosa, Fernando Chenart Marrero, Oscar Presidente da Câmara entre outros.

Apesar do insucesso da tentativa revolucionária e do saldo de mortos e posteriormente assassinados por Batista, a operação revolucionária de Moncada será o início de uma revolução em marcha. Naquela oportunidade, o Doutor Fidel Castro e lider do movimento é preso e julgado por rebelião. O julgamento, que passará à história de Cuba e da América do Norte, irá se converter num julgamento contra a própria ditadura e um alegato pela democracia e liberdade de Cuba. As suas últimas palavras serão: "No que diz respeito a mín, sei que o cárcere será duro como não foi nunca para ninguém, cheio de ameaças, de ruim e cobarde assanhamento, mas não temo a fúria do tirano míserável que tirou a vida a setenta irmãos meus. Condenai-me, não me importo, a História absolver-me-á."

A Revolução cubana e o exílio galego

Depois do cárcere e as perseguições, Fidel instala-se no México para organizar a resistência e os futuros planos revolucionários. Naquele país, conheceu o exilado galeguista Elígio Rodrigues, quem nos conta o seu vínculo com os revolucionários:

"Era o tempo em que os refugiados galegos no México, ao fim da jornada quotidiana, costumávamos juntar-nos em amenas tertúlias de café para conversar e dogmatizar sobre a possível influência que os acontecimentos internacionais poderiam exercer para facilitar ou atrancar a nossa arelada volta à pátria. Com tal motivo, eu frequentava o grupo do Café Madrid, no centro. Quase ocultos num canto desse estabelecimento, reunia-se também um numeroso grupo de jovens cubanos. Muito discretos eles, quase silenciosos: em contraste com a estereotipada fama de barulhenta que tem a gente do seu país.

Ainda que não tivéssemos relação de amizade com eles, não passavam despercebidos: E durante algum tempo intrigou-nos a sua personalidade, que não conseguíamos descobrir. Só sabíamos que um deles se dedicava ao negócio de tirar fotografias instantâneas às pessoas que passavam pela rua, num passeio da avenida de San Juan de Letrán, e que todos respeitavam e acatavam o que parecia ser o seu chefe, um jovem de mãos compridas e bem cuidadas, ao mesmo tempo carismático.

Chegamos a suspeitar que pudesse ser um bando de delinquentes que se reuniam ali para projetar as suas malandrices. Sendo que o que realmente projetavam era derrubar o governo de Fulgencio Batista e fazer a própria revolução.

O das mãos compridas e bem cuidadas chamava-se Fidel. Ao fotógrafo chamavam-no Che. Dois personagens que, naquele momento, passavam despercebidos por completo. Em pouco tempo iam figurar entre os mais célebres da nossa época.

Eu gabo-me de poder dizer que cultivei com ambos uma efémera mas muito afetuosa amizade. Ao começo tal ez um pouco interessada por parte deles, pois insistiram para que os acompanhasse na sua aventura, pela minha qualidade de aviador. Que nos seus planos figurava a eventualidade de terem que fazer uso de aviões...
                                                        
 Fidel na sua visita de 1992 à casa natal do pai, em Láncara, Galiza
Introduziu-me ao hermético clã dos cubanos o meu amigo e famoso coronel da aviação republicana, dom Alberto Bayo... E também devo dizer que, contaxiado do entusiasmo daqueles cubanos e pressionado por Bayo e por Fidel, de não ser porque nessa época eu já tinha uma família que cuidar, talvez como fez o Che Guevara- teria eu participado na aventura".

Os acontecimentos anteriores e posteriores à vitória da revolução cubana encabeçada por Fidel Castro, foram seguidos com muita expetativa pela emigração galega, fundamentalmente pelos grupos exilados de Buenos Aires, Montevideu, Caracas e México. Também estes acontecimentos tiveram uma importante ressonância entre os jovens intelectuais que resistiam na Galiza contra o franquismo. 

O processo iniciado em 1953 com o assalto da quartel Moncada teria também a sua repercussão na própria colectividade galega de Cuba, onde alguns galegos ou descendentes destes tomaram partido em modo ativo junto do Movimento 26 de julho. Entre os quais podemos nomear: Fran País, Manuel Pinheiro "Barbaroja", os irmãos Díaz, María Araujo, Dora Carcanho, os irmãos Almejeiras, Xosé Rego López .

Com o lançamento da guerrilha em Serra Maestra e à medida que os revolucionários iam consolidando as suas posições, a opinião pública internacional começa a ter notícias dos acontecimentos que estavam sucedendo. É assim como os nossos emigrantes e exilados têm conhecimento de que o comandante dos alçados é o Doutor Fidel Castro, filho de um emigrante galego de Láncara (Lugo). A luta dos patriotas contra a tirania de Batista e a condição de filho de galego de Fidel, acentuaram as simpatias dos nossos emigrantes pela causa revolucionária. A condição de descendente de galegos era um motivo de orgulho dentro de um coletivo tão habituado à subestimação, algo semelhante acontecia no interior da Galiza.

O Conselho da Galiza apoia a revolução

Durante os anos prévios à vitória da revolução, o Movimento 26 de Julho constituiu uma delegação em Buenos Aires que funcionava no Centro Ourensano. O responsável deste comité era o exilado cubano Santiago Riera, e do qual participava Anisia Miranda (cubana de origem galega) e Rafael Granados, contando com o apoio de Neira Vilas. Segundo nos relata o autor de Memórias de uma criança lavrador" os integrantes do Movimento 26 de Julho tinham uma estreita relação com os nacionalistas galegos de Buenos Aires. Segundo o escritor ambos grupos patrióticos tinham muitas coisas em comum, que geravam simpatias mútuas.

Enquanto isso, Luis Seoane dizia por aqueles tempos no seu programa radial Galiza Emigrante: "...Nestes dias em que um filho de galegos, Fidel Castro, ao que lhe acompanham no seu estado maior guerrilheiros galegos, luta pela liberdade de Cuba, um dos paises da América do Norte, como no caso da Argentina e Uruguai, levam com amor no mais profundo do seu coração.

Um filho de galegos, Fidel Castro, joga a sua vida pela liberdade do seu povo sem ajuda de ninguém, como não seja do seu próprio povo, e ante a indiferença da maioria dos governos da América do Norte. Só, com o alento para o seu feito na imprensa, e a adesão moral -que outra coisa poderiam oferecer?- dos intelectuais. Nessa ilha que chamaram em frase bastante pirosa "a pérola das Antilhas, que foi explorada pelo navegante galego Ocampo, onde Evelino de Compostela alcançou a fama de santidade e em que tantos ilustres filhos da Galiza tiveram ação destacada. 


Onde viveram e sofreran tantos desterrados galegos, como o grande poeta Curros Enríquez, e nasceram tantas belas obras que fecundaram o pensamento galaico, como as primeiras edições de "Cantares galegos" de Rosalia, ou a História da Galiza de Murguia, volta-se a tingir de sangue galego. De filhos e netos de galegos. Porque da Galiza e não de outras partes é a maior quantidade de sangue que nestes dias, como sempre, como há sessenta anos, rega o solo de Cuba". (4 de maio de 1958).

O exílio galego no México e na Venezuela

As notícias sobre a guerrilha comandada por Fidel tem ampla repercussão em todo o México e especialmente entre os círculos republicanos residentes neste país. Ali encontrava-se um númeroso grupo de exilados galeguistas de forte influência marxista lideranças por Luis Soto e o cineasta Carlos Velo. Soto fora dirigente comunista e tinha a ideia de fundar uma nova organização de caráter nacionalista, mas com a ideologia marxista-leninista.

Com a vitória da revolução cubana, Luis Soto reforça a sua convicção da viabilidade de criar uma força como a de 26 de Julho" onde sintetize a luta pela identidade nacional e a luta de classes. Anos depois, esta proposta concretizara na fundação da União do Povo Galego, partido comunista patriótico nascido sob verdadeira influência da revolução cubana.

Neira Vilas entusiasta difusor da revolução em marcha

No mês de agosto de 1958, Neira Vilas edita no periódico Lugo do Centro Lucense de Buenos Aires um poema com o título "Fidel Castro". O poema é dedicado a Santiago Riera, um exilado cubano que residiu uma temporada em Buenos Aires e que desenvolveu uma intensa campanha de difusão, sobre os objetivos do Movimento 26 de julho.
                                                                   
FIDEL CASTRO
Persoaxe d´aceiro que forneces
arelas de Xustiza e Liberdá;
héroi xigante de exemplar bravura;
forza e vontade de xenial titá,.
Fidel, teu nome é por sí un destino
que doadamente a cumprir estás,
pois és fidelá Patria onde naciches
como poucos o foron en xamáis.
Teu apelido nobre e trascendente
está a sinar un símbolo augural;
Castro fora doña Constanza de Arias,
e Castro a dina Ines de Portugal.
Castro os Lemos, don Pedro e don Fernando,
e Castro Rosalía, a Rula impar
que cramara xustiza aos catro ventos
cando veu a seu povo agrilloar.
Vés de raza, Fidel, que non dobrega:
sangue galego nas túas veas hai:
es herdeiro de celme dun gran povo
disposto sempre a defender seu chan.
Cando esntran as lexiós de Octavio Augusto
na nosa Terra, en fero vendaval,
os guerreiro galegos non se rinden:
vanse ó monte Medulio a pelexar.
E alí sitiados, xa sen esperanza,
unha agoirenta noite de luar
matáronse entre sí, sereamente,
denantes de con vida se entregar.
Valentes como aqueles son teus homes
prestos a parescer se falla fai,
porque prefiren a vivir escravos
trocar a vida en sagra liberdá.
Medulio tamén é Serra Mestra
onde loitan con fe os bós cubáns;
mais o exercito vil do novo César
endexamáis, Fidel, vos vencerá.

Vitória da revolução

A 1 de janeiro de 1959 Fidel Castro à frente do movimento 26 de julho com o apoio da grande imensa maioria da população derrotam o ditador Batista. A nova abala o mundo e dá forças uma América Latina postergada.

Enquanto em Cuba a população continuava celebrando a revolução vitoriosa, na Argentina recebia-se com fervor as notícias chegadas da ilha. A 9 de janeiro desse mesmo ano festejou-se o XVI Aniversário do Centro Lucense de Buenos Aires. No Lar Galego da rua Belgrano deram-se cita várias centenas de sócios num jantar de confraternização. À hora dos discursos o presidente da mesma o senhor Manuel Fernández depois de falar da história do centro fez alusão à vitória da revolução cubana. Opinião Galega assinalou parte do discurso de Fernández: "fez referência a Cuba, recuperada para a liberdade, e ao chefe da revolução. Fidel Castro, de estirpe galega. assinalando a presença na mesa do senhor Gonzálo Castro, tio do chefe cubano. O senhor Fernández foi calorosamente aplaudido e parabenizado".

Um dia depois, 10 e 11 de janeiro, reuniram-se os dirigentes mas destacados do nacionalismo galego do Rio de la Plata numa Conferência Interplatense das Irmandades Galegas.

A convocatória foi no Centro Ponte-vedrês de Buenos Aires com a presença do Conselho da Galiza. Estava em representação do governo galego no exílio Antón Alonso Rios, Ramom Soares Picalho e Elpidio Villaverde. A Conferência foi aberta pelo presidente das Irmandades Alfonso Fernández Prol e entre os delegados estavam entre outros:Rodolfo Prada, Gervasio Paz Lestón, Lois Guede, X. Lema Novo, Xosé Benito Abraira, Manuel Puente, Ramón de Valenzuela, Xosé Neira Vilas, Antón Suárez Dopazo e Indalecio Tizón. Ao dia seguinte, na sessão de clausura tomou-se o seguinte acordo: "Render homenagem à República de Cuba com motivo da sua libertação da ditadura e comunicar o acordo ao heroico chefe da revolução Fidel Castro por intermédio da Embaixada de Cuba em Buenos Aires."

O jornal Lugo do Centro Lucense de Buenos Aires assinalava na capa do mês de janeiro de 1959: "A República de Cuba tem para os galegos uma significação especial entre os países da hispanoamérica, pela grande corrente migratória dos nossos conterrâneos e a consequente influência que isso determinou nos costumes, nas atividades de todo o tipo e em todos os modos de vida desse país. O facto de que o heroico chefe da revolução seja filho de pai e mãe galegos -lucenses, para mas precisar- é uma demonstração eloquente de tal influência e contribui para exaltar o nosso grau de simpatia, porquanto representa, tanto pelo esforço teimoso da sua luta como pelos princípios que a animam e orientam a configuração do protótipo da nossa estirpe..."

Poucos meses depois da vitória da revolução, Xosé Neira Vilas -assinalou num artigo em Opinião Galega, sob o título "Fidel Castro: Rebento Galego" em referência à passagem de Fidel por Buenos Aires:

"O herói de Serra Maestra esteve há alguns dias em Buenos Aires. Ainda nos parece mentira. Durante dois anos longos, os cabos trouxeram notícias -bem poucas aliás, devido à censura- sobre a luta armada do Movimento 26 de Julho na província de oriente, que depois se estendeu a Camagüey, Las Villas, Matanzas, até tombar uma das mas medonhas tiranías desta sofrida América do Norte.

Fidel Castro é um autêntico líder da liberdade. Homem novo, generoso, valente, que depois de defender os direitos dos pobres, dos explorados desde o seu escritório de advogado, quando a situação se faz mas significativa sob a deita criminoso de Batista, abandona a sua profissão, para se dedicar a uma ação romântica, que depois do prolongado calvário havia de dar por terra com a tirania.

O povo de Cuba seguiu e segue Fidel. É um povo maravilhoso. São os filhos e os netos daqueles mambises que depois de prolongada e cruenta luta contra as forças do já caduco império espanhol, atingiram a independência da Ilha.

Quando encarceram Fidel após o assalto ao Quartel Moncada, a 26 de julho de 1953, ao se perguntar quem fora o inspirador daquele feito, responde sem titubeios: José Martí. E em Buenos Aires, ante perguntas malintencionadas, responde: "Não dependemos de nenhum dogma; só abraçamos um "ismo": o cubanismo".

Parece mentira. Fidel está em frente de nós. Todos querem vê-lo. Agarram-no, pedem-lhe autógrafos, alguns mas supersticiosos querem tocar o seu uniforme. E de repente alguém, um forte e resoluto idoso, pugna por se aproximar: é Gonzalo Castro, galego, irmão do pai de Fidel, que leva muitos anos na Argentina. Tio e sobrinho abraçam-se, e dentre o murmurio de vozes surge a do herói que di: "Iré amanhã almoçar contigo, na condição de que me faças caldo galego".

Nós, como galegos, como amantes da liberdade, como identificados com a causa cubana não poderemos conter a emoção e a alegria que nos produz a presença deste homem excecional que leva o nosso mesmo sangue e que hoje é o mas autêntico líder popular do Continente.

Desde estas linhas manifestamos a Fidel Castro e ao magnífico povo cubano, fiel protetor da revolução, não só a nossa simpatia e a nossa adesão, mas também o nosso agradecimento, pois não duvidamos das consequências favoráveis que derivarão do exemplo do Movimento 26 de julho, como reclamo para encorajar outros povos oprimidos, entre eles a Galiza."

Em maio do mesmo ano, Neira Vilas escreve um outro artigo no jornal Lugo, que sairá na capa do jornal sob o título "Fidel Castro e a Revolução" no mesmo dirá: "A revolução cubana é um chamado de atenção aos povos oprimidos. Um exemplo de patriotismo e coragem. Um desafio a todo o modo de ditadura."

A 30 de maio de 1960, Arturo Cuadrado assinalava no jornal Galiza da Federação de Sociedades Galegas: "E agora Cuba. Fidel Castro é filho de galegos. É muito recente a história para contá-la. O melhor é vivê-la..."

Com a posterior crise dos mísseis e a declaração por parte de Fidel Castro da República Socialista de Cuba, os apoios da coletividade foram reduzindo aos setores comunistas ou nacionalistas de esquerda, localizados na Federação de Sociedades Galegas. (Com o Diário Liberdade)

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