E o povo catalão mobilizado na Jornada Histórica

                                     


As ameaças do governo espanhol deram passagem a imagens de urnas cheias, filas para votar e um povo expressando-se democraticamente


Às 13h00 a participação era de 1.142.910 pessoas, dos cerca 5.400.000 catalães e catalãs que estão chamados a votarem em uma jornada histórioca. A participação é superior em 50.000 pessoas à que registava o Estatuto de Autonomia de 2006 às 14h00 -finalmente, o dito estatuto foi suspendido por Madrid, apesar do voto positivo de 74% do eleitorado.

O dado é ainda mais relevante tendo em conta que o processo democrático conta com a proibição explicita do Reino da Espanha, o boicote do unionismo e uma selvagem campanha mediática em contra, veiculada através dos principais meios ao serviço do projeto espanholista.

Pelas 22h30 conheceremos a participação absoluta na jornada, mas os resultados sobre as respostas à dupla pergunta ('Quer que a Catalunha seja um estado? Sim/Não' e 'Em caso afirmativo, quer que dito estado seja independente? Sim/Não') chegarão provavelmente na segunda-feira (10/11).

O fracasso espanholista na sua 'cruzada' contra a Catalunha tem sido absoluto e mesmo se pode dizer que tem disparado contra os seus próprios interesses: a insistência do governo de Mariano Rajói em parar a votação tem sido a campanha perfeita pelo 'Sim' à independência, convencendo os e as catalãs de que o regime espanhol é incompatível com o palavra 'democracia'.

Carme Forcadell, presidenta da Assembleia Nacional Catalã (ANC), disse hoje que "o simples facto de todos os locais de votação terem aberto já é um sucesso". E assim é, indubitavelmente, por quanto é diametralmente oposto às ordens de Madrid. Todos e todas as representantes das entidades soberanistas catalãs condizem esse diagnóstico, e sabem que a contundente vitória de hoje abre a porta para os seguintes passos face à independência.

Emoção, festejo e normalidade neste histórico 9N

Com 1.317 centros de votação, 6.595 urnas, 6.000.000 de boletins de voto e 40.000 pessoas voluntárias assitindo na execução de um processo que dirige o governo autónomo do Principado da Catalunha (a Generalitat) a relativa calma e o extraordinário interesse mediático internacional -superior, mesmo, ao do referendo de independência escocês de faz poucas semanas- estão a ser a nota dominante.

Para além dos centros no território nacional do Principado da Catalunha (único território, por enquanto, dos Países Catalães em que o processo de emancipação nacional tem atingido a maturidade suficiente para tentar abordar a independência), catalães e catalães residentes em locais como Hong Kong, Tóquio, Sydney, Londres, Nova Iorque e, enfim, cidades um pouco por todo o mundo terão urnas disponíveis para se expressarem.

filaAs filas às portas dos locais de votação já começaram a formar-se minutos antes destes abrirem, pelas 09h00. A emoção de uma jornada histórica fez-se sentir na multidão, com cenas emotivas como a de uma pessoa idosa cujas lágrimas ao votar é a imagem desta abertura de 9N: "Quando vi o boletim de voto pensei em todas as pessoas que sofriram para consegui-lo".

Todos os centros de votação conseguiram abrir com normalidade, inclusive em Hospitalet de Llobregat, cidade vizinha a Barcelona em que a diretora do Instituto Pedraforca tentou sabotar a votação ao negar-se a entregar as chaves do local ao voluntariado. Um centro alternativo próximo foi rapidamente habilitado, fanando os desejos da dita diretora. Por outro lado, a integridade e segurança contra o falseamento dos resultados do sistema de votação teve que ser hoje admitida mesmo pelo meio espanholista El País, contra as teses das últimas semanas de meios irmãos.

A jornada está a contar com participação de observação internacional, entre a qual a galega de BNG, Anova e Nós-UP.

O assalto a pontapés por cinco fascistas contra um centro de votação em Girona (abortado por voluntariado e votantes) e uma delirante dupla denúncia do partido madrileno direitista UPyD -quem pediu nas cortes judiciais de Barcelona o desalojo pela força dos centros de votação, a suspensão do processo e a detenção do presidente da Generalitat, Artur Mas) foram as duas componentes bizarras, presente auto-ridiculista do Espanholismo. PP, Plataforma per Catalunya, Societat Civil Catalana e Falange não quiseram desaproveitar o evento e também apresentaram diferentes medidas. Todas as medidas cautelares solicitadas foram rejeitadas polo juíz de guarda.

Precisamente o unionismo espanhol, principalmente identificado com posições ideológicas de direita organizaram para hoje pequenos atos em pontos diversos da Catalunha, cujo protagonismo e dimensão ficou em águas de bacalhau, ao lado do massivo e histórico processo democrático impulsionado pela maioria social catalã.

Problemas para o Reino de Espanha

Os problemas internos da 'Marca España' têm começado desde a abertura de portas do primeiro centro de votação. A parte direita do seu partido está já a criticar que o presidente espanhol não tomasse medidas (ainda mais) contundentes contra o processo democrático. O PP, no entanto, viu-se impossibilitado pelo custo internacional que tal teria, pois o passo seguinte seria a intervenção militar ou policial contra os milhares de voluntários e milhões de votantes de hoje.

Mas esses problemas para o Reino de Espanha são farinha de outro saco que não devem restar hoje protagonismo ao quem assina este marco histórico: o Povo Catalão.

(Com o Diário Liberdade)

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