MEU RECADO

                                          

           Sobre voos e catástrofes


José Carlos Alexandre

Tenho muitas horas de voo. Nem poderia ser diferente....

Desde meu primeiro: de BH a Ipatinga, para cobrir a inauguração da sede do Sindicato dos Metalúrgicos, o Sindipa.

Um voo num pequeno avião, debaixo de forte tempestade...

E voos para a Europa, Estados Unidos, Norte da África e para o Oriente Médio...

Sem se falar nos cansativos voos para Havana (agora dá para ir de São Paulo-Havana sem escalas)...

Já contei aqui o aperto passado pela delegação mineira ao Congresso Nacional dos Jornalistas realizado em julho de 1968 em Porto Alegre.

Sim, 1968, "O ano que não terminou", na expressão do acadêmico Zuenir Ventura...

Depois do Congresso, vinhamos de São Paulo para cá quando um  dos motores do avião
pegou fogo...

O ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, Salomão Borges, pai dos quatro ou cinco Borges que orgulham a música brasileira, sempre contava o episódio em conversas domésticas.

A preocupação entre os passageiros, a aparente calma das comissárias de bordo, as voltas em torno da lagoa da Pampulha (não existia o aeroporto de Confins) e até terços misteriosamente aparecidos entre a maioria dos 14 jornalistas.

Este contista lendo o Jornal da Tarde...

"Sem prestar atenção aos salpicos da chuva, nem à queda estrondosa das árvores na mata", como dizia Oscar Wilde.

Ou ao pânico instalado entre a tripulação...

Finalmente a nave pousa e a emoção toma conta de todos: a ditadura militar que não conseguiu impedir as críticas ao regime forte instaurado no país.

Teria de aguentar um pouco mais jornalistas ávidos pela volta da liberdade de imprensa e da democracia...

Passados poucos anos, na década de 70, a Polícia Federal me impede de tomar um avião para Brasília, onde assistiria a posse um sindicalista mineiro como ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

Estava sem carteira de identidade e fui tentar um salvo-conduto. Depois de um chá de cadeira de horas a fio na PF, ali no Edifício JK , o delegado me chamou.

À sua frente, sobre a mesa, uma pasta onde consegui ver recortes de vários jornais, alguns de minhas colunas publicadas na imprensa mineira à época...

Após explicar o motivo da viagem , a pressa em ir e voltar de avião ( voltaria a tempo de trabalhar a matéria para a edição  do dia seguinte), disse-me que não poderia liberar-me para um voo.

Nos anos 68 e 69 equipes de patriotas equivocados quanto aos instrumentos de luta contra a ditadura, haviam sequestrado aviões, embaixadores, conseguindo a liberdade de presos políticos.

Eu que nunca havia participado de ANL, VAR, VAR-Palmares, PCBR, MR-8 e organizações parecidas ou assemelhadas, tive de contentar-me em voar mais tarde...

(Eu sempre lutei contra a ditadura mas no âmbito do PCB, que priorizava a organização das massas...como a campanha das Diretas-Já.)

De posse de carteira de identidade, pude ir a Brasília, São Paulo e até a Marabá, bem próximo à região onde o PC-do B movimentou uma guerrilha...

Depois da ditadura...

Agora assisto na Rede TV! a entrevista de  um viajante astral que prevê a queda de um avião em plena avenida Paulista no próximo dia 26...

Trata-se de Jucelino Nóbrega da Luz , professor que registra em cartório suas previsões, como as da queda do avião do ex-candidato à Previdência da República Eduardo Campos...

Ele prevê uma tragédia talvez superior à acontecida em 2007 também em São Paulo quando morreram 187 pessoas que estavam na nave da TAM mais 12 que se encontravam no solo...

Sou tão cético...

Histórias do fim do mundo ouço desde criança...

Assim  como de catástrofes, desastres iminentes ou não...

Este professor que tem ares de vidente só pode estar sonhando...

Espero sinceramente que tenha melhores premonições.,.

Deixe a Paulista para as nossas passeatas contra a política econômica, pelo socialismo...


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