“O governo Bolsonaro vai passar e o jornalismo vai continuar”, afirma a jornalista Thaís Oyama


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Kassia Nobre 


Após 18 anos na revista Veja, a jornalista Thaís Oyama decidiu acompanhar de perto o primeiro ano do governo Bolsonaro. Depois de um ano de entrevistas e investigações, a repórter lançou o livro “Tormenta. O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos” (Companhia das Letras). 

O Portal IMPRENSA conversou com a jornalista sobre a construção da obra e sobre os ataques que sofreu depois do lançamento do livro. 

“Isso não me tocou e não me ofendeu porque foram acusações genéricas de que o livro era baseado em leitura de pensamento ou coisa assim. Então, neste sentido, eu fiquei tranquila”.

Sobre a relação do governo com a imprensa nos próximos anos, Thaís afirmou que se sente otimista. 

“Eu acho que o primeiro ano do governo foi bem tumultuado, mas os próximos anos, dentro deste meu otimismo, eu creio que vão servir para acomodar esta relação. Mesmo porque o governo Bolsonaro vai passar e o jornalismo vai continuar. Ele vai ter que nos aturar”.   

Portal IMPRENSA - O livro é um relato detalhado do primeiro ano do governo Bolsonaro. Você poderia contar sobre o processo de investigação da obra? Quantas entrevistas foram feitas e quanto tempo durou a apuração?

Thaís Oyama - Eu não contei quantas entrevistas foram feitas, mas a apuração durou quase exatamente um ano. Ela começou exatamente no dia 01 de janeiro de 2018, que foi a posse do governo Bolsonaro. Ela terminou em meados de dezembro quando eu entreguei os originais para a editora. Neste meio tempo, eu fui praticamente semana sim e semana não para Brasília e fazia lá a apuração. 

Entrevistava pessoas, principalmente, da área do Executivo. Fui algumas vezes para o Rio de Janeiro também para levantar aspectos familiares, grupos de amigos. Daí voltava para São Paulo onde moro e escrevia. Esse processo demorou um ano. Foi uma coisa rápida, mas muito concentrada. 

A iniciativa de escrever sobre o governo Bolsonaro foi minha. Eu trabalhei por 18 anos na revista Veja. Daí eu estava querendo tirar férias da redação, mas não estava querendo ficar longe da notícia. Eu sabia que este governo Bolsonaro ia ser um governo fácil de notícia. 

Então eu não queria ficar longe. Daí eu tive a ideia de sair da Veja para fazer o livro. Eu ofereci a ideia para a Companhia das Letras e o Luiz Schwarcz topou na hora. Eu decidi sair da Veja, onde eu fiquei por muito tempo na minha vida profissional, e passei o ano inteiro só fazendo o livro. 

Portal IMPRENSA - O que chama a atenção na narrativa é a presença de vários diálogos reveladores. Você poderia contar sobre a construção deles? Eles foram recuperados por você por meio de entrevistas?

Thaís Oyama – A construção dos diálogos começou pela construção da relação com as fontes. Eu tive muita sorte porque consegui ter acesso a fontes muito confiáveis e próximas do governo e do presidente. A maioria dos diálogos foi dito por pessoas envolvidas. Outros diálogos foram revelados por gente que teve acesso a ele [Bolsonaro]. 

Portal IMPRENSA - Você deve continuar escrevendo sobre os próximos anos do governo? Há previsão de novos livros?
Thaís Oyama – Acho que não. Agora eu vou tirar férias do governo Bolsonaro. 


Portal IMPRENSA - O livro foi alvo de críticas pelos defensores do presidente e pelo próprio Bolsonaro. O presidente chamou a obra de “Fake news” e disse ironicamente que você “leu os pensamentos dele”.  

Segundo a Fenaj, Bolsonaro é o responsável por mais da metade dos ataques a jornalistas em 2019 e você foi uma das vítimas pela publicação do livro.  Na sua opinião, qual é a melhor forma de defesa da profissão em governos com este perfil?

Thaís Oyama – No meu caso específico, eu fiquei lisonjeada com a história das fake news porque ele falou de uma forma acusatória, mas ao mesmo tempo, genérica e sem apontar nenhum erro factual e nenhuma mentira e nenhuma inverdade. Então, de fato isso não me tocou e não me ofendeu porque foram acusações genéricas de que o livro era baseado em leitura de pensamento ou coisa assim. Então, neste sentido, eu fiquei tranquila.

Agora, quanto à relação do governo com a imprensa, eu acho que vai continuar sendo tumultuada.  Em relação à verdade, não há nada que possa ser feito. Ele e outros acusados podem espernear e podem não gostar, mas em relação aos fatos, eles não podem fazer nada. A partir do momento em que a gente continua fazendo jornalismo responsável, não há o que fazer. 

Portal IMPRENSA - O que o jornalismo pode esperar dos próximos anos do governo Bolsonaro?

Thaís Oyama – Eu tenho um tanto de otimismo. Eu acho que o primeiro ano do governo foi bem tumultuado, mas os próximos anos, dentro deste meu otimismo, eu creio que vão servir para acomodar esta relação. Mesmo porque o governo Bolsonaro vai passar e o jornalismo vai continuar. Ele vai ter que nos aturar.   

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