PCB disputará a Presidência



Publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 14.03.2010

Advogado e bancário aposentado, Ivan Pinheiro, 74 anos, disputou a Prefeitura do Rio de Janeiro em 1996 e de lá para cá vem se dedicando à reestruturação do PCB que, segundo ele, terá um impulso maior a partir das eleições deste ano. Nesta entrevista, ele comenta erros históricos do PCB e como o partido trabalha sua reinserção social, depois de quase ter desaparecido do mapa político brasileiro.
JORNAL DO COMMERCIO – Como vocês estão trabalhando essa reconstrução do PCB pelo País? É através do movimento estudantil? Em que segmentos da sociedade o PCB está se reinserindo?
IVAN PINHEIRO – É exatamente por aí. Vamos dar relevância ao movimento social. O movimento estudantil é muito importante para nós. Mas (o foco) é o sindical, sobretudo porque a centralidade do trabalho continua essencial para nós.
JC – Como está o PCB em termos de inserção nos movimentos sociais e sindicais?
PINHEIRO – O PCB está se reconstruindo e se reinserindo nos movimentos sociais. Aos poucos, com consistência, sem inchaço. Temos recrutamento de qualidade. Não falamos mais em campanha de filiação. O ambiente, que foi mais favorável a nós no passado, foi ocupado pelo PT, sobretudo. Atribuímos isso a uma política equivocada em toda a década de 1980 em que a maioria da direção do PCB – que em 1992 tentou acabar com ele (saindo do partido e criando o PPS) – praticou no ambiente sindical uma política que chamamos de conciliação de classes. Essa direção foi contra participarmos da fundação da CUT, um erro grosseiro a pretexto de que aquilo poderia desestabilizar a transição democrática. Hoje, estamos dando atenção especial a movimentos sindicais em áreas industriais. Temos um bom crescimento no Sul e Sudeste.
JC – E no Nordeste?
PINHEIRO – Pernambuco é um Estado de referência. Estamos muito fracos na Bahia, Maranhão temos um peso razoável, mas o Estado do Nordeste onde temos um peso maior no movimento sindical é no Ceará: estamos nas principais cidades lá com o sindicatos de professores, e dos trabalhadores das indústrias de calçados e da construção civil. Ao todo, estamos em 21 Estados.
JC – A sua pré-candidatura a presidente está colocada. E como essa postulação está sendo construída no partido?
PINHEIRO – A ideia da candidatura própria foi tomada pelo comitê central do partido no início do ano. Não era isso que queríamos. A esquerda socialista (PCB, PSTU e PSOL), em 2006, veio unida em torno da candidatura da (ex-senadora) Heloísa Helena (PSOL). Mas nós tivemos muitos constrangimentos, a campanha não foi o que a gente esperava. Lutamos para que fosse uma frente política permanente e não uma mera aliança, como acabou acontecendo. Temos divergências e queremos mostrar nossa identidade.
JC – O senhor vem visitando vários Estados. É para estimular candidaturas locais do PCB?
PINHEIRO – Exatamente. Não estamos fazendo eventos públicos em torno das eleições. A comemoração dos 110 anos de Gregório não é propriedade nossa, estamos participando. Estamos discutindo com os companheiros como a gente monta as campanhas estaduais. A nossa orientação é a seguinte: chapa própria no nacional, e nos Estados, chapa própria, mas não em todos. Pode ter alianças, preferencialmente com PSOL e PSTU, porque estão no campo de oposição de esquerda ao governo Lula. Nós teremos quatro eleições no fim do ano nos Estados: governador, senador e deputados federal e estadual. Estamos recomendando que, no mínimo, participemos com candidaturas próprias em duas delas.
JC – O PCB vai privilegiar alguma delas?
PINHEIRO – Sempre vamos valorizar o Legislativo. Não temos qualquer ilusão de eleger um governador comunista num País capitalista e implantar o socialismo naquele lugar. O nosso problema é ter voz na televisão, e onde a gente puder eleger deputados. É muito difícil, mas vamos ver.
JC – O partido já fez um mapeamento para ver onde tem mais chances de eleger um deputado?
PINHEIRO – Esse mapa está inconcluso. É uma coisa que a gente domina, a matemática eleitoral.
JC – Em quanto tempo o senhor projeta que o PCB terá força e estará participando efetivamente das instituições políticas, com representantes eleitos?
PINHEIRO – Nesta eleição acredito que conseguiremos alguns mandatos, poucos, mas simbólicos. Acho que na próxima (2014), vamos estar mais encorpados e musculosos, com mais chances.

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