A palavra nos levou à ALTO



Carlos Lúcio Gontijo

“Com a palavra criaram-se e destruíram-se mundos, selaram-se destinos, elaboraram-se ideologias, proferiram-se maldições e blasfêmias, expressaram-se ódios, mas também com ela – e só com ela –, tantos e tão desvairados povos, falou-se de amor, consolaram-se aflições e elevaram-se preces ao seu Deus. Ela tem sido, através do tempo, a mensageira do bem e do mal, da alegria e da dor...” (Celso Ferreira da Cunha – 1917/1989 – , Patrono da Cultura no Município de Teófilo Otoni).

Aprendemos com o reverenciado poeta Bueno de Rivera, filho maior da cidade mineira de Santo Antônio do Monte (em conselho que serve também à classe política), que quando o escritor se deixa guiar pela autocrítica, a lata de lixo é indispensável ao trabalho intelectual desenvolvido com criatividade e respeito ao leitor. Hoje, com o advento da comunicação eletrônica, tudo o que se produz na lavoura malcuidada da literatura e da poesia termina disponível para colheita na internet, em sites e blogs pessoais, ainda que seus autores muitas vezes se nos apresentem desprovidos do necessário talento, apesar de detentores de bom nível cultural, boa vontade e extrema sensibilidade humana.
Recebemos, semanalmente, pelo menos dois, três convites para participação em coletânea de poesia e contos; integração em academias de letras e associação a agências que se dizem especializadas na administração de carreiras literárias, logicamente sob o régio pagamento do honesto, sonhador e idealista autor.
Há muitos anos no exercício editorial da literatura independente – sem selo e escassos patrocinadores –, estamos sempre mais ou menos informados sobre os custos relativos à impressão de livros e por isso constantemente nos surpreendemos com as propostas superfaturadas, que ao certo apostam na desinformação ou no desejo do escritor de entregar-se à busca insana de alguma notoriedade a qualquer preço, sabedor de que em nossos dias o valor da obra está na maioria dos casos ligado à capacidade de autopromoção do autor junto às iluminadas hostes sociais frequentadas pelos senhores do poder e engenhos de capital.
É dentro desse contexto anômalo, no qual se acha mergulhado o mundo das artes, que comunicamos aos nossos leitores (alguns nos acompanham desde a edição de nosso primeiro livro, em 1977) que, após recebermos espontâneo convite lastreado unicamente no fato de a nossa obra literária ter chegado ao conhecimento da Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO), aceitamos a inserção de nosso nome ao seu quadro de acadêmicos, através de diploma a nós conferido em 11 de dezembro de 2010, sob a certeza do empenho da entidade teófilo-otonense em prol da divulgação da cultura em toda aquela região de Minas – que ainda são muitas, conforme nos vaticinou Guimarães Rosa.
Consideramos o dom da palavra escrita uma manifestação do Criador sobre a necessidade de estreita comunicação entre as pessoas, com as palavras servindo de elo e laço em prol da confraternização. Foi acreditando no poder da palavra que tomamos a iniciativa de enviar um cartão natalino ao amigo jornalista Pedro Rabelo Mesquita, ex-revisor em vários jornais de Belo Horizonte, entre eles o extinto “Diário da Tarde”, que afetado por grave problema de falta de memória se encontra internado, há dois anos, em clínica da cidade de Divinópolis, Centro-Oeste mineiro.
O amigo Pedro Mesquita, nosso querido Pedrinho, mesmo com deficiência de memória, mantém o gosto pela leitura e com toda a certeza ficaria espantado se tomasse conhecimento da acelerada perda de espaço pelos tradicionais veículos de comunicação impressa para o noticiário virtual, não apenas pela popularização do acesso à internet, mas acima de tudo pela insistente manutenção do velho hábito de as redações editarem fatos e notícias segundo os interesses empresariais e políticos dos proprietários de jornais e seus aliados, mesmo cientes de que o amontoado de conteúdo distorcido será imediatamente colocado em xeque pelos internautas, gerando-lhes aniquiladora crise de credibilidade, como aconteceu no caso da bolinha de papel atirada no candidato José Serra durante a campanha presidencial de 2010.
Todavia, voltando ao estimado Pedrinho, atestamos-lhes que no transcorrer de 30 anos jamais deixamos de receber dele gentil telefonema na passagem do Natal e no limiar de novo ano, além de contar com a sua presença em todo lançamento de livro de nossa autoria. Dessa forma, ao enviar a amigo tão caloroso e fiel um cartão de Natal, sentimo-nos felizes em podermos remeter-lhe, como lembrança de nosso mútuo afeto, o que temos de melhor e mais verdadeiro em nós: a palavra, que agora nos levou à ALTO!
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
http://www.carlosluciogontijo.jor.br/

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