refundar a esquerda e fortalecer o projeto popular


A disputa eleitoral nos
colocou a necessidade de
avançarmos no debate e na ação

05/01/2010

Roberta Traspadini

A disputa eleitoral nos colocou a necessidade de avançarmos no debate e na ação sobre o Brasil que temos e o Brasil que queremos. As eleições absorveram parte expressiva das ações da esquerda brasileira no último ano.
Breve retrospectiva histórica
Parte da esquerda brasileira acreditou que haveria disputa no Governo Lula. E foi com base nesta crença que este grupo apostou na possibilidade de que a correlação de forças permitiria ações governamentais de fortalecimento do poder popular.
Outra parte, convicta na opção de direita do Governo Lula, argumentava que era impossível esperar conquistas populares, dado o arranjo eleitoral, a armadilha de composição de forças partidárias e o plano de ação governamental proposto.
Transcorridos os dois mandatos, o grupo da crença na disputa assumiu sua frustração de ter-se ancorado na possibilidade de um Governo popular emanado desde o planalto central. O segundo grupo reforçou suas teses de que era um governo postulado à direita na execução do poder.
Eleições 2010
Nas eleições de 2010, parte do grupo da crença na disputa, resolveu assumir a campanha de Dilma não pela retomada do ilusório processo anterior, mas pela convicção de que 4 anos de neoliberalismo do PSDB seriam muito piores do que mais um período de neodesenvolvimentismo do PT. Uma vitória da direita precarizaria a sobrevivência da classe trabalhadora e dificultaria o fortalecimento do poder popular.
Já o segundo grupo, tinha em quem votar por convicção no primeiro turno mas no segundo, mesclou entre o apoio à candidatura Dilma e o voto nulo.
O processo histórico do PT no Governo agravou a histórica fragmentação da esquerda na sua posição e proposição de poder.
Vivenciamos tanto a deterioração do laços que vinculavam sujeitos políticos em processos comuns, quanto a perda de unidade na articulação dos processos de fortalecimento do poder popular.
Foi um período duro para a esquerda que acabou se posicionando entre a necessidade de dissecar a atuação do governo em vários planos e a importância de reiterar nossas anteriores posições sobre o mesmo.
Resultado: os debates foram substituídos por acusações; as articulações foram transformadas em disputas; a inicial unidade desmanchou-se no ar. Abriram-se campos, ora dialógicos, ora rotuladores da ação do outro.
E agora? Como reconstruir a caminhada da esquerda no próximo período?
Temos que assumir uma postura forte, coletiva, em prol da unidade que não nos permita incorrer nos históricos desvios políticos da direita.
Temos que ter convicção na interpretação sobre a realidade, e combinar, a partir de bons debates reflexivos-práticos, os acordos gerais da produção de um projeto popular para o Brasil.
Isto requer paciência histórica. Requer tempo para debater e compreender que cada grupo, cada movimento, tem uma leitura particular da dinâmica geral de funcionamento do poder institucional.
Temos que voltar a tomar partido pela classe trabalhadora e voltar a interpretar o Brasil coletivamente, centrados na luta anti-imperialista.
Mas temos também que partir de algumas convicções do histórico caminhar de classe, que permitam nosso processo dialógico no fomento da unidade.
Algumas delas são:
1. Defender o materialismo histórico dialético como método de reflexão e intervenção sobre a sociedade, para sua emancipação.
2. Recuperar os ensinamentos dos clássicos internacionais, latinos e brasileiros como parte integrante de nossa história revigorada na luta.
3. Compreender o caráter heterogêneo, diversificado e complexo da composição da classe trabalhadora na atualidade, e seu papel protagonista na luta anti-imperialista.
4. Evidenciar o caráter geral da exploração do capital sobre o trabalho e as particularidades que assume em cada formação histórica concreta.
5. Explicitar o caráter de transição do Estado no socialismo, rumo ao comunismo.
6. Materializar o socialismo-comunismo como constitutivo de uma sociedade sem explorados, nem oprimidos.
7. Lutar contra o poderio econômico concentrado e centralizado nas mãos da burguesia, onde quer que ela atue.
Talvez um mundo em que caibam todos os mundos seja grande demais para nossos passos futuros. Mas que seja possível refundar um projeto popular onde nossas histórias sejam levadas em conta, onde as amarras estruturadas pelo capital sejam desfeitas com clareza.
Começaríamos bem 2011 se fôssemos capazes de nos refundarmos enquanto esquerda, para refundar o Brasil, centrados no poder popular. Refundar que nos permita, na luta, reestruturar o projeto de sociedade que ponha fim a qualquer tipo de exploração-opressão, que sujeite os trabalhadores á condição de humilhados-ofendidos.

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