Desfile militar serve de advertência para que não se repitam os horrores do passado

                                                         

Hans Van De Vem (*)

PEQUIM,31 de agosto (Diário do Povo Online) - A decisão da China de organizar uma parada militar a 3 de setembro para marcar o 70º aniversário do dia da vitória deve-se a importantes fatores domésticos e globais.

Em nível doméstico, reforça a conglomeração do povo chinês em torno de um marco histórico comum, construído com base na resistência conjunta contra as agressões externas e ao esforço para criar uma nação moderna e próspera.

A demonstração de material bélico vai de encontro ao objetivo de demonstrar que a nação está a par das restantes potências mundiais e, deste modo, é capaz de defender o seu povo. 

No inconsciente comum da nação chinesa, esta demonstração de capacidade militar é importante. Especialmente se for tido em conta que durante cerca de dois séculos a nação sofreu várias derrotas e invasões, o que deixou marcas profundas na identidade nacional.

Ao nível global, esta parada tem como objetivo a consciencialização da comunidade mundial relativamente ao papel desempenhado pela China na Segunda Guerra Mundial, especialmente no contexto asiático, face à agressão japonesa, nunca se resignando e resistindo ativamente até ao final da guerra do lado das potências aliadas. 

Embora no ocidente, o contribuição  chinesa na Segunda Guerra Mundial seja ainda considerada reduzida, para a China e para o seu povo, a vitória final é um dos momentos chave na sua história moderna.

O Japão rendeu-se em território chinês não a 3 de setembro de 1945, mas a 9 do mesmo mês, em Nanquim às 9h00 da manhã. 

A escolha chinesa para o dia da rendição (9 horas do dia 9 de setembro de 1945) deve-se ao som parecido do número 9 com a palavra resistência. 

Chiang Kai-Shek, o líder de então, declarou que a política chinesa seria de “devolver a agressão com generosidade”.

Os 3 dias de comemoração nacional, decididos pela liderança Chinesa no ano anterior, refletem esse espírito. De agora em diante, as vítimas do massacre de Nanquim serão lembradas a 13 de dezembro e a vitória da China sobre o Japão a 3 de setembro. 

A inclusividade das celebrações é notável, pois põem as rivalidades históricas entre o Partido Comunista e o Partido Nacionalista (Kuomintang). Este ano, veteranos que lutaram por ambas as fações vão participar nas comemorações.

A China revê-se um pouco nas palavras do ex-presidente alemão Richard von Weizsacker datadas de 8 de maio de 1985. 

Ele afirmara que para a Alemanha, a rendição aos aliados de 1945 foi um dia de libertação e não de derrota. 

O dia da libertação serve também para lembrar a grande derrota para a humanidade dos anos antecedentes que não se deve voltar a repetir – esta é uma responsabilidade da presente e das futuras gerações.

(*) Hans Van De Vem é professor de História Moderna da China no Departamento de Estudos Asiáticos da Universidade de Cambridge. (Com o diariodopovoonline)

Comentários