Trabalhadores da Mercedes-Benz entram em greve

                                                                           
  
      A montadora alega que a medida ocorre devido a "excesso de contigente na unidade".

A Mercedes-Benz confirmou segunda-feira (24) a demissão de 1.500 funcionários na unidade de São Bernardo do Campo. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC anunciou que esta em greve por tempo indeterminado até que a empresa revogue as demissões. 

“Será um processo forte de luta e mobilização até que a empresa revogue a decisão e todos os companheiros voltem a trabalhar”, afirmou o secretário-geral da CUT e do CSE (Comitê Sindical de Empresa) na Mercedes, Sérgio Nobre.

O sindicato informou em nota que os funcionários começaram a receber telegramas sobre a rescisão do contrato no fim da ultima semana. A Daimler (dona da marca Mercedes-Benz) informou ao Sindicato que o Programa de Proteção ao Emprego, o PPE, é insuficiente para a situação atual.

“Nós defendemos que o PPE é a solução. Infelizmente, por intransigência da montadora, não houve acordo”, prosseguiu o secretário.

Crise no setor

O setor automobilístico passa por dificuldades desde o começo de 2014. Entre janeiro e julho deste ano, a produção do setor teve uma queda de 18,1% comparado ao mesmo período de 2014, o pior resultado desde 2006. O Ministério do Trabalho estima que 38,7 mil postos tenham sido fechados neste período.

Além da Mercedes, a GM, a chinesa Chery e a Volkswagen também anunciaram demissões nas últimas semanas.

A alemã Daimler cortou cerca de três mil empregos no Brasil desde 2013, chegando a 11.854 trabalhadores até o fim de junho. A companhia tem mais de 280 mil funcionários no mundo.

A montadora justifica as demissões que ocorreram porque há um excesso de duas mil pessoas trabalhando e que a atual crise levou a empresa a funcionar com 50% de sua capacidade. Em comunicado, a empresa não tem grandes expetativas para melhoras em 2016.

Sindicato mundial

Representas do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Daimler enviaram uma carta de solidariedade aos trabalhadores demitidos no Brasil onde informam que “as ações da empresa são inadequadas e que a crise não pode cair em cima dos funcionários”.

“No nosso entendimento, isso é totalmente inadequado porque o governo brasileiro acaba de adotar há algumas semanas uma lei de proteção ao emprego inspirada no modelo alemão. Se este programa fosse adotado, ter-se-ia um tempo de estabilidade de até 16 meses, dentro do qual se poderia chegar a um acordo com o Sindicato sobre os problemas estruturais”, afirma a nota.

Confira na íntegra a nota do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Daimler:

 "Stuttgart, 24 de Agosto de 2015

Os representantes dos trabalhadores na Daimler exigem a imediata reversão das 1.500 demissões na fábrica de São Bernardo do Campo / Brasil

Caros companheiros e companheiras,

Queremos informá-los sobre a situação dos nossos companheir@s brasileiros na planta de produção de veículos comerciais em São Bernardo do Campo.

Na semana passada, as negociações entre a Mercedes-Benz do Brasil (MB Bras) e o Sindicato dos Metalúrgicos brasileiros (SMABC - CNM/CUT), sobre como lidar com a crise econômica local e seu impacto no emprego, chegaram a um impasse. Na sexta-feira passada, dia 20/08, a direção da empresa notificou aproximadamente 1.500 funcionários sobre a rescisão dos seus contratos a partir de 01/09. Em protesto contra esta medida, os trabalhadores entraram em greve por tempo indeterminado na fábrica a partir dos turnos da manhã de hoje.

Demissões em massa não se justificam. Problemas estruturais ou conjunturais precisam ser resolvidos, em nossa opinião, de forma socialmente responsável. Essas demissões não são socialmente aceitáveis, e eles devem ser imediatamente canceladas.

Demandamos à direção da empresa para retornar imediatamente à mesa de negociações e buscar uma solução com os nossos companheiros sindicalistas no Brasil. Deve ser encontrado um compromisso que seja igualmente aceitável tanto para os trabalhadores como para a empresa. Nossos companheiros grevistas brasileiros contam com nossa irrestrita solidariedade.

Esta dramática situação está baseada nos profundos problemas conjunturais e estruturais do país e da fábrica. O mercado brasileiro de caminhões está em profundo colapso e são necessários investimentos urgentes nas instalações da fábrica.

Até recentemente a direção da MBBras e o Sindicato tiveram acordo em várias medidas socialmente aceitáveis ​ para a adaptação da força de trabalho em função da evolução da situação do mercado - por exemplo, Banco de Horas, programas de demissão voluntária, férias coletivas, suspensão dos contratos de trabalho (lay-off), etc. Nos últimos anos, mais de 2.000 funcionários deixaram a empresa através de demissões voluntárias. No final de maio 2015 foram pela primeira vez desligados 300 trabalhador@s que se encontravam há um ano em lay-off.

Desde o pico de vendas de 2011, a força de trabalho em São Bernardo foi reduzida em cerca de 25%.

Os companheiros brasileiros estão sob forte pressão por demissões e cortes salariais, devido ao trabalho reduzido e os saldos muito negativos dos bancos de hora. No início de Julho, uma proposta negociada de medidas adicionais foi rejeitada por uma clara maioria de 75% em uma votação dos trabalhadores.

Novamente em agosto a empresa demandou uma contribuição substancial dos funcionários para lidar com os problemas estruturais MBBras: os trabalhadores deveriam co-financiar os investimentos necessários através de drásticos cortes salariais. Por força da recusa desta proposta pelos trabalhadores na votação do início de Julho, o Sindicato rejeitou reapresentar a mesma proposta. A empresa considerou isso uma ruptura das negociações e anunciou as demissões.

Estamos cientes dos problemas estruturais em São Bernardo. Mas eles não foram causados ​​pelos funcionários. A perda a longo prazo da participação de mercado no Brasil, incluindo a perda da liderança de mercado, a baixa produtividade e deficiências significativas na estrutura das plantas são consequência de anos de má gestão.

Querer “zerar” esses problemas estruturais agora, em uma época de crise de mercado extrema, é inaceitável para os trabalhadores. Isto só serve, em nossa opinião, apenas para aplicar uma pressão adicional sobre os trabalhadores e o Sindicato.

A demissão de 1.500 trabalhadores é a solução mais fácil para a direção da empresa em relação à totalidade da força de trabalho que é causada pelas dificuldades económicas e estruturais para a empresa.

No nosso entendimento, isso é totalmente inadequado porque o governo brasileiro acaba de adotar há algumas semanas uma lei de proteção ao emprego inspirada no modelo alemão. Se este programa fosse adotado, ter-se-ia um tempo de estabilidade de até 16 meses, dentro do qual se poderia chegar a um acordo com o Sindicato sobre os problemas estruturais.

Nós estamos ao lado dos nossos companheiros e companheiras no Brasil. Não é possível que 1.500 famílias sejam forçadas a um futuro incerto. E ninguém pode esperar que os trabalhadores aceitem que os erros de gestão do passado sejam corrigidos jogando a responsabilidade somente nas suas costas.

Michael Brecht – Presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores na Daimler e Vice-presidente do Conselho de Administração da Daimler AG"
(Com o Brasil de Fato)

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