Triplica o número de idosos falidos nos EUA (*)

                                                                           
 António Santos    

Nas extremas desigualdades verificadas na sociedade estado-unidense o grupo social dos trabalhadores idosos veio juntar-se aos outros grupos sociais marginalizados e condenados à miséria: negros, hispano-americanos, desempregados de todas as etnias. Desde 1991, triplicou o número de pessoas com mais de 65 anos que se declaram falidas e incapazes de fazer face a dívidas crescentes. Tal como na crise de 1929 teriam que trabalhar até morrer, se tivessem a sorte de ter trabalho.

Pensões em queda, preço dos seguros de saúde a aumentar, magras poupanças e reformas privadas sujeitas aos humores dos mercados. Segundo o Consummer Bankruptcy Project, a conjugação destes factores está a gerar uma «tempestade perfeita» nas camadas mais envelhecidas da classe trabalhadora estado-unidense. Desde 1991, triplicou o número de pessoas com mais de 65 anos que se declaram falidas e incapazes de fazer face a dívidas crescentes. Se estivermos a falar das pessoas com mais de 75 anos, o número de falências multiplica-se por dez.

Milhões de idosos, que trabalharam toda uma vida nos EUA, vêem desaparecer diante dos seus olhos a rede de segurança que, desde as reformas de Lyndon B. Johnson e Franklin Roosevelt, protegia os trabalhadores na velhice. 

Cresce a lista de serviços médicos que não são cobertos pelo Medicare, o serviço mínimo de saúde pública para reformados e pensionistas; aumentou para os 70 anos (antes era 65) a idade em que se pode aceder a uma pensão da Segurança Social; vulgarizaram-se os «401(k)», os planos poupança-reforma controlados pelo patronato e sujeitos à especulação, compra e venda das reformas dos trabalhadores.

A consequência, aponta o estudo liderado por Deborah Thorne, foi a duplicação do valor que, em média, as pessoas com mais de 65 anos devem aos bancos.

Trabalhar até morrer

Para sobreviver, cada vez mais idosos estado-unidenses têm de trabalhar até ao último dia de vida. Segundo o Gabinete de Estatísticas do Trabalho da Casa Branca, os trabalhadores com mais de 75 anos representam uma fatia cada vez maior da população activa e correspondem já a 85 por cento do crescimento total da força de trabalho.

Para os autores do estudo, trata-se de «alterações estruturais» que se irão agravar ainda mais nas próximas gerações, à medida que o Estado assume cada vez menos responsabilidades sociais e o endividamento aumenta desde a juventude. 

Um cenário que, afiança Deborah Thorne, já aconteceu no passado: «durante a Grande Depressão, aproximadamente dois terços dos americanos mais velhos viviam na miséria, sob o terror de uma terceira idade sem um cêntimo, nem apoios». Para os autores, é esse cenário dos anos trinta que se avizinha nas próximas décadas.

Desde os anos 2000 que a pobreza não pára de aumentar nos idosos. Em 2016, o último ano de que são conhecidos dados do Gabinete de Estatística, as pessoas com mais de 65 anos foram mesmo o único grupo etário que, em média, empobreceu: num ano, o índice de pobreza dos idosos dos EUA aumentou 2,1 por cento.

Como notam os autores do estudo, estas alterações são estruturais: em 2018 o capitalismo já não consegue oferecer aos trabalhadores a perspectiva de uma velhice tranquila, confortável e descansada. Diz-nos que, apesar do formidável desenvolvimento tecnológico e produtivo dos nossos tempos, devemos trabalhar até morrer, como na crise capitalista de 1929.

(*)Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2332, 8.08.2018

(Com odiario.info)

Comentários