O sofisma dos barões da mídia



CRÍTICA DOS MEIOS

*Hermínio Prates

O ano dos milagres será o próximo, pois na garimpagem dos votos vale tudo, principalmente lesar os sonhos alheios. E já se fala e muito ainda há de se falar, em projeto que conserte o erro dos pavões do Supremo Tribunal Federal, lamentavelmente liderados pelo sinistro Gilmar Mendes. Banalizar o fazer jornalístico, sob o sofisma da democratização na veiculação de ideias, provado está que foi um crasso erro de lesa liberdade.
Ora, se pretendem dar vez e voz aos excluídos, por que não detonar os cartórios da mídia? Viabilizar emissoras de rádio e de televisão seria o caminho mais curto entre o respeito aos direitos da sociedade e o livre circular da pluralidade de idéias. Em linguajar menos pretensioso, afianço que se coragem houvesse, nada mais correto do que garantir a cada comunidade o acesso à emissão de sinais de rádio e televisão.
A legislação atual até admite tal possibilidade, mas na prática o que se vê é a burla total aos direitos de quem não faz parte do restrito clube dos barões da mídia. Colocar no ar uma emissora de rádio exige pouco dinheiro e uma de televisão um investimento perfeitamente possível para incontáveis segmentos da sociedade. Mas – raciocinam os impunes bacanas - para que correr riscos e diminuir lucros se é bem mais fácil pressionar as pessoas certas e manter os privilégios das concessões eternas?
Com a exceção da desativação da saudosa Rádio Mayrink Veiga (sufocada pelas botas militares pós-64) e a cassação de algumas emissoras associadas (em Minas a principal vítima foi a TV Itacolomi), alguém aí se lembra de outro caso de perempção?
Recentemente a Globo foi premiada com a renovação de várias concessões num piscar de olhos e sem que ninguém ousasse questionar as rasteiras dadas na legislação que deveria limitar o monopólio do poder de manipulação. E quem é besta de afrontar os filhos do doutor Roberto Marinho e outros filhos da voracidade?
Na outra ponta dos abusos pseudos democráticos (e já foi dito que a democracia nada mais é do que uma ficção baseada na romântica ilusão de que o homem é essencialmente bom e que a vontade da maioria será sempre uma expressão da verdade) estão os políticos de goelas abertas para engolir os votos do oportunismo. Tanto que atualmente se mantêm solidários com a perda dos jornalistas, cuja profissão já não exige o diploma da imparcialidade.
Em recente palestra na Academia Mineira de Letras Carlos Chagas deixou claro que não acredita que o mercado privilegie a qualificação e não vá empunhar o pé-de-cabra para arrombar de vez a credibilidade da informação.
Em conclusão acaciana, salientou que é mais fácil sufocar os que são apadrinhados do que enfrentar a coerência dos que se unem em associações de classe. E o que dizer da manipulação da verdade graças à subserviência dos capachos e fantoches?
Podemos recuperar o direito que nos foi roubado? É possível, desde que a nossa mobilização consiga impressionar aqueles que só legislam em causa própria e que, só nos escassos cochilos, favorecem a maioria.
Ora, ora, se no início não havia um diploma específico, mas se exigia vasto conhecimento para quem pretendesse ser jornalista, o que será necessário hoje? Livre navegar na internet, plágio de textos alheios e acentuado descaramento? Mais ainda: deslumbramento pelo discutível status e a possibilidade de bajular os que mandam ou que piscam no acende-apaga da fama?
É pouco, muito pouco, um quase nada para um país que se imagina ser sério.
Fatos que merecem reflexão: na Venezuela o governo cassou a concessão dos que manipulam a verdade e a mídia brasileira babou de ódio; na Argentina Cristina Kishner tenta minimizar os efeitos deletérios da excessiva concentração de poder do grupo Clarin e já a consideram uma bruxa. E o que dizer da leitura caolha que fazem dos gestos de Evo Morales e Rafael Correa que pretendem democratizar a mídia eletrônica na Bolívia e no Equador?
Todos – disseram eles - são demônios e merecem a fogueira eterna por ousarem tanto. Mas a grita dos nossos deformadores de opinião não foi ouvida quando os golpistas de Honduras fecharam emissoras de rádio e televisão. Em todos os casos, os barões da mídia brasileira rezam pela mesma cartilha da SIP, a suspeita Sociedade Interamericana de Prensa, cujos tentáculos sufocam os lampejos da liberdade.
*Jornalista.
herminioprates@ig.com.br
(Imagem: Google/Reprodução)

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