Como era gostoso nosso baiano



Lilia Moritz Schwarcz (*)
De 24 a 28 de maio só deu Jorge Amado. Primeiro em São Paulo e depois em Salvador, um seminário acadêmico internacional dedicou-se ao estudo da obra do escritor baiano, a partir dos mais diferentes ângulos. Em São Paulo, 250 alunos assistiram ao evento, com direito a muita pipoca quando se projetou o filme Jorge, de João Salles; tudo no sisudo auditório de História e Geografia da USP, pronta e transitoriamente transformado em sala de cinema.
Já em Salvador o encontro ocorreu no Anfiteatro da Faculdade de Medicina, localizado no Pelourinho; paradoxalmente, o edifício em que Nina Rodrigues, médico baiano adepto das teorias deterministas raciais, pregava a separação entre brancos e negros. Ironias à parte, dessa vez reinou o mago Jorge, adepto dos modelos culturalistas e prontamente desnudado a partir de temas como mestiçagem e raça, cultura e política, gênero e sexualidade, religiosidade e sincretismos.
Para quem queria saber “o que é que a Bahia tem”, o cardápio foi variado. Analisou-se não só a arte de Jorge Amado, capaz de mestiçar tudo – cores, cheiros, temperos, sexo, comidas, religiões –, como certas dificuldades do bardo, que em matéria de homossexualismo mostrava lá seus receios e constrangimentos. Além do mais, uma palestra bem humorada recuperou um rosário de termos amadianos, que nas obras sociais opôs de um lado comunistas, de outro as elites. Os primeiros seriam sempre definidos como bons, pais adoráveis, partidários do casamento moral. Já os segundos, não só detestariam crianças, como fariam sexo só para procriar.
O seminário foi muito mais, e vai virar livro. Ganhou quem viu como “era gostoso o nosso baiano”.

Lilia Moritz Schwarcz (*) é professora titular no Departamento de Antropologia da USP e curadora do Seminário Jorge Amado. É autora de O espetáculo das raças, As barbas do imperador (vencedor do prêmio Jabuti na categoria ensaio), D. João carioca (em coautoria com Spacca) e O sol do Brasil, entre outros. (Companhia das Letras)

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