IDA DE CABRAL PARA AÉCIO DERRUBA VERA DO PAINEL

                                                           

247 - A partir da segunda-feira, a coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, uma das mais importantes das páginas políticas do País, não será editada mais, nesta campanha eleitoral, pela jornalista Vera Magalhães. Por decisão da direção do jornal, ela entrará em um período de licença de seis meses. A decisão foi motivada pelo fato de o marida dela, Otavio Cabral, ter sido contratado como chefe da assessoria do presidenciável Aécio Neves, do PSDB. Para o patrão e diretor Otavinho Frias Filho, passou a existir um conflito de interesses sobre a profissional.

No fim de semana, a coluna Painel noticiou em sua abertura que Aécio evoluía em conversas para atrair o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para ser seu vice. O vazamento da informação, um verdadeiro furo de colunismo político, foi atribuído a Cabral nos bastidores da mídia (aqui). O fato é que Otavinho prendeu-se a essa questão e tirou de cena uma jornalista com mais de dez anos de jornal, que comandava uma seção estratégica para a Folha - e que lhe dá prestígio.

Não se levou em consideração que marido e mulher pudessem estabelecer o que é chamado de "muralha chinesa". É um expediente comum, mas que depende da confiança. Por ele, apesar da convivência, não se podem trocar impressões ou segredos sobre um determinado tema. 

No caso, na prática, para haver a separação de interesses, Otavio não poderia tratar de temas da campanha com Vera, nem ela a respeito dos bastidores da Folha para o marido. Uma situação realmente difícil, mas que existe. Otavinho, porém, se considerou essa hipótese, descartou-a com a nota sobre Meirelles. Pegou mal, deixando a dúvida sobre coincidência ou inside information de dentro da campanha.

No campo da sucessão presidencial, Aécio saiu perdendo. Tudo o que ele não precisa é de ruídos ao seu redor, quanto mais estrondos entre seus escolhidos de confiança. Mesmo recém-chegado às hostes aecistas, Cabral iria - ou ainda irá - desempenhar funções nas quais, necessariamente, se dividem segredos e estratégias. 

Como, por exemplo, ficar sabendo antes que Aécio havia procurado Meirelles. Entre uma coincidência e uma articulação, Otavinho, da Folha, preferiu ficar com a segunda hipótese, e puniu sumariamente a profissional. Num jornal acostumado a usar a força bruta contra seus jornalistas, a Folha adotou a solução mais de praxe.

Nos desdobramentos, espera-se para saber que será o sucessor de Vera Magalhães e, também, se haverá clima para a permanência de Otavio Cabral no coração da campanha tucana. Um final difícil para um caso que ainda vai render muita tinta e caracteres de análise e avaliação sobre a relação entre fontes, jornalistas e patrões. (Com Brasil 247)

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