“Bala de borracha cega, mas não cala”, diz fotógrafo atingido nas Jornadas de Junho

                                                                        
Sérgio Silva perdeu a visão do olho esquerdo por conta da violência policial em protesto de São Paulo. Um ano depois, ele defende a desmilitarização e realiza exposição “Piratas Urbanos”

Isadora Otoni

Há um ano, o fotógrafo Sérgio Silva foi atingido por uma bala de borracha. A munição utilizada em protestos pela Polícia Militar fez com que ele perdesse a visão do olho esquerdo. O disparo foi feito no dia mais violento das Jornadas de Junho, na quinta-feira (13). No entanto, os manifestantes ainda hoje estão submetidos ao mesmo perigo.

Como forma de protesto, Sérgio realiza a exposição Piratas Urbanos, em cartaz até o dia 28 de junho na sede da ONG Coletivo Digital, em São Paulo. As fotos expostas retratam diversas pessoas usando um tapa-olho. E, realmente, qualquer uma das pessoas retratadas poderiam estar na situação do fotógrafo.

Hoje, ele continua com seu trabalho, mas ainda está se adaptando a sua condição. Sérgio não foi indenizado, sequer as despesas médicas foram cobertas, conforme relatou à Fórum. Para dar um fim na violência policial, ele pede a desmilitarização e o fim do governo autoritário de São Paulo.

Fórum – Como você propõe que a violência policial em manifestações tenha fim?
                                                                           
Sérgio Silva – O caminho é apenas um: desmilitarizar a polícia e desbancar o governo autoritário do Estado de São Paulo. Manifestar-se, desde que seja pacificamente, está garantido em Constituição. Teoricamente, estamos sob um Estado democrático, então, por que a polícia continua sendo militar? Infelizmente, ainda estamos um pouco longe dessa desmilitarização ocorrer, mas podemos começar desarmando os policiais com as consideradas armas “menos letais” e fazendo com que eles entendam que a luta de classe também servirá para eles.

Fórum – Qual o intuito da exposição Piratas Urbanos?

Sérgio - Protestar contra toda esta violência e repressão às manifestações e não deixar que esqueçam que a bala de borracha cega, mas não cala. Além, claro, de reforçar o quanto a polícia militarizada aplica sua violência por todo o país. Também há por trás da questão política, meu momento pessoal de superar toda dificuldade que a falta de uma das visões veio cometer. Continuar fotografando é minha resposta pessoal para eles.

Fórum – Você ganhou algum processo pela violência que sofreu? Alguma indenização?

Sérgio - A única coisa que ganhei foi um pedido negado dos custos hospitalares e com medicamentos que adquiri por conta da agressão, ou seja, nada de positivo até o momento.

Fórum – O que mudou na sua carreira e na sua vida cotidiana desde que perdeu a visão de um olho?

Sérgio - A grande mudança em minha carreira é descobrir que preciso me esforçar ainda mais do que eu imaginava para produzir um bom trabalho e fazer com ele seja importante para outras pessoas também. Em relação ao cotidiano, é um processo contínuo que só irei terminar de descobrir depois que eu passar dessa para uma melhor. (Com o Portal Fórum)

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