DIREITOS HUMANOS

                      
Histórias para não esquecer

Míriam Leitão 

Texto enviado pela autora para ser lido na noite de entrega do 31º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo (Porto Alegre, 10/12/2014), promovido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e OAB-RS, e conquistado pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha, na categoria Online, pela reportagem “A repórter pergunta, o ministro gagueja“ (que inclui o depoimento “Eu sozinha e nua, eu e a cobra, eu e o medo”), publicada no Observatório da Imprensa em 19/8/2014

      
Ao Jair Krischke e queridos amigos do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e da OAB do Rio Grande do Sul.

Nunca achei minha história importante, nunca quis falar sobre ela, nunca pedi indenização. Não foi fácil falar.

Esse depoimento é fruto da persistência do repórter Luiz Claudio Cunha e fiquei feliz em saber que o relato foi acolhido no nosso querido Observatório da Imprensa, e agora premiado pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) do Rio Grande do Sul.

Parabéns Luiz Cláudio, é seu o mérito. Por ter sempre trabalhado como jornalista, pude apreciar melhor com que delicadeza você tratou uma história que nunca pensei em tornar pública.

Antes disso falei uma única vez: diante do tribunal militar que me julgou. Aos juízes fardados e ilegítimos denunciei os maus tratos, mesmo achando que era causa perdida. Não era. Um trechinho saiu no Brasil: Nunca Mais e por lá a sagacidade do repórter Luiz Cláudio Cunha puxou o fio da meada que me levou a contar o que eu vivi.

Tenho noção clara de que muitos sofreram mais que eu. Cada um sabe as cicatrizes que carrega de um tempo que não pode ser repetido.

Os militares nunca reconheceram seu erro. E isso é uma sombra que se projeta para o futuro. Mais que a impunidade dos torturadores, o que me assusta é que eles são protegidos até hoje pelas Forças Armadas do Brasil.

Quando a reportagem de Luiz Claudio Cunha saiu recebi palavras lindas, mas muitos jovens me criticaram por ter participado de organizações que, segundo eles, não eram libertárias. “Você não lutou pela democracia”, disseram.

Por isso queria dirigir aos jovens meu recado: Sim, lutei pela democracia. Fomos encurralados. Cada um buscou a trincheira possível. Cada um de nós pagou seu preço. Foi a luta coletiva que nos trouxe até aqui.

Tenho orgulho de ter estado do lado certo: contra a ditadura militar.

Lembro, com gratidão, dos que perderam a vida naqueles tempos extremos.

Que a pátria não se esqueça deles.

[Rio de Janeiro, 10/12/2014]

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Míriam Leitão é jornalista

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