Comissão da Verdade de MG vai divulgar quarta-feira relatório final com informações inéditas sobre a repressão da ditadura no Estado

                                   
A Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg) vai lançar, na próxima quarta-feira, o relatório final do colegiado, que investigou por quatro anos violações de direitos humanos, como torturas, mortes e desaparecimentos, que aconteceram no Estado entre 1946 e 1988, em especial as decorrentes da ditadura. O documento tem cerca de 1.600 páginas e traz, segundo os pesquisadores, fatos inéditos.

O coordenador da Covemg, Robson Sávio (foto), conta que cerca de cem pessoas participaram da investigação, a maioria composta por voluntários, o que contribuiu para um relatório exaustivo, mas que ele diz que não é conclusivo. A comissão ouviu 222 pessoas que vivenciaram acontecimentos do período e realizou pesquisas em acervos públicos e privados. Todo o banco de dados utilizado, conforme ele, vai ser disponibilizado no portal do colegiado.

O coordenador diz que um dos diferenciais do documento são as recomendações dirigidas aos Três Poderes. “Têm muitos fatos inéditos, como a extensão da ditadura no interior de Minas, e uma série de recomendações. É muito importante, além de contar histórias do passado e revelá-las por meio das vítimas, projetarmos para o presente e o futuro recomendações aos Três Poderes. Esperamos que a comunidade possa se apropriar desse relatório e cobrar medidas que mitiguem ou eliminem as práticas de violação de direitos”, declarou.

O relatório é dividido em cinco volumes e em grandes temas, como repressão a camponeses, trabalhadores urbanos, indígenas, universidades mineiras e religiosos. Ele mostra quais foram as principais violações que levaram as vítimas ao óbito, a frequência com que cada uma delas ocorreu e nomes de presos políticos e de agentes que participaram dessas práticas. O documento também vai tornar públicas cartas de presos que denunciaram torturas.

Ainda segundo Sávio, o documento aponta que a ditadura, ao contrário do que muitas pessoas pensam, “era muito mais extensa do que as forças armadas e policiais”. “Ela tinha uma série de outros tentáculos que envolviam empresas públicas e privadas, outros atores da sociedade, e isso, em Minas, é muito claro no interior. E operaram de forma a ratificar decisões arbitrárias, colaborar ou até produzir novas violações com a certeza do respaldo pela cúpula militar”, conta.

O relatório vai ser lançado em duas solenidades no dia 13 de dezembro – em alusão ao dia em que foi instituído o AI-5 no país. O primeiro evento será às 9h30 na Assembleia Legislativa. Depois, às 16h30, os documentos serão entregues aos representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, no Palácio da Liberdade. O relatório também vai ser disponibilizado no portal www.comissaodaverdade.mg.gov.br. (Fransciny Alves)

(Com O Tempo)



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