Memorial da Anistia Federal tem suspeita de corrupção

                                                                                                   Raquel Freitas/G1
Jaime Arturo Ramirez e Sandra Goulart Almeida foram levados para a Superintendência da PF em Belo Horizonte; polícia apura desvio de R$ 4 milhões na construção do Memorial da Anistia Política.


 Raquel Freitas e Fernando Zuba, G1 MG e TV Globo

Operação da PF investiga desvio na implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil

O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaime Arturo Ramirez, a vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, e o presidente da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira, foram alvo de condução coercitiva pela Polícia Federal em uma operação na manhã desta quarta-feira (6), em Belo Horizonte.

A operação "Esperança Equilibrista" apura um suposto desvio de cerca de R$ 4 milhões em recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil.

De acordo com a decisão judicial ao qual o G1 teve acesso, além dos atuais reitor e vice-reitora, também foram conduzidos coercitivamente as ex-vice-reitoras Rocksane de Carvalho Norton e Heloisa Gurgel Starling. Outras duas mulheres contratadas pela Fundep, Silvana Coser e Sandra Regina de Lima, também foram levadas para a Superintendência da Polícia Federal na capital mineira.

A assessoria de imprensa da UFMG disse, em nome da universidade, da Fundep, do reitor, da vice-reitora e da pesquisadora Sandra Regina de Lima, que não pode se manifestar “sobre os fatos que motivam a investigação em curso”, por se tratar de uma investigação sigilosa. A Universidade disse ainda que vai contribuir com as investigações, “dada a transparência com que lida com as questões de natureza institucional, a UFMG torna público que contribuirá, como é sua tradição, para a correta, rápida e efetiva apuração do caso específico”.

Nem o reitor nem o advogado quiseram falar com a imprensa na saída da Polícia Federal. O presidente da Fundep também disse que não vai se pronunciar.

Na saída, Silvana Coser, contratada da Fundep, negou ter conhecimento de desvio de recursos. Ela disse que foi chamada pela Polícia Federal em casa, às 6h desta quarta-feira (6), e prestou depoimento por horas.

"Primeiro, estou sabendo deste valor [R$ 4 milhões] por vocês. Eu desconheço isso. Até porque eu trabalho em uma instituição íntegra, séria e com 90 anos de história para provar. Não só a instituição é séria como as pessoas envolvidas são sérias. De modo que eu desconheço qualquer desvio", disse Silvana.

O advogado de Heloísa Starling não quis falar com a imprensa na saída da PF. A professora deixou o prédio por outra porta.


A investigação

De acordo com o delegado da Polícia Federal Leopoldo Lacerda, o inquérito aponta que, até o momento, teriam sido gastos mais de R$ 19 milhões na construção do memorial e pesquisas de conteúdo, mas, de acordo com a polícia, “o único produto aparente é um dos prédios anexos, ainda inacabado”.

Ainda segundo as investigações, os quase R$ 4 milhões teriam sido desviados por meio de fraudes em pagamentos realizados pela Fundep, contratada para realizar as pesquisas de conteúdo e produção de material para a exposição de longa duração que o memorial abrigará.

Segundo o delegado, os R$ 4 milhões foram desviados para outras contas da Fundep, mas que as investigações vão apontar para quais projetos. Ainda conforme Lacerda, os bolsistas também podem ter sido vítimas do golpe e eles serão ouvidos posteriormente.

A Polícia Federal disse ainda que vai investigar como o restante do dinheiro - R$ 15 milhões - foi usado. Ainda segundo a polícia, outro indício de fraude está ligado à publicação de um livro que não tem relação com o projeto. A PF também investiga uma possível editora fantasma.

Ao todo, foram cumpridos nesta quarta-feira sete mandados de condução coercitiva - quando o suspeito é levado para depor - e 11 de busca e apreensão. Um mandado de condução coercitiva não foi cumprido porque a pessoa, que não teve o nome divulgado, não foi encontrada. A operação conta com 84 policiais federais e 15 auditores da Controladoria-Geral da União (CGU).

                                                                                           Raquel Freitas/G1
Professores da UFMG protestam em frente a sede da Polícia Federal 
                                                                                                          
Professores e funcionários da UFMG foram à sede da Polícia Federal para se manifestar a favor dos servidores da UFMG que foram conduzidos coercitivamente. Eles pediam que os professores fossem soltos e escreveram no asfalto “a UFMG luta”. Os manifestantes comemoraram a saída do reitor da Superintendência da PF.

“Estamos vivendo um momento [político] complexo, delicado, um momento que a gente pode chamar de exceção. Saindo de nossas casas correndo para vir dizer que nós estamos indignados com isso que ocorreu hoje com a direção da UFMG. É um sinal desse momento que estamos vivendo”, disse a professora da Faculdade de Medicina Eli Iola Gurgel.

Para a ex-ministra e professora da UFMG Nilma Lino Gomes, a operação é um "ataque à democracia" e "não é um caso isolado". "A UFMG resiste e nós resistiremos junto com ela", afirmou.

A vereadora Áurea Carolina (PSOL), mestre pela UFMG, considera que a operação é uma violência simbólica.

 "O ataque à universidade pública, ainda mais em um projeto que trata da apresentação de uma pesquisa sobre a memória e a verdade em relação ao período da ditadura militar, é uma violência simbólica, uma violência física também contra as pessoas que foram conduzidas coercitivamente.(...) Eles querem que a população brasileira desconheça a história ditadura militar. Querem apagar as marcas da tortura e da repressão", disse.

(Com o G1)

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