Movimentos populares lançam manifesto contra posição do Itamaraty sobre a Venezuela

                                                                 
                                                               
"Todos sabemos que a disputa na Venezuela não é pela democracia, mas sim pelas reservas de petróleo", diz o texto

 Movimentos populares do Brasil divulgaram nesta sexta-feira (18) uma nota de repúdio ao posicionamento do Itamaraty sobre o governo recém-empossado de Nicolás Maduro na Venezuela. O texto afirma  que a atitude do governo Bolsonaro (PSL) "cobre de indignidade o governo brasileiro e representa escandalosa violação do direito internacional".

Na nota emitida após reunião do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, com líderes opositores venezuelanos, o Itamaraty afirma que o governo Maduro está "baseado na corrupção generalizada, no narcotráfico, no tráfico de pessoas, na lavagem de dinheiro e no terrorismo". 

Os movimentos afirmam que as acusações feitas são difamatórias e sem provas, e que "desnudam o despreparo dos novos mandatários e sua submissão ilimitada aos interesses da Casa Branca". A carta de repúdio aponta que "as acusações de terrorismo e narcotráfico são algumas das difamações destinadas a criar na opinião pública brasileira e latino-americana  clima favorável à agressão imperialista, da qual o governo Bolsonaro se oferece como cúmplice servil".

 O texto crítico ao governo Bolsonaro ressalta o avanço da democracia na Venezuela sob os governos chavistas: "Desde que Hugo Chávez tomou posse como presidente do país, em 1999, ocorreram 23 processos eleitorais ou referendos nacionais, nenhum partido de oposição jamais foi interditado e a mídia oposicionista continuou a existir livremente. 

Ao contrário dos inimigos do povo, que ansiando controlar o petróleo,  recorreram de forma contumaz a expedientes golpistas e ilegais, com atos terroristas, como aconteceu na última semana em que queimaram depósitos de remédios". 

Em relação ao questionamento feito pelo governo brasileiro às eleições que levaram Maduro ao segundo governo, os movimentos declaram que "as eleições de maio de 2018, foram acompanhadas por mais de 200 observadores internacionais entre eles o ex-presidente do Senado da França, Jean-Pierre Bel e o ex-presidente da Espanha José Luiz Rodríguez Zapatero".

 Além do encontro no Itamaraty, Bolsonaro recebeu no Planalto Miguel Ángel Martín, que se autointitula presidente do Tribunal Supremo de Justiça no exílio. Os movimentos brasileiros denunciaram que, "ao tentar reconhecer alguns líderes de oposição, como 'governo interino' ou legitimo", o governo Bolsonaro participa de "um ato de usurpação sem qualquer amparo legal e à revelia da soberania popular".

Leia a nota na íntegra:

"APOIAMOS A SOBERANIA DO POVO VENEZUELANO E O MANDATO CONSTITUCIONAL DE NICOLÁS MADURO"



A recente nota do Itamaraty sobre o governo Nicolás Maduro cobre de indignidade o governo brasileiro e representa escandalosa violação do direito internacional. Suas acusações difamatórias e sem provas desnudam o despreparo dos novos mandatários e sua submissão ilimitada aos interesses da Casa Branca. 

Suas palavras não têm nenhum valor, por buscarem ocultar a realidade venezuelana: desde que Hugo Chávez tomou posse como presidente do país, em 1999, ocorreram 23 processos eleitorais ou referendos nacionais, nenhum partido de oposição jamais foi interditado e a mídia oposicionista continuou a existir livremente. Ao contrário dos inimigos do povo, que ansiando controlar o petróleo, recorreram de forma contumaz a expedientes golpistas e ilegais, com atos terroristas, como aconteceu na última semana, em que queimaram depósitos de remédios.

Os governos de Hugo Chávez 
e Nicolás Maduro jamais atuaram
fora das regras constitucionais.

As eleições de maio de 2018, foram acompanhadas por mais de 200 observadores internacionais, como o ex-primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, o ex- embaixador do Brasil, Samuel Pinheiro e o representante da Comissão Central Eleitoral da Rússia, Vasili Likhachev, entre outros e outras.  

Contaram também com a participação do Conselho de Especialistas Eleitorais da América Latina (CEELA), que vem observando os últimos pleitos na Venezuela. 


Os ataques mentirosos e levianos da chancelaria brasileira, na verdade, são parte de uma escalada diplomática que tem como objetivo preparar as condições para uma intervenção militar estrangeira.

 Ao reconhecer alguns dirigentes da Assembleia Nacional como “governo interino”, o governo Bolsonaro participa de um ato de usurpação, sem qualquer amparo legal e à revelia da soberania popular. O Itamaraty se revela domesticado às pretensões do governo estadunidense, que escolheu esse caminho para aprofundar a ingerência e a sabotagem contra o povo venezuelano.

As acusações de terrorismo e narcotráfico são algumas das difamações destinadas a criar, na opinião pública brasileira e latino-americana, um clima favorável à agressão imperialista da qual o governo Bolsonaro se oferece como cúmplice servil. 

Todos sabemos que a pressão contra a Venezuela não é  por democracia, mas sim pelas reservas de petróleo, das quais as empresas transnacionais querem se apoderar.

Diante desse descalabro, os movimentos populares da cidade e do campo, em conjunto com todas as forças progressistas, repudiam essa postura do governo brasileiro e conclamam à resistência contra qualquer iniciativa que tenha como intenção violar a soberania, a democracia e a situação econômica na República Bolivariana da Venezuela.

 São Paulo, 18 de janeiro de 2019

ASSINAM ESTE MANIFESTO:

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Central Única dos Trabalhadores – CUT

Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela  

Confederação Nacional dos Metalúrgicos

Conselho Indigenista Missionário – CIMI  

Federação Única dos Petroleiros – FUP

Levante Popular da Juventude

Marcha Mundial das Mulheres – MMM

Movimento dos Atingidos por Barragens -  MAB

Movimento Camponês Popular - MCP

Movimento pela Soberania Popular da Mineração – MAM

Movimento de Mulheres Camponesas – MMC

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

Movimento dos Pescadores e Pescadoras – MPP  

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST 

Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD 

Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba

Pastoral da Juventude Rural - PJR

Rede de médicos e médicas Populares  

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

União Brasileira de Mulheres - UBM

Intelectuais  e amigos da Venezuela:  

Breno Altman – Jornalista 

Cláudio Katz – Intelectual e Economista Argentino 

Fernando Morais – Escritor e Jornalista  

Horácio Martins de Carvalho – Cientista Social e Agrônomo 

José Reinaldo Carvalho, jornalista, editor do site Resistência e diretor do Cebrapaz

João Pedro Stedile – Via Campesina  

Marco Antônio Santos - Psicólogo – SP

Olímpio dos Santos - Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro

Pe. José Oscar Beozzo - professor de História da Igreja na América Latina

Roberto Amaral – Escritor 

Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz"

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