Foram dois socos bem dados
Paula Bianchi (*)
Aqui no Intercept usamos duas palavrinhas incomuns para definir nosso trabalho. O jornalismo do TIB é essencialmente de impacto e adversário.
O impacto que buscamos é responsabilizar poderosos, megacorporações, governos e figuras públicas por suas ações que causam danos à população, aprofundam desigualdades e provocam injustiças.
Este é um jornalismo adversário: não vive de negociatas, não respeita o "você sabe com quem está falando", não é patrocinado por bancos ou farmacêuticas, não teme ameaças de justiceiros e não enche os textos de eufemismos porque é mais "seguro". Às vezes a verdade tem lado, sabia?
É isso que perseguimos no nosso trabalho o tempo todo, e ficamos muito felizes quando o impacto acontece de maneira concreta, quando conseguimos expor os adversários do interesse público e da democracia. Foi exatamente o que aconteceu nas últimas semanas e estou escrevendo para te contar. Mais do que isso, para prestar contas, já que o jornalismo do TIB é financiado por seus leitores. São vocês os nossos verdadeiros patrões.
No início de abril contamos a história de um pet shop em Pelotas que foi contratado pelo governo de Eduardo Leite (PSDB) para fazer exames de coronavírus. O contrato foi feito sem licitação por ser “um laboratório de excelência”.
O que o público não sabia e nós revelamos é que a empresa só incluiu o serviço “laboratórios clínicos” entre a descrição de suas atividades na Receita Federal em 6 de abril – três dias depois da assinatura do contrato de R$ 8 milhões.
Publicamos essa denúncia e, dias depois, o Ministério Público entrou na história pedindo a suspensão do contrato. O MP também decidiu investigar como um pet shop teria os reagentes necessários para tais exames, já que nem laboratórios renomados estão conseguindo acesso a esses materiais.
A justiça deu 48 horas para Leite se explicar e o governo gaúcho, sem ter para onde correr, colocou o contrato para escanteio.
Nessas ocasiões comemoramos no TIB: impacto!
No final de abril, aconteceu de novo! O governo de Santa Catarina acertou por R$ 33 milhões a compra relâmpago de 200 respiradores com a Veigamed, empresa que nunca tinha fornecido esse aparelho. Para concretizar a licitação forjada, o governo de Carlos Moisés (PSL) recebeu propostas de empresas com o mesmo endereço.
No dia seguinte à publicação, um juiz bloqueou o dinheiro nas contas da empresa e a Assembleia Legislativa criou uma CPI, para apurar as irregularidades apontadas por nossa reportagem. O Secretário de Saúde Helton Zeferino foi exonerado e no último sábado o Gaeco e a Polícia Civil cumpriram 35 mandados de busca e apreensão e sequestro de bens em Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso.
Ontem o Secretário da Casa Civil do estado se demitiu. Olha o tamanho desse impacto! Continuaremos acompanhando essa história, já que a CPI começa hoje, e vamos te contar o desenrolar dela!
Os anos de trabalho no TIB me mostraram que jornalistas podem vencer políticos e empresários, mas têm que estar dispostos a entrar na briga. Se você não acredita só na força do dinheiro, mas também na capacidade do jornalismo que luta e não se vende, o Intercept é o seu lugar.
Se o que você deseja é irritar, responsabilizar e derrubar mais corruptos, governantes mentirosos e, sobretudo, a extrema direita, você deve nos apoiar hoje com qualquer valor. Absolutamente nada disso é possível sem o apoio dos nossos leitores.
É em momentos de crise como esse que os urubus aparecem. Precisamos de jornalistas sem medo para afastá-los. Essa é a hora de você vir para o Intercept.
QUERO CAUSAR IMPACTO →
Um forte abraço,
(*) Paula Bianchi é redatora de The Intercept Brasil.
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