PROFESSOR VIVE DE TEIMOSO
Contracheque de professor
não tem hífen nem salário
* Carlos Lúcio Gontijo
O português, mais que a língua que falamos, é o veículo responsável pela comunicação entre os brasileiros e, principalmente, fator determinante, na área da educação, dos graus de compreensão e absorção dos conteúdos técnico e acadêmico de todas as disciplinas, transformando-se, assim, no eixo regulador de tudo no campo da intelectualidade e da informação.
Não é à toa, portanto, que os educadores se nos apresentem extremamente preocupados com o fato de alunos de 5ª série não saberem ler nem escrever, demonstrando em suas redações problemas relativos à ortografia, organização lógica de texto e pontuação. Ou seja, os estudantes se nos revelam incapacitados para se comunicarem graficamente, expressando-se de forma desconexa e incompreensível.
Aparente e explicitamente, assistimos à materialização de uma política educacional que foi montada para mostrar resultados estatísticos a curto prazo, chegando mesmo a afirmar, implicitamente, que não há preocupação com o processo de aprendizagem, e sim com os números, que indicam quase o fim da repetência e da reprovação, mas à custa de queda significativa no nível de conhecimento dos alunos.
Em suma, assistimos ao aumento de número de crianças e adolescentes nas escolas, mas visualizamos a triste constatação de que há muitos problemas na formação dos alunos, denotando graves falhas de alfabetização, cuja correção pode levar anos, além de estar colocando em xeque a ideia de se organizarem as escolas em ciclos, anunciada como novidade, apesar de ser discutida desde os anos 1940, quando houve uma reforma educacional na Inglaterra, após o término da Guerra Mundial.
Estranha e extemporaneamente, foi nesse ambiente educacional repleto de emaranhados e imbróglios que o governo brasileiro resolveu propugnar pela reforma ortográfica que mexe com alguns acentos, junta e hifeniza algumas palavras, traduzindo uma visão turva de que, assim, se estaria facilitando a construção de uma pretensa comunidade lusófona (Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé, Moçambique, Timor Leste e Guiné-Bissau), quando, ao que se sabe e nos ensina a sociologia, tal panorama se dá, realmente, pela similaridade de usos, costumes e, claro, da língua. Ou seja, fila continuará chamada de bicha em Portugal, apesar da desnecessária reforma ortográfica.
A insofismável realidade é que não há como alicerçar educação sobre o pagamento de tão baixos salários aos professores. Ao nos deparar com o discurso de prioridade para a área educacional proferido pelas autoridades governamentais, somos levados a não acreditar, pois os fatos concretos são estarrecedores. Em Minas Gerais, por exemplo, as bibliotecárias são alocadas no quadro permanente, mesmo diante das promessas (e propagandas institucionais) de valorização da leitura, reconhecidamente indispensável para o aprendizado do aluno. Um contracheque de professora/bibliotecária preste a se aposentar nos prova (e comprova), sem rodeios nem tergiversações, a triste realidade: vencimento básico (344,07); qüinqüênio admin. ec. (34,41); qüinqüênio administrativo (68,81); auxilio transporte (30,60); auxílio refeição (45,00); vantag. temp. incorp. 34,41; Aspemg-mens/contrib. (16,73); Ipsemg assist. médica (20,68); contrib. Prev. Art. 28 (71,08)... E, finalmente, pondo fim à falácia da classe política, pasmem, líquido a receber: R$ 613,31.
Como escritor menor, com 11 obras e trabalhando para o lançamento de dois novos títulos em maio deste ano (o livro infantil DUDUCHA E O CD DE MORTADELA; e o romance JARDIM DE CORPOS), deixo arrebatar-me por desmedida indignação, perante um Estado que se tornou grande demais para cuidar das pequenas demandas do povo e extremamente pequeno para intervir e solucionar os grandes problemas sociais. Por fim, só me resta recorrer a um antigo aforismo de minha autoria e que serve de alerta aos que, metidos em exacerbado individualismo, se utilizam da máquina estatal em proveito próprio, como se contassem com a eterna passividade da população cada vez mais espoliada, empobrecida e desesperada: No palco solidário da arte do amor e da vida em parceria, não há espaço para os que optam pelo egoísmo da carreira solo.
* Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
não tem hífen nem salário
* Carlos Lúcio Gontijo
O português, mais que a língua que falamos, é o veículo responsável pela comunicação entre os brasileiros e, principalmente, fator determinante, na área da educação, dos graus de compreensão e absorção dos conteúdos técnico e acadêmico de todas as disciplinas, transformando-se, assim, no eixo regulador de tudo no campo da intelectualidade e da informação.
Não é à toa, portanto, que os educadores se nos apresentem extremamente preocupados com o fato de alunos de 5ª série não saberem ler nem escrever, demonstrando em suas redações problemas relativos à ortografia, organização lógica de texto e pontuação. Ou seja, os estudantes se nos revelam incapacitados para se comunicarem graficamente, expressando-se de forma desconexa e incompreensível.
Aparente e explicitamente, assistimos à materialização de uma política educacional que foi montada para mostrar resultados estatísticos a curto prazo, chegando mesmo a afirmar, implicitamente, que não há preocupação com o processo de aprendizagem, e sim com os números, que indicam quase o fim da repetência e da reprovação, mas à custa de queda significativa no nível de conhecimento dos alunos.
Em suma, assistimos ao aumento de número de crianças e adolescentes nas escolas, mas visualizamos a triste constatação de que há muitos problemas na formação dos alunos, denotando graves falhas de alfabetização, cuja correção pode levar anos, além de estar colocando em xeque a ideia de se organizarem as escolas em ciclos, anunciada como novidade, apesar de ser discutida desde os anos 1940, quando houve uma reforma educacional na Inglaterra, após o término da Guerra Mundial.
Estranha e extemporaneamente, foi nesse ambiente educacional repleto de emaranhados e imbróglios que o governo brasileiro resolveu propugnar pela reforma ortográfica que mexe com alguns acentos, junta e hifeniza algumas palavras, traduzindo uma visão turva de que, assim, se estaria facilitando a construção de uma pretensa comunidade lusófona (Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé, Moçambique, Timor Leste e Guiné-Bissau), quando, ao que se sabe e nos ensina a sociologia, tal panorama se dá, realmente, pela similaridade de usos, costumes e, claro, da língua. Ou seja, fila continuará chamada de bicha em Portugal, apesar da desnecessária reforma ortográfica.
A insofismável realidade é que não há como alicerçar educação sobre o pagamento de tão baixos salários aos professores. Ao nos deparar com o discurso de prioridade para a área educacional proferido pelas autoridades governamentais, somos levados a não acreditar, pois os fatos concretos são estarrecedores. Em Minas Gerais, por exemplo, as bibliotecárias são alocadas no quadro permanente, mesmo diante das promessas (e propagandas institucionais) de valorização da leitura, reconhecidamente indispensável para o aprendizado do aluno. Um contracheque de professora/bibliotecária preste a se aposentar nos prova (e comprova), sem rodeios nem tergiversações, a triste realidade: vencimento básico (344,07); qüinqüênio admin. ec. (34,41); qüinqüênio administrativo (68,81); auxilio transporte (30,60); auxílio refeição (45,00); vantag. temp. incorp. 34,41; Aspemg-mens/contrib. (16,73); Ipsemg assist. médica (20,68); contrib. Prev. Art. 28 (71,08)... E, finalmente, pondo fim à falácia da classe política, pasmem, líquido a receber: R$ 613,31.
Como escritor menor, com 11 obras e trabalhando para o lançamento de dois novos títulos em maio deste ano (o livro infantil DUDUCHA E O CD DE MORTADELA; e o romance JARDIM DE CORPOS), deixo arrebatar-me por desmedida indignação, perante um Estado que se tornou grande demais para cuidar das pequenas demandas do povo e extremamente pequeno para intervir e solucionar os grandes problemas sociais. Por fim, só me resta recorrer a um antigo aforismo de minha autoria e que serve de alerta aos que, metidos em exacerbado individualismo, se utilizam da máquina estatal em proveito próprio, como se contassem com a eterna passividade da população cada vez mais espoliada, empobrecida e desesperada: No palco solidário da arte do amor e da vida em parceria, não há espaço para os que optam pelo egoísmo da carreira solo.
* Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
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