QUANDO O DIABO É OUVIDO
* Carlos Lúcio Gontijo
Como Deus fez, intencionalmente, o inferno pequeno para o Diabo, ele enrola o rabo na mente dos homens, na certeza de que alguns se deixarão guiar pelo seu abanar...
Quando membros graduados da Igreja, por intolerância, substituem o diálogo ou o convencimento através da argumentação consistente pela excomunhão, eles estão, na realidade, cedendo seus dons cristãos aos desejos do Diabo, que tem como combustível de suas labaredas infernais o confronto e a discórdia social nos campos material, ideológico, político e religioso.
Aponta-nos a realidade do produto final apresentado pela classe política brasileira, que seria considerado inapropriado para o consumo da população caso tivéssemos uma espécie de Procon para análise do trabalho dos políticos, que ali está presente a ação do Diabo.
Apenas essa possibilidade pode explicar, por exemplo, que o mesmo governo que pune os aposentados com adoção de fator previdenciário – criado no governo Fernando Henrique Cardoso – e correções sempre abaixo dos índices inflacionários para os que recebem aposentadoria ou pensão acima do salário mínimo, autorize o aumento do comprometimento da minguada quantia paga aos que já deram sua contribuição ao mercado de trabalho com os famigerados empréstimos consignados descontados diretamente no contracheque.
Meus Deus, se a idéia é incrementar o consumo, por que não melhorar o valor das aposentadorias?
Marca presença o Diabo quando o Congresso opta, por livre deliberação de seus integrantes, pela permanência de lideranças históricas já provadas e desaprovadas: Sarney, Temer, Collor , Renan etc.
Num ambiente congressual assim endemoninhado, a população tem pelo menos a oportunidade de ter o ensinamento de que o mundo sempre segue em frente ainda que nos recusemos a caminhar. E não adianta chamarmos por Deus, clamar por Jesus Cristo e todos os santos, porque o Criador nos deu o direito ao passo e o dever de sermos responsáveis pelo nosso próprio destino.
Ademais, se esperarmos que o governo resolva os nossos problemas, tudo ficará ainda pior, pois ele já tem as suas demandas pessoais e as de seus apaniguados para cuidar, em nome dos quais é capaz de imoralidades como a recente ocorrência registrada no Senado, que autorizou o pagamento de horas-extras a seus funcionários em pleno recesso, no mês de janeiro deste ano.
Lamentavelmente, para alegria do Diabo, como nos diria Cícero – político e orador romano (106-43 a.C ) –, “não há tolice suficientemente descabida para deixar de ter seus seguidores e ferrenhos defensores”.
Vivemos uma democracia sopitando agentes públicos que tomam a unção das urnas como fonte do poder divino dos reis, exercendo administrações autoritárias e ditatoriais. A eleição vem servindo, a políticos com pendores imperialistas, como justo e exclusivo sinônimo de transparência, ainda que atropelando as leis. Ou seja, aquele que é sufragado pelo voto popular, tudo pode.
Se isso for diabolicamente levado a ferro e fogo, não demora muito e teremos gente defendendo a tese de que assalto (ou estupro) a mão armada cometido à luz do dia não é crime – não merece nem a malfadada excomunhão ou o fogaréu da inquisição!
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