QUE MORAL É ESSA?
A maldade humana desvirtua
as boas intenções e as orações
· Carlos Lúcio Gontijo
“Tem gente que cuida de gente/ Como quem separasse joio de trigo/ De uns é amigo, privilegia e adora/ A outros simplesmente sentencia e joga fora” (versos do poema “Divisor incomum”, do livro “O menino dos olhos maduros”).
No Brasil, os que se dizem entendidos em política são, na realidade e na maior parte das vezes, espertos defensores de seus próprios interesses; capazes de visualizar na traição e no comportamento oportunista do grupo a que pertencem um necessário ato estratégico de atuação política – e são esses mesmos senhores que trabalham, diuturnamente, para a eleição de políticos que lhes garantam a fácil proximidade com as benesses do poder alicerçado no toma-lá-dá-cá.
Nossas elites dirigentes se nos apresentam sempre predispostas a exercitar um corporativismo que ultrapassa o dia a dia, influenciando até na transcrição e registro da história dos políticos brasileiros, pois – a se levar em conta o que nos é revelado pelos livros memorialistas – tivemos um punhado de grandes governantes, verdadeiros estadistas, que se dedicaram ao bem exclusivo da comunidade brasileira. Porém, o fato inarredável é que, se tais homens existiram, isso se deu em quantidade para lá de insuficiente, uma vez que a cultura que impera no mundo político nacional é a da dilapidação e do uso indiscriminado da máquina pública em benefício próprio.
Os pobres e afastados do jogo de influência que se danem, que morram em chacinas cada vez mais comuns nas periferias distantes jogadas na miséria material pela falta de salário digno, e condenadas à pobreza intelectual pela falta de acesso democrático a ensino público de qualidade.
É incrível, mas a sociedade vem conseguindo acrescentar frequentes graus de hipocrisia em suas normas e regras comportamentais. Os abastados, por exemplo, não planejam nem almejam a constituição de um sistema prisional que possibilite a ressocialização do condenado, todavia, hipocritamente, são contra a pena de morte, fechando os olhos para as vidas ceifadas pelo amontoar de prisioneiros tratados como se não passassem de dejetos.
Defendemos a moral, mas tanto detestamos quanto tememos os moralistas – mesmo os bem-intencionados –, pois todos os movimentos pela moralidade e valorização do patrimônio sociocultural terminam usados por direitistas e políticos conservadores de plantão. Em 1964, à guisa de exemplo, saímos da oração e procissão para o golpe militar. Estamos tendentes a acreditar que a moral de um país só pode ser ferida de morte por outdoors e imagens de televisão quando seus alicerces são frágeis e o povo, em sua maioria, não teve oportunidade de frequentar boas escolas, sendo, portanto, desprovido de senso crítico que o afastasse dos “big brothers” da vida.
Que moral é essa que é atingida tão fortemente por programas de televisão de baixo conteúdo e desprovidos de quaisquer sentimentos em relação aos compromissos que os meios de comunicação deveriam ter com a população que, através de órgãos legalmente constituídos, lhes outorga a pública concessão?
É a mesma moral que aceita passiva e pacificamente a convivência com a exploração e a prostituição de menores, o trabalho escravo, a fome de pelo menos 50 milhões de brasileiros (dependentes da ração mínima do Bolsa Família), a divisão de renda anticristã, a guerra civil branca enchendo de sangue e avermelhando as ruas do País, onde a sociedade padece de falta de rumo e da existência de uma elite que não contribua para a transformação do “vinde a mim as criancinhas” em dístico da pedofilia, nem do franciscano “é dando que se recebe” em sinônimo de barganhas e favores políticos inconfessáveis.
*Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
as boas intenções e as orações
· Carlos Lúcio Gontijo
“Tem gente que cuida de gente/ Como quem separasse joio de trigo/ De uns é amigo, privilegia e adora/ A outros simplesmente sentencia e joga fora” (versos do poema “Divisor incomum”, do livro “O menino dos olhos maduros”).
No Brasil, os que se dizem entendidos em política são, na realidade e na maior parte das vezes, espertos defensores de seus próprios interesses; capazes de visualizar na traição e no comportamento oportunista do grupo a que pertencem um necessário ato estratégico de atuação política – e são esses mesmos senhores que trabalham, diuturnamente, para a eleição de políticos que lhes garantam a fácil proximidade com as benesses do poder alicerçado no toma-lá-dá-cá.
Nossas elites dirigentes se nos apresentam sempre predispostas a exercitar um corporativismo que ultrapassa o dia a dia, influenciando até na transcrição e registro da história dos políticos brasileiros, pois – a se levar em conta o que nos é revelado pelos livros memorialistas – tivemos um punhado de grandes governantes, verdadeiros estadistas, que se dedicaram ao bem exclusivo da comunidade brasileira. Porém, o fato inarredável é que, se tais homens existiram, isso se deu em quantidade para lá de insuficiente, uma vez que a cultura que impera no mundo político nacional é a da dilapidação e do uso indiscriminado da máquina pública em benefício próprio.
Os pobres e afastados do jogo de influência que se danem, que morram em chacinas cada vez mais comuns nas periferias distantes jogadas na miséria material pela falta de salário digno, e condenadas à pobreza intelectual pela falta de acesso democrático a ensino público de qualidade.
É incrível, mas a sociedade vem conseguindo acrescentar frequentes graus de hipocrisia em suas normas e regras comportamentais. Os abastados, por exemplo, não planejam nem almejam a constituição de um sistema prisional que possibilite a ressocialização do condenado, todavia, hipocritamente, são contra a pena de morte, fechando os olhos para as vidas ceifadas pelo amontoar de prisioneiros tratados como se não passassem de dejetos.
Defendemos a moral, mas tanto detestamos quanto tememos os moralistas – mesmo os bem-intencionados –, pois todos os movimentos pela moralidade e valorização do patrimônio sociocultural terminam usados por direitistas e políticos conservadores de plantão. Em 1964, à guisa de exemplo, saímos da oração e procissão para o golpe militar. Estamos tendentes a acreditar que a moral de um país só pode ser ferida de morte por outdoors e imagens de televisão quando seus alicerces são frágeis e o povo, em sua maioria, não teve oportunidade de frequentar boas escolas, sendo, portanto, desprovido de senso crítico que o afastasse dos “big brothers” da vida.
Que moral é essa que é atingida tão fortemente por programas de televisão de baixo conteúdo e desprovidos de quaisquer sentimentos em relação aos compromissos que os meios de comunicação deveriam ter com a população que, através de órgãos legalmente constituídos, lhes outorga a pública concessão?
É a mesma moral que aceita passiva e pacificamente a convivência com a exploração e a prostituição de menores, o trabalho escravo, a fome de pelo menos 50 milhões de brasileiros (dependentes da ração mínima do Bolsa Família), a divisão de renda anticristã, a guerra civil branca enchendo de sangue e avermelhando as ruas do País, onde a sociedade padece de falta de rumo e da existência de uma elite que não contribua para a transformação do “vinde a mim as criancinhas” em dístico da pedofilia, nem do franciscano “é dando que se recebe” em sinônimo de barganhas e favores políticos inconfessáveis.
*Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br
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