Coreia do Norte, o desafio do socialismo para o Século XXI






Antonio Carlos Mazzeo (*)


A morte do líder norte-coreano Kim Jong-Il (Kim é sobrenome) abre especulações sobre o futuro desse país socialista.


Para quem não sabe, a Coréia do Norte ou melhor, a República Democrática Popular da Coréia, nasce após uma dura e heroica guerra de libertação e de independência, em finais da década de 1940, contra a ocupação japonesa, sucessora imperialista do império coreano de raízes feudais-orientais, sob comando do Partido dos Trabalhadores da Coréia, e por sua liderança política máxima, Kim Il-Sung.

Após tentar liberar o sul da Coréia da dominação imperialista estadunidense e da guerra que se sucedeu contra esse país imperialista, de 1950 a 1953, com mais de 3 milhões de mortos entre militares e civis coreanos, sendo que do lado das forças imperialistas mais de 8 mil soldados mortos, consolida-se o socialismo no norte da península coreana.



A República Democrática Popular da Coréia conseguiu manter a altos custos sua independência, mas para além do paralelo 38, o que divide o país em dois a dominação imperialista continua.


Portanto, antes de mais nada, a República Democrática Popular da Coréia é um país que se forja na luta contra o imperialismo e na perspectiva da construção do socialismo. 


Obviamente existem graves problemas naquele pequeno país, se considerarmos as dimensões de seu vizinho a China ou o poderio econômico da Japão, que são oriundos de sua própria história milenar - se lembrarmos que o reino da Coréia é fundado por Dan-Gun, em 2.333 a.C. 


O país passou por processos de inserção na sociedade capitalista semelhantes às formações sociais da região. De reinos sob dominação de algumas famílias feudais para uma sociedade capitalista, sob dominação de algumas famílias burguesas, antiga nobreza que se transforma em burguesia (processo que Gramsci chamou de transformismo). Para que tenhamos uma idéia, somente uma dinastia (transformista) Joseon, hegemoniza o poder de 1392 a 1910(!!) 


O processo de modernização e de desenvolvimento capitalista é feito incompletamente "pelo alto", isto é, sem a participação popular, e mantendo largas zonas produtivas em estado de semi-feudalidade, com os camponeses sendo expropriados de seus trabalhos e mantidos na ignorância e no tradicionalismo desfigurado e corrompido pela noção do mercado capitalista.


A cultura de saudar seus governantes como "seres celestiais" vem dessa tradição, não totalmente desarticulada. A própria revolução socialista não somente deixou de combater esse tradicionalismo subserviente aos poderosos, como corroborou em transformar a liderança do país, particularmente o dirigente Kim Il-Sug como o "pai celestial", a estrela guia ,etc.


O Stalinismo, a pressão imperialista acabaram corroborando para que essas distorções continuassem e fortalecessem os segmentos burocráticos mais empedernidos do partido. A dinastização do poder é uma deformação claramente burocrática. É um tipo de stalinismo de corte feudalizado ou asiatizado útil para fortalecer os setores da burocracia que hegemoniza o partido.


No entanto, é bom que se diga, existe um núcleo socialista no Estado da República Popular Democrática, e é o que a mantém em pé, mesmo depois da crise econômica que se abateu sobre aquele país. É nessa força que apostamos, é em seu povo que tem consciência que sem o socialismo seria o aprofundamento da pobreza e a perda da autonomia e das conquistas realizadas pelo socialismo.


Há que se avançar, há que se renovar e radicalizar a democracia socialista na Coréia do Norte, temos esperança naquele povo heroico ... tenho certeza que o socialismo vencerá!


(*) Antonio Carlos Mazzeo é  autor de Estado e Burguesia ni Brasil- Origens da Autocracia Burguesa.

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