OS 92 ANOS DO PCB

                                                     

                                             
José Carlos Alexandre            

Nesta terça-feira o PCB comemora 92 anos. Muita luta desde os primeiros encontros no Rio de Janeiro e em Niterói.

Muitas reuniões na clandestinidade, em que se ia ou de olhos vendados ou simplesmente fechados.

Ou em praça pública, auditórios lotados, salas de aulas, centros universitários...

Usando clubes de futebol, igrejas, sinagogas, barracões de favelas ou apartamentos luxuosos do melhor bairro de uma metrópole como locais de reuniões.

Quantas vezes à beira de um córrego?

Um café, um violão, duas garrafas de cerveja, um pouco de arroz e dois ou três quilos de carne podiam fazer ativo dos melhores...

Cada  um tomando um ônibus num ponto, o mesmo coletivo para um bairro distante...

À saída o mesmo ritual. Um ou dois de cada vez...

Indo longe até entrar num ônibus, num táxi ou um carro de um colaborador do Partido...

Quantas histórias...

De épocas distantes, algumas. Muito recentes, relativamente recentes, outras.

Precauções que se faziam necessárias mesmo antes do 1º de abril...

História de encontro  em uma pequena igreja de interior...

Quantas na Igreja São José, para fazer circular a Vovó ( o jornal Voz da Unidade, durante os anos de Chumbo) ou a última circular do CC (Comitê Central do PCB)?

Chuva. Frio. Sol escandante. Que fazer?

A revolução é realmente inume às intempéries, às dores e dificuldades familiares...

Alguns de nós tínhamos ponto "Nas Meninas" ( um barzinho de uma por só, perto do local onde,em 1973, a repressão sequestrou e desapareceu com o camarada Nestor Veras, jornalista, líder camponês, membro da direção nacional do PCB).

Nos fundos de uma tinturaria numa cidade operária, que melhor local para se saber das últimas da luta político-sindical?

Ou mesmo antes de uma roda de samba...

No precário cineminha da antiga Casa Paroquial...

Ah! Quem diria?

Nós comunistas estávamos no comando da Câmara Municipal, na legenda do antigo PSD e éramos os primeiros nas procissões religiosas, erguendo com as opas de Congregados Marianos...

Tudo acontecia aqui, pertinho de BH...

Nossa BH que deu ao Brasil o primeiro prefeito comunista, depois da ditadura: Arutana Cobério Terena...

Ah! Só mesmo o Partidão de histórias sem conta...

Um dia eu sai daqui, entrei num ônibus com destino ao Rio de Janeiro depois de mil voltas na avenida Rio Branco parei em frente a uma banca de revista e fiquei á espera de ouvir uma senha...

Outra: arranco-me numa jardineira pela estrada poeirenta aí pelos lados de Pará de Minas para um encontro com trabalhadores rurais prontos para ouvir as primeiras palavras de ordem sobre a necessidade de sindicalização...

E combino um almoço em pleno sábado de um 25 de março com sindicalistas, maioria de BH, outros do interior e dois ou três até diretores de confederações...

Uma espécie de sondagem para o lançamento do jornal União Sindical que eu dirigiria junto com um membro da direção do Partido e um jornalista e ex-vereador muito conhecido na capital...

Num discurso bastante cuidadoso (não poderia dizer que era aniversário do PCB) deixei aberto o caminho para o lançamento de nosso jornal que cumpriria a tarefa de tentar unir os sindicatos depois de tanto tempo...

Duas, três vezes, talvez mais, eis-me na vanguarda de uma caminhada de mineiros de Nova Lima a Belo Horizonte ...

E fico a recordar-me do dia em que o Partido decidiu comemorar o aniversário da Revolução  de 1917 num contexto em que a Igreja , então reacionária, excomungava o comunismo ateu...

Atos dos quais nem na imaginação participei, devido à minha tenra idade...

Dia em que morreram duas das melhores lideranças operárias e outras escaparam por pouco.

Quantas lembranças da então "Moscouzinha"...

Já me  surpreendi no exterior dando aulas de "impeachment" a professores de universidade norte-americana (época do "Fora Collor" , falando a editores de jornais no Meio Oeste, ou levando recortes com entrevistas de políticos, analistas e parentes do ex-Caçador de Marajás a Los Angeles, durante entrevista a jornais da colônia brasileira)...

E circulando por boa parte de Israel com o keffieh em solidariedade aos palestinos...

O mesmo que usei em Nazaré, em Belém, às margens do Mar da Galileia e mesmo navegando por sua águas e cantando e dançando   Hava Nagila, canção hebraica...

Não, não se trata de nenhum romance ou livro de memórias operárias. São fatos na história de atuação de Partido e de comunistas...

Um aprendendo com o outro.

Saudades de minha infância, em meio a trabalhadores brancos e negros mas todos cobertos de cinza...

Com pulmões quase todo tomado pela poeirinha mortal causadora da silicose...

Mas  trabalhadores valentes que gritam por Luiz Carlos Prestes, que pensam nos pioneiros de 1917 num país longe demais para ser verdade mas que envia o primeiro homem ao espaço...

Um país que peita os EUA, a Grã-Bretanha onde o reinado era tão grande que nele jamais o Sol de punha...

Apóia as novas potências que se libertam do jugo do colonialismo na África, briga por Cuba dos barbudos heróis que jamais tremiam mesmo diante do país mais fortificado do mundo...

Ah! Esses comunas...

Eles vão por aí, fazendo história.

Mesmo como aparentemente  derrotados,perseguidos, torturados, mortos.

Onde estão eles?

Estão no meu sindicato. Estão nas escolas de meus filhos, nas fazendas que nos abastecem ou que garantem os grãos que alimentam o mundo...

Estão, sim,nos templos, nas sinagogas e nas igrejas

Nos centros espíritas e nos teatros.

No cinema, participando de novelas ou como interpretes ou autores e elaborando aulas ou provas a serem usadas nas escolas e universidades ou mesmo nas bancas de advocacia, nas fábricas de todos os tipos.

Entre os funcionários públicos e os aposentados mas sempre pontos para quaisquer tarefas partidárias e de apoio aos movimentos sociais...

Na Imprensa, embora por vezes cabisbaixos, por vezes elevados à direção às melhores editorias.

Eles estão em todos os lugares.

E porque são comunistas, lutam sem parar, incansáveis e jamais derrotados. Um dia, mais cedo ou mais tarde, a conquista final virá.

Com um mundo pleno de paz, de solidariedade, de amor.

Estão no coração de todos os povos da América Latina, do mundo!

Viva os 92 anos do PCB!

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