Esquerda moderada deve eleger o presidente do México no próximo dia 1º de julho

                                                                     
Lopes Obrador é a esperança da Esquerda

Luiz Eça

O Mé­xico aguarda as elei­ções pre­si­den­ciais de 1º de julho, as­so­lado por três pragas: o nar­co­trá­fico, a cor­rupção e Do­nald Trump, o pre­si­dente dos EUA.
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So­li­da­mente im­plan­tados no Mé­xico, os bandos de tra­fi­cantes de tó­xicos já en­fren­taram vá­rios go­vernos, e mesmo até as forças ar­madas, mas con­ti­nuam a dar as cartas em di­versas partes do país, su­bor­nando au­to­ri­dades lo­cais e ma­tando, tanto ri­vais quanto civis ino­centes.

Es­tima-se que o total dos lu­cros da co­mer­ci­a­li­zação de drogas ilí­citas tem va­riado entre 13 e 49 bi­lhões de dó­lares anuais.

A cor­rupção é ge­ne­ra­li­zada, par­ti­cu­lar­mente entre os grupos po­lí­ticos que do­minam o país há muitos anos. Chega a ser con­si­de­rada um ver­da­deiro setor da eco­nomia, cal­cu­lando-se que o total das somas en­vol­vidas equi­vale a 9% do PIB, mais do que o tu­rismo (Le Monde Di­plo­ma­tique, 4 de junho).

Sendo a im­pu­ni­dade total, causa ver­da­deira fúria na mai­oria da po­pu­lação.
O tra­tado do Nafta, em 1996, de co­mércio livre entre o Mé­xico, os EUA e o Ca­nada, trouxe um con­si­de­rável in­cre­mento às ex­por­ta­ções me­xi­canas, com re­flexos be­né­ficos na eco­nomia do país.

Mas The Do­nald é uma sombra ma­ligna. Ele ameaça li­quidar o NAFTA caso não se mudem os termos do tra­tado, pre­ju­di­cando o Mé­xico. O que já vem pe­sando ne­ga­ti­va­mente na eco­nomia me­xi­cana, re­du­zindo o ín­dice de cres­ci­mento, que chegou a ser ne­ga­tivo em fins de 2017.

O go­verno atual do pre­si­dente Peña Nieto, apesar de anun­ciar novos planos para der­rotar o trá­fico, ob­teve re­sul­tados in­sig­ni­fi­cantes. Em 2017, o nú­mero de as­sas­si­nados pelas gan­gues atingiu 25 mil, o mais alto desde os anos 90, quando se co­me­çaram a fazer esses cál­culos (BBC News, 27 de maio).

No pe­ríodo da ad­mi­nis­tração Peña Nieto, a cor­rupção de fi­guras do setor po­lí­tico chegou ao zê­nite.

Os es­cân­dalos se re­pe­tiram. 16 as­ses­sores-sê­nior do pre­si­dente e ex-go­ver­na­dores de es­tados foram alvos de in­ves­ti­ga­ções cri­mi­nais que le­varam al­guns deles à prisão. Ja­vier Du­arte re­cebeu su­bornos no valor de 3 bi­lhões de dó­lares du­rante sua ad­mi­nis­tração de Vera Cruz.

Se­gundo re­centes cál­culos, as fa­mí­lias me­xi­canas gastam em média 14% de seus ren­di­mentos no su­borno de fun­ci­o­ná­rios e au­to­ri­dades pú­blicas.

Mais de 30% das em­presas afirmam que pa­garam pro­pinas para ga­rantir con­tratos com os se­tores da ad­mi­nis­tração; 36,7% ti­veram de fazer o mesmo para con­se­guirem ser li­gadas aos ser­viços de pro­ve­dores de água.

Em março deste ano, con­gres­sistas me­xi­canos, as­sus­tados com as ações da Lava Jato contra a cor­rupção da Ode­brecht no Brasil, vo­taram uma lei proi­bindo que fun­ci­o­ná­rios civis de alto nível (in­clu­sive par­la­men­tares e mem­bros das ad­mi­nis­tra­ções pú­blicas) fossem su­jeitos a pro­cessos cri­mi­nais por en­ri­que­ci­mento ilí­cito.

Até a jus­tiça elei­toral deu um mau passo, quando seu tri­bunal aprovou a can­di­da­tura de Ro­dri­guez Cal­derón, go­ver­nador de Nuevo Leon, apesar de 58% das as­si­na­turas ne­ces­sá­rias ao re­gistro serem cla­ra­mente fal­si­fi­cadas.

Jus­ti­fi­cando-se, um dos juízes pon­ti­ficou: “As re­gras es­pe­ci­ficam um certo nú­mero de as­si­na­turas, elas não dizem que devem ser le­gí­timas (El País, 12 de abril)”.

Se­gundo es­ti­ma­tivas, as fa­mí­lias me­xi­canas gastam em média 14% dos seus ren­di­mentos no su­borno de au­to­ri­dades e altos fun­ci­o­ná­rios. Mais de 30% das em­presas afirmam que têm pa­gado pro­pinas para ga­rantir con­tratos com o setor pú­blico; 36% para con­se­guirem ser li­gadas aos prin­ci­pais pro­ve­dores de água.

Os can­di­datos pre­si­den­ciais dos dois mai­ores par­tidos (PRI e PAN) pa­recem ser mais do mesmo.

Meade, do po­pu­lista PRI (Par­tido Re­vo­lu­ci­o­nário Ins­ti­tu­ci­onal), can­di­dato apoiado por Peña Nieto, é acu­sado de en­ri­que­ci­mento ilí­cito e Anaya, do con­ser­vador PAN (Par­tido de Ação Na­ci­onal), mar­cado por grande nú­mero de fraudes.

Ambos car­regam ainda pe­sados fardos que obs­ta­cu­lizam sua cor­rida pre­si­den­cial.

Além da gestão mal­vista de seu apoi­ador, Peña Nieto, Anaya tem contra si o fato de ser um dos che­fões do PRI.

Essa facção go­vernou o Mé­xico du­rante 71 anos inin­ter­ruptos, entre 1929 e 2000, um re­corde no con­ti­nente.

Foi fun­dado como Par­tido Na­ci­onal Re­vo­lu­ci­o­nário, de­pois Par­tido da Re­vo­lução Me­xi­cana e fi­nal­mente Par­tido Re­vo­lu­ci­o­nário Ins­ti­tu­ci­onal (PRI).

Ini­ci­al­mente, era um par­tido de es­querda, in­te­grante da In­ter­na­ci­onal So­ci­a­lista.

Nesse tempo, na­ci­o­na­lizou muitas em­presas, criou pro­gramas so­ciais e or­ga­ni­za­ções pro­fis­si­o­nais, for­te­mente li­gadas ao go­verno.

Aos poucos se afastou das suas ori­gens, apro­xi­mando-se de em­presas e ado­tando pos­turas ne­o­li­be­rais e di­rei­tistas. Nos anos 50 já era um par­tido de centro-di­reita, em­bora po­pu­lista.

Formou-se uma bu­ro­cracia cor­rupta que ins­ti­tuiu um sis­tema de su­bornos que es­pa­lhou a cor­rupção por todos os se­tores do país.

Go­ver­nando aliado a grupos em­pre­sa­riais fa­vo­re­cidos, o PRI ga­rantiu-se no poder através de elei­ções frau­dadas.

Mas a po­pu­lação foi to­mando cons­ci­ência cada vez maior da es­po­li­ação que vinha so­frendo e, nas elei­ções de 2000, re­voltou-se contra o PRI, ele­gendo o con­ser­vador Vi­cente Fox, do PAN. Nas se­guintes elei­ções, em 2006, apesar da de­si­lusão que já se sentia, con­ti­nuou a dar chance ao PAN e elegeu Fe­lipe Cal­derón.

O fra­casso do PAN na guerra contra as drogas, que fora uma das bases do seu pro­grama elei­toral, a con­ti­nu­ação da cor­rupção, as no­tó­rias li­ga­ções com ho­mens de ne­gó­cios e os al­tís­simos ín­dices de po­breza nas ges­tões do par­tido en­fra­quecem Anaya, seu can­di­dato nas elei­ções de 1 de julho.

Para su­ceder a Cal­derón, os elei­tores trou­xeram de volta o PRI, com Peña Nieto.

Apa­ren­te­mente, a mai­oria ab­so­luta da nação per­cebeu que foi uma má ideia.
De­pois de quatro anos do go­verno Peña Nieto, seu PRI foi cha­mado de sím­bolo da cor­rupção no Mé­xico, por 83% dos res­pon­dentes, em pes­quisa re­a­li­zada em se­tembro de 2016.

O Blo­om­berg con­si­dera o PRI um au­tên­tico “zumbi (a dead man wal­king)”.

Lopez Obrador co­meçou sua car­reira po­lí­tica no PRI, mas saiu do par­tido em 1996, como toda a ala es­querda, que criou o PRD (Par­tido Re­vo­lu­ci­o­nário De­mo­crá­tico).

Eleito pre­feito da Ci­dade do Mé­xico, em 2002, dis­tin­guiu-se por seus pro­gramas so­ciais, in­clu­sive de ajuda fi­nan­ceira a grupos vul­ne­rá­veis como mães sol­teiras, idosos e fí­sica ou men­tal­mente pre­ju­di­cados. Também teve su­cesso seu pro­grama de to­le­rância zero que re­duziu sen­si­vel­mente as es­ta­tís­ticas de cri­mi­na­li­dade na ci­dade.

Can­di­datou-se a pre­si­dente em 2006, per­dendo por 0,56% dos votos. Foi uma eleição pro­va­vel­mente rou­bada, pois, na vés­pera do pleito, Obrador apre­sen­tava uma con­sis­tente van­tagem sobre seu con­tendor do PAN, Vi­cente Fox.

Obrador não aceitou o re­sul­tado e du­rante vá­rios meses pro­moveu cam­panha para re­con­tagem de votos, que chegou a contar com cen­tenas de mi­lhares de ma­ni­fes­tantes na Ci­dade do Mé­xico.

Mas o Tri­bunal Elei­toral negou-se a atendê-lo. Obrador não de­sistiu.

Re­can­di­datou-se em 2012, sendo no­va­mente der­ro­tado, desta vez pelo PRI.
Na oca­sião, foi de­nun­ciado que o ven­cedor dis­tri­buiu grande nú­mero de prê­mios para os elei­tores em di­versas re­giões.

Per­sis­tente, Obrador fundou o Mo­rena (Mo­vi­mento de Re­ge­ne­ração Na­ci­onal) e voltou a se can­di­datar pela ter­ceira vez, agora nas elei­ções de 1º de julho de 2018.

Desta vez o povo per­dera a con­fi­ança nos po­lí­ticos tra­di­ci­o­nais, com suas re­pu­ta­ções sujas por de­nún­cias de cor­rup­ções dos mais va­ri­ados tipos.

Obrador foi bem aceito es­pe­ci­al­mente pelo fato de não haver uma única acu­sação de cor­rupção contra ele, ao con­trário dos seus con­cor­rentes.

Além de con­si­de­rado in­cor­rup­tível, ele é apro­vado pela sua de­fesa das causas dos po­bres e fir­meza na luta contra o crime – pro­vadas in­clu­sive na sua gestão na pre­fei­tura da Ci­dade do Mé­xico.

Entre as pro­postas de sua cam­panha estão ajuda fi­nan­ceira para es­tu­dantes e idosos; acesso uni­versal aos co­lé­gios pú­blicos; re­fe­rendo sobre o fim do mo­no­pólio da PEMEX – em­presa es­tatal de pe­tróleo – pro­mo­vido pelo go­verno an­te­rior; forte es­tí­mulo à agri­cul­tura, com o ob­je­tivo de elevar a pro­dução aos ní­veis de 1960, quando o Mé­xico pro­duzia quase tudo que con­sumia, até mesmo apa­re­lhos do­més­ticos; en­frentar as causas so­ciais da vi­o­lência; elevar os sa­lá­rios; cons­truir mais re­fi­na­rias; re­duzir os sa­lá­rios dos que ocupam cargos po­lí­ticos e au­mentar as des­pesas em bem estar so­cial.

Para vencer a re­sis­tência dos em­pre­sá­rios, Obrador tem ga­ran­tido que no seu go­verno não ha­verá “nem con­fiscos, nem ex­pro­pri­a­ções, nem na­ci­o­na­li­za­ções”.

Em­bora em parte dessa classe Obrador con­tinue sendo visto como um pe­ri­goso po­pu­lista de es­querda, o Fi­nan­cial Times ob­serva que “ele não é te­mido como muitos pensam (24 de ja­neiro)”.

Na ver­dade, ele re­pre­senta uma nova es­querda, mo­de­rada e ob­je­tiva, não guiada por prin­cí­pios que já se en­con­tram da­tados.

Daqui a poucas se­manas, o Mé­xico fi­cará sa­bendo quem é seu novo pre­si­dente.

Os ob­ser­va­dores ga­rantem que só um tsu­nami im­pe­dirá Obrador de vencer.
Os nú­meros de re­cente pes­quisa falam por si.

En­quanto o can­di­dato do MO­RENA tem 48% das in­ten­ções de votos, Ri­cardo Anaya do PAN tem 28% e, José An­tonio Meade, do PRI apenas 19% (EL Pais, 3 de junho).

Como se vê, Obrador con­segue ín­dice su­pe­rior à soma dos ou­tros dois ad­ver­sá­rios juntos.

En­quanto isso, as pers­pec­tivas na eleição dos novos par­la­men­tares são fa­vo­rá­veis ao MO­RENA. Em­bora tenha ga­nhado apenas 35 dos 500 as­sentos no par­la­mento me­xi­cano, al­gumas pes­quisas in­dicam que o par­tido de Obrador e os seus ali­ados devem con­quistar a mai­oria no par­la­mento.

Obrador eleito de­verá contar com amplo apoio do Le­gis­la­tivo para res­paldar suas ações.

Uma das mais di­fí­ceis será en­carar o pre­si­dente Trump. The Do­nald vem in­sis­tindo para que o Mé­xico pague pelo muro da fron­teira e aceite mo­di­ficar o NAFTA, em pre­juízo do Es­tado me­xi­cano.

Es­pera-se de Obrador fir­meza e também ma­tu­ri­dade para lidar com o pre­si­dente norte-ame­ri­cano.

In­fe­liz­mente, estas qua­li­dades faltam ao su­cessor de Obama. Até agora, ele jus­ti­fica a cé­lebre frase do pre­si­dente Por­fírio Dias, de 100 anos atrás:
“pobre Mé­xico, tão longe de Deus e tão perto dos Es­tados Unidos”.

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(Com o Correio da Cidadania)

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