Catorze países europeus participaram, segundo as informações da APCE, da criação de prisões secretas dos EUA. Mas, somente num deles o caso chegou aos tribunais. Zbigniew Sementkovsky, ex-chefe do serviço de inteligência polonês, foi acusado de organizar uma prisão ilegal da CIA no território de seu país.
Uma acusação análoga pode ser apresentada também ao ex-premier Leszek Miller. Outros países da União Europeia fizeram caso omisso deste tema.
A Europa não gosta de lavar sua roupa suja à vista de todos. As informações que denigrem os “campeões da justiça” europeus estão sendo escondidos da população, diz Ievgueni Voiko, perito do Centro da Conjuntura Política da Rússia, e continua:
"Os líderes dos países da UE posicionam-se como políticos extremamente sensíveis em relação ao problema das liberdades e dos direitos humanos. Via de regra, é precisamente aquilo que eles exigem de outros países.  Por isto, para os países da EU, tornar pública a informação sobre as prisões da CIA significaria perder a face. Tanto mais que a Europa não está vivendo, hoje, seus melhores momentos".
Para falar verdade, a UE é incapaz de resolver ela própria este problema. Não foi ontem que apareceram as informações sobre a existência, na Europa, de prisões secretas da CIA, onde indivíduos suspeitos de terrorismo eram não só mantidos mas, às vezes, também torturados. Já em setembro de 2006, o presidente dos EUA, George Bush, confirmou sua existência. Hoje em dia, a opinião pública possui seus endereços concretos, nomeadamente na Lituânia, Romênia e Polônia. São conhecidos também aeroportos na Finlândia, Dinamarca e Noruega, que participaram do programa de transporte dos reclusos da CIA. Na Lituânia, o assunto parou na etapa de instrução pré-judicial, enquanto que os escandinavos nem a iniciaram. Somente a Polônia não só reconheceu a existência de laços com a CIA  mas também encontrou os culpados de várias pessoas terem sido mantidas ilegalmente no território polonês e sujeitas a castigos corporais.
As acusações foram apresentadas ao ex-chefe do serviço de inteligência Zbigniew Sementkowsky, já em janeiro de 2012. Mas este fato só se soube agora, diz o cientista políticopolonês Zygmund Dzentcholowski:
"Perdemo-nos em conjeturas, evidentemente. Foi uma fuga de informação do Ministério Público. Mas compreendemos que fugas deste gênero se organizam por certas razões políticas. A história da prisão da CIA na Polônia provocou a indignação da sociedade. Está claro que os EUA são nosso aliado na Aliança Atlântica e que o combate ao terrorismo é uma prioridade. No entanto, para a maioria da sociedade polonesa é inaceitável dar a um aliado a possibilidade de torturar seus prisioneiros no território do nosso país. E a sociedade exigiu que fosse encontrado o responsável por isso. Por outro lado, o barulho em torno deste caso pode ser uma tentativa do partido governante Plataforma Cívica de encobrir outros casos pouco escrupulosos como, por exemplo, a reforma do sistema de aposentadorias".
A investigação deste caso continua desde 2008, já que os serviços secretos fornecem as informações a este respeito com muitas reticências. Por isto, não adianta esperar uma conclusão rápida deste processo. Mas, por outro lado, Varsóvia já não poderá abafar este caso, considera Aleksei Mukhin, diretor-geral do Centro da Informação Política.
"Não restam dúvidas de que haverá processos penais, porque os poloneses devem levar até o fim os casos iniciados. De contrário, esta iniciativa carecerá de sentido. É pouco provável, porém, que estes processos sirvam de precedente para outros países".
Parece, pois, que problemas de imagem são mais importantes para países europeus do que os valores democráticos, conclui o perito.


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