Cidadãos de Israel realizam manifestações e passeatas contra um possível ataque militar que o governo israelense ameaça fazer ao Irã

                                                       
23/08/2012

Baby Siqueira Abrão (*)

Correspondente no Oriente Médio

Na noite de quinta-feira (23), manifestações em várias cidades de Israel mostraram a oposição dos israelenses a um possível ataque militar ao Irã, que o governo sionista ameaça lançar no final de outubro. Às 18h30 os manifestantes vão se reunir na frente do Ministério da Defesa, na rua Kaplan, em Tel Aviv, portando lenços brancos e coloridos. De lá, eles seguirão para a casa de Ehud Barak, ministro da Defesa, onde, às oito horas da noite, vão se reunir aos participantes da vigília diária contra a guerra, realizada desde a semana passada em frente à residência do ministro, na esquina da rua Ibn Gabirol com a avenida Shaul Hamelech.

Manifestações semelhantes acontecerão às 19h em Haifa (em Merkaz HaCarmel), às 18h em Jerusalém, em frente à casa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e até mesmo em Hiroshima, no Japão, onde grupos antinucleares estão reunidos em conferência internacional.

Os organizadores do protesto, intitulado Stop de War (“Pondo fim à guerra”, em tradução livre), elaboraram um manifesto, traduzido pela reportagem de Brasil de Fato:

“[Benjamin] Netanyahu e [Ehud] Barak estão levando a população de Israel e de toda a região [do Oriente Médio] a uma guerra cujos riscos e severidade podem se revelar absolutamente sem precedentes.

Netanyahu e Barak quebram todos os recordes de aventureirismo político e militar ao colocar os cidadãos de Israel, judeus e árabes, sob risco de destruição.

O perigo é realmente terrível – mas está longe de ser inevitável. É essencial, e ainda possível, evitar essa guerra. Nessa hora crucial conclamamos a todos os partidos de oposição, aos políticos, intelectuais, acadêmicos e jornalistas, movimentos e grupos da sociedade israelense, e até mesmo os elementos sensatos das instituições políticas e militares, a atuar em conjunto contra as preparações para a guerra. Todos devemos agir no sentido de criar uma ampla mobilização de ação pública contra a guerra.

Conclamamos a esquerda e outras forças progressistas, da região e do mundo, a levantar uma voz forte em oposição a essa guerra. Protestos de massa devem ser iniciados para mobilizar a opinião pública e os governos mundiais contra a guerra que Netanyahu e Barak planejam empreender contra o Irã.

Não são agressões nem guerras horríveis de aniquilação que irão assegurar o futuro dos povos da região, incluindo os cidadãos de Israel. Muito ao contrário, a segurança de nosso futuro depende de uma paz ampla e estável no Oriente Médio, cujo centro seria a paz entre Israel e Palestina”.

Pesquisa divulgada em 16 de agosto pelo Israel Democracy Institute e o Tel Aviv University's Evens Program in Mediation and Conflict Resolution mostrou que a maioria dos israelenses (61%) se opõe à guerra ao Irã, e que 56% pensam que são remotas as chances de Israel atacar o país islâmico sem a ajuda dos EUA. Altas autoridades que chefiaram os serviços secretos israelenses, como Mossad e Shin Bet, também se opõem ao ataque. E na semana passada uma carta aberta de acadêmicos e intelectuais pediu aos pilotos da força aérea que desobedeçam às ordens de atacar o Irã, argumentando que esse seria o verdadeiro patriotismo, pois evitaria a perda de milhões de vidas.

A verdade é que, militarmente, Israel não tem força para bancar uma guerra sozinho. Os jovens soldados de seu exército, acostumados a atacar e a matar cidadãos pacíficos e desarmados como os da Palestina, não são capazes de vencer forças militares como as do Irã. Quando confrontados com o Hezbollah, no Líbano, foram vencidos e obrigados a voltar para casa – muitos deles aos prantos. Adolescentes, vários, também choram quando os palestinos os enfrentam com argumentos [como a reportagem de Brasil de Fato presenciou inúmeras vezes].

Netanyahu planeja atacar o Irã pouco antes das eleições estadunidenses para obrigar os Estados Unidos a lhe dar retaguarda, algo que o governo Obama se recusa a fazer atualmente. O primeiro-ministro israelense calcula que Obama não desejará perder votos e dinheiro dos judeus sionistas e, por isso, entrará na guerra ao lado de Israel – única chance de os sionistas tentarem vencer o Irã e seus aliados manifestos, como os países árabes, a Rússia e a China. Caso Obama rejeite o apoio, Netanyahu espera contar com a vitória do republicano Mitt Romney, que em recente visita a Israel prometeu atacar o Irã junto com o exército sionista.

Sem a ajuda dos EUA, Israel não vence o Irã, a menos que use algumas de suas 300 ogivas nucleares. Com o apoio estadunidense, Netanyahu pode provocar uma guerra catastrófica, com o envolvimento de diversos países, a morte de milhões de pessoas, gastos militares que ninguém deseja fazer em meio a uma crise econômica internacional e o uso de armas de destruição de massa.

De um modo ou de outro, as consequências serão trágicas. Não admira, portanto, que a popularidade de Netanyahu tenha caído aos piores índices desde que ele assumiu o cargo de primeiro-ministro. Uma guerra, como indicam as pesquisas e as manifestações dos israelenses, não o levará à reeleição, como ele imagina. Provavelmente, encerrará com uma enorme mancha sua controversa carreira política.

(*) Baby Siqueira Abrão é correspondente no Oriente Médio

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