"NUNCA NOS ILUDIMOS COM O PT"

                                                                    


Vinícius Amaral

Filha de dois ícones históricos da esquerda no Brasil, Luiz e Olga, a historiadora Anita Leocádia Prestes deixa claro a sua insatisfação com a situação atual do país e também com a própria esquerda: “Através das eleições não será possível avançar no processo de emancipação social e nacional do nosso povo”.

GRR: O Brasil passa por um momento de prosperidade construída pela campanha eleitoral. A situação insiste em demonstrar que o país esta crescendo e a oposição tenta contradizer tudo. Em o que devemos acreditar?

Anita: Penso que devemos ver a realidade; esta transpareceu durante as manifestações populares do ano passado – insatisfação generalizada.

GRR: Conhecemos a luta da senhora no movimento comunista. Porém esses partidos sofrem com o pouco espaço dado pela mídia para trabalhar as suas propostas.  Isso impede que boas propostas sejam levadas a população. Como driblar essa censura?  

Anita: Conforme o legado de Luiz Carlos Prestes, somente a organização popular em torno da luta pelas reivindicações dos diferentes setores dos trabalhadores e das massas populares poderá modificar tal situação.



GRR: A Presidenta Dilma Rouseff, do Partido dos Trabalhadores (PT) veste a figura de uma legenda com ideias socialistas, porém já demonstrou que quando esta no poder a ideologia vira prioridade secundário.  Como a senhora enxerga o PT? 

Anita: Luiz Carlos Prestes e os comunistas que nos alinhamos com suas posições revolucionárias nunca nos iludimos com o PT. Basta consultar a imprensa dos anos 1980. 

GRR: Chegou a acreditar que os candidatos deste partido (PT) poderiam levar a luta socialista para o Brasil? 

Anita: Jamais.

GRR: A candidata Marina Silva, hoje, no Partido Socialista Brasileiro (PSB) tentou fundar outra legenda, que segundo ela não seria de esquerda, nem direita etc. Nesta eleição ela chegou a afirmar que gostaria de trabalhar com candidatos da direita. Esse tipo de discurso contribui para o descrédito da população para a ideologia socialista? 

Anita: Contribui para confundir e mascarar os verdadeiros objetivos dessa candidata.

GRR: Existe algum partido no Brasil que a senhora encontre uma liderança real do socialismo ou comunismo?

Anita: Não.

GRR: Como fazer uma revolução comunista nos dias de hoje? 

Anita: De imediato não há condições para tal. A luta pela revolução socialista constitui um processo longo e complexo, para o sucesso da qual é necessário criar as condições.

GRR: A senhora tem mantido contato com algum partido de esquerda? 

Anita: Tenho amigos no PCB, mas não pertenço a nenhum partido nem tenho compromisso político com nenhum partido.

GRR: A senhora já tem seus candidatos? Se sim, poderia nos dizer? 

Anita: O voto é secreto e, na minha opinião, na atual situação presente no Brasil, através das eleições não será possível avançar no processo de emancipação social e nacional do nosso povo. Para tal, é necessário, como dizia L.C.Prestes, privilegiar a organização, a mobilização e a conscientização dos diferentes setores populares. Será nesse processo de luta que surgirão lideranças populares autênticas, capazes de se unirem, organizarem partidos verdadeiramente revolucionários e conduzirem os trabalhadores brasileiros rumo à revolução socialista.

GRR: A senhora é filha de duas figuras importantes da história do Brasil, quiçá da Europa. Como manter viva a memória de seus pais nos dias de hoje? 

Anita: Apesar do boicote promovido pelas classes dominantes, tenho procurado, na qualidade de historiadora e de comunista, contribuir para que a memória de Prestes e Olga seja conhecida pelas novas gerações. É fundamental a colaboração de todos aqueles que consideram isso importante. O Instituto Luiz Carlos Prestes, do qual sou presidente, tem um sítio na internet, que atua nesse sentido.

GRR: Como foi sua educação sem Prestes e nem Olga ao seu lado? 

Anita: Embora não tenha lembrança alguma da minha mãe, fui criada pela minha avó paterna Leocadia e minha tia Lygia conhecendo e admirando a história dos meus pais. Na infância tive apenas dois anos de convivência com meu pai, mas a partir dos 21 anos estive sempre perto dele, participando ativamente da sua vida política e funcionando, inclusive, como sua assessora.


(*) Vinícius Amaral é colaborador do Guerrilha GRR, e repórter pelo jornal Diário de Suzano. (Com a revists GGR.Os grifos são meus, José Carlos Alexandre)

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