Tereza Crunivel, Paulo Moreira Leite e Sidney Rezende deixam EBC após quebra de contrato

                                                                 
Desde a posse do presidente interino Michel Temer (PMDB) em 12 de maio, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passou por diversas mudanças. A primeira delas resultou na exoneração do jornalista Ricardo Melo, que ocupava o cargo de presidente da empresa, que tinha assumido o posto em 3 de maio, nomeado por Dilma Rousseff. Ele foi substituído por Laerte Rímoli.

Entre as mudanças das nova diretoria estão a quebra de contrato dos jornalistas Sidney Rezende, Paulo Moreira Leite e Tereza Crunivel. Os três foram comunicados de que não prestariam mais serviços à estatal através de comunicado interno, sem nenhuma conversa prévia anterior.

À IMPRENSA, Tereza, que implantou e presidiu a EBC por quatro anos, afirmou que é “flagrante" seu afastamento como retaliação ao fato de ter se posicionado publicamente contra a exoneração de Ricardo Melo. "Não procede o argumento de mudança na programação, porque o programa em que eu atuava como entrevistadora, o "Palavras Cruzadas", vai continuar sem mim. 

A alegação de contenção de despesas também não se sustenta. Contratos de valor muito superior ao meu, com profissionais que atuam em outros programas, estão sendo mantidos. Então, se a razão é política, é perseguição, é macarthismo, algo absolutamente incompatível com a conduta de uma empresa de comunicação publica”.

A jornalista observa que, em 2007, à época em que implantou a empresa, a diretoria adotou como princípio sustentar a pluralidade de opiniões na programação e não tomar decisões como motivação político-ideológica. "O que está acontecendo é o inverso disso [...] Muitas pessoas, fala-se em dezenas, que ocupam cargos comissionados estão sendo exoneradas porque são consideradas 'petistas' ou ligadas ao governo anterior", acrescenta. 

Sidney Rezende, o primeiro dos três a ser afastado, se disse surpreso com a suspensão de seu contrato. "Fiquei sabendo pela imprensa na sexta-feira. Ninguém falou comigo. Ninguém me ligou", disse ele, que estreou o programa "Nacional Brasil" no último dia 4 de maio e cuidou da programação matinal da emissora.

Após ver as reportagens que noticiavam o rompimento contratual, Rezende enviou um telegrama para a direção da EBC, na tentativa de confirmar a suspensão. O jornalista recebeu a resposta apenas na última segunda (23/5), em uma carta assinada pelo novo diretor-presidente, Laerte Rímoli.

"Representada por seu Diretor Presidente, considerando a mudança de gestão desta Empresa e as severas restrições orçamentárias vivenciadas pela Administração, comunica a Vossa Senhoria a suspensão, por até 120 dias, a contar desta data [...] tendo como consequência a imediata suspensão do cumprimento do objeto pactuado, até que seja avaliada a viabilidade da manutenção contratual", diz um trecho do documento.

O jornalista, que deixou a GloboNews em novembro de 2015, negou que receberia R$ 1 milhão por ano. "Rechaço isso. Não é verdade". O valor publicado no Diário Oficial da União foi de R$ 507.400. Ele destaca que sempre defendeu a pluralidade. "Fui lá fazer jornalismo isento". 

Rezende negou ainda que sua contratação gerou "desconforto" entre os funcionários. A produtora do programa, Fátima Bonfim, confirma. "Ele é uma pessoa do bem e superou minhas expectativas. Fiquei triste com a saída dele. Nós é que perdemos".

O apresentador Paulo Moreira Leite, que estava há dois anos à frente do "Espaço Público", na TV Brasil, acredita que a atração procurou mostrar ao telespectador um ponto de vista que as demais emissoras de TV não oferecem. "Enquanto há um pensamento único, o Espaço Público expressava o ponto de vista de milhões de brasileiros que jamais se sentiram representados pela televisão. Isso é uma novidade política. Ele e outros programas da TV Brasil estavam contribuindo para aumentar o grau de democracia da comunicação, o que gerou essa reação".

Como Rezende, o jornalista também foi informado por comunicado, assinado por Rimoli. "Não existiu nenhuma conversa, explicação", relata. "Dizia que eu deveria cessar minhas obrigações previstas no contrato”.

A direção da EBC enviou um comunicado à IMPRENSA para explicar a suspensão do contrato com os jornalistas, alegando que a estatal passa por um processo de reformulação, onde reavalia todos os contratos, diante da severa restrição orçamentária. Confira na íntegra:

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) está iniciando um processo de reformulação que inclui a reavaliação de todos os contratos com Pessoas Jurídicas, em razão do levantamento preliminar que já aponta déficit em torno de R$ 60 milhões no caixa da EBC.

Diante do quadro de severa restrição orçamentária, a nova direção da EBC decidiu suspender alguns contratos por 120 dias, até que seja melhor definido o tamanho do esforço financeiro necessário para adequar a empresa ao ajuste fiscal que a crise econômica impõe ao conjunto do governo Federal.

Só o contrato com a produtora e o apresentador do programa semanal Espaço Público, do jornalista Paulo Moreira Leite, por exemplo, custa à EBC cerca de R$ 570 mil anuais.

Neste primeiro momento, estão sendo suspensos sete contratos com Pessoas Jurídicas, no valor global de cerca de R$ 3 milhões/ano, enquanto a direção reavalia  a viabilidade de a empresa manter tais compromissos financeiros.

Procuradas, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI) avaliam os casos e não quiseram comentar.

(Com o Portal Imprensa)

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