China e Rússia exibem unidade

                                                                     
Em cúpula de organização euroasiática, Putin e Xi Jinping defendem cooperação global e alertam contra unilateralismo e protecionismo. Diferente de encontro no Canadá, nenhuma desavença ficou evidente em Qingdao.

    Enquanto a cúpula do G7 no Canadá terminou em amarga discordância, os líderes de China, Rússia e outras nações asiáticas demonstraram unidade neste domingo (10/06), no segundo dia de reuniões da Organização para Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), na cidade chinesa de Qingdao.

Em possível alusão a ações recentes do presidente americano, Donald Trump – como a imposição de tarifas e a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã –, o presidente da China, Xi Jinping, advertiu que "o unilateralismo, o protecionismo comercial e uma revolta contra a globalização estão assumindo novas formas".

Em discurso, o anfitrião do encontro ainda falou da necessidade de os governos buscarem "a cooperação para benefício mútuo". "Devemos rejeitar políticas autocentradas, míopes e que fecham portas", afirmou Xi, cujo próprio país foi acusado de restringir o amplo acesso de empresas estrangeiras ao seu imenso mercado.

Enquanto Pequim negocia com Washington para tentar evitar uma guerra comercial, Xi reforçou que as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o sistema multilateral de comércio devem ser mantidos para construir uma economia mundial aberta.

"Devemos rejeitar a mentalidade da Guerra Fria e o confronto entre os blocos, além de nos opor à prática de buscar segurança absoluta para si mesmo às custas dos outros", acrescentou o líder chinês, em mais uma aparente referência aos EUA, embora não tenha mencionado o país.

Além de China e Rússia, a SCO também inclui nações como Índia, Paquistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Outros países, como Bielorrússia, Mongólia e Irã, participaram das reuniões como observadores, ao lado de vários outros parceiros.

Neste fim de semana, o presidente chinês ofereceu aos líderes indiano e paquistanês uma "saudação especial" em razão de sua primeira participação na cúpula da SCO, depois de seus países terem ingressado no grupo no ano passado.

Em discurso aos demais líderes, o presidente russo, Vladimir Putin, também saudou a inclusão de Índia e Paquistão, afirmando que, com os dois países, a organização "se tornou ainda mais forte".

                                                                      
Líderes da Índia, Quirguistão, Tajiquistão, Rússia, China, Cazaquistão, Uzbequistão e Paquistão

Nenhuma desarmonia ficou evidente durante a cúpula de dois dias em Qingdao – embora alguns membros da SCO acumulem suas divergências, incluindo preocupações da Índia com o projeto de infraestrutura comercial da China em território disputado no Paquistão. Pequim e Nova Déli tiveram sua própria disputa de fronteiras no Himalaia no ano passado.

O presidente chinês elogiou a cooperação em segurança – o mote original da SCO – dentro do grupo, e anunciou que a China abrirá uma linha de crédito especial de cerca de 4,7 bilhões de dólares dentro do consórcio interbancário do bloco.

Putin, por sua vez, destacou que o comércio e os investimentos entre as nações da organização estão crescendo, e informou que China e Rússia devem propor uma parceria econômica euroasiática a todos os países-membros do grupo.

Diante do presidente iraniano, Hassan Rouhani, o líder russo ainda reforçou o apoio de Moscou ao acordo nuclear com o Irã – assinado em 2015 com China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha –, recentemente abandonado por Trump.

Segundo Putin, a saída dos EUA do pacto internacional "pode desestabilizar ainda mais a situação". Ele reiterou que a Rússia é a favor da "implementação incondicional" do acordo.

Rouhani, por sua vez, afirmou que o "esforço dos EUA para impor suas políticas a outros países é um perigo crescente". O líder iraniano lembrou que Washington está monitorando a reação global à sua retirada do pacto, e uma resposta fraca encorajaria Trump a continuar atuando unilateralmente. Segundo ele, isso teria "muitas consequências para a comunidade internacional".

Discórdia no G7

A demonstração de unidade em Qingdao contrastou com o fim turbulento da cúpula dos países industrializados do G7 em La Malbaie, no Canadá, que culminou com Trump retirando seu apoio à declaração conjunta emitida pelas sete nações participantes, mais União Europeia.

Durante os dois dias de reuniões, que terminaram neste sábado, o presidente americano ainda se recusou a assinar um acordo conjunto sobre mudanças climáticas e não cedeu em relação às tarifas à importação de aço e alumínio impostas a cinco dos seis países parceiros do G7.

Após a cúpula, Trump tachou o anfitrião do encontro, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, de "desonesto", e ouviu críticas de seus aliados por ter retirado o endosso de Washington à declaração conjunta, em que os líderes se comprometeram a combater o protecionismo.

Putin reage a críticas

Em resposta às críticas à Rússia presentes no comunicado final do G7, Putin afirmou a repórteres que o grupo deveria "parar com esse balbucio criativo e se voltar para questões concretas relacionadas a uma real cooperação".

O presidente russo ainda aproveitou para cutucar o grupo das principais democracias industrializadas, dizendo que o poder de compra combinado da SCO supera o do G7.

Em sua declaração, o G7 incluiu exigências para que Moscou pare de minar as democracias ocidentais, e evitou mencionar a proposta de Trump para que a Rússia volte a fazer parte do grupo, do qual foi expulsa em 2014 após a anexação da Crimeia. Entre os líderes, apenas o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, demonstrou apoio à causa.

Após o aceno de Trump, Putin afirmou que gostaria de marcar uma reunião com o presidente americano "assim que os Estados Unidos estiverem prontos". Em declarações na cúpula da SCO, ele disse que vários países, incluindo a Áustria, manifestaram interesse em sediar o encontro.

(Com a Deutsche Welle)

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